[the_ad id="288653"]

Os gatos pingados e os carregadores de piano

por Luiz Alves Lopes (*)

Nos bons tempos da política brasileira, em que se notabilizaram os chamados ‘comícios’, às vezes frustrações ocorriam em decorrência de diminuto público que comparecia a determinadas ocasiões. Frustrações à parte, isso dava asno a expressão ‘gatos pingados” como a rotular a pequena frequência.

Clubes de futebol bem arrumados, especialmente no passado do verdadeiro futebol das multidões, quando atletas permaneciam em um mesmo clube por anos e anos, era comum a expressão ‘carregador de piano’, atribuída a determinados médios volantes ou centro-médios, pelo equilíbrio que proporcionavam a suas equipes.

Partindo para o mundo real – o futebol rotulado pela desigualdade sintetiza um mundo irreal -, comumente se encontram em vários segmentos sociais, religiosos e tantos outros, e com predominância também na vida pública, os famigerados personagens tidos e havidos como ‘gatos pingados’ ou ‘carregadores de pianos’.

Na hora do bom e do melhor, quando os resultados são positivos, lá estão os magnatas, os notáveis, os falantes, os politicamente corretos, a receberem elogios, congratulações. Quase sempre com microfones à disposição, enaltecem feitos que não realizaram sozinhos ou, às vezes, nos quais sequer tiveram alguma participação.

Ao contrário, nos momentos adversos, de dificuldades e sofrimentos inerentes à vida mundana a que todos estamos sujeitos e que se aplicam às pessoas físicas e jurídicas, públicas e privadas, lá estão os mais simples, os mais comprometidos e os mais interessados, sempre dispostos a estender as mãos na busca de soluções ou mesmo de minimizar sofrimentos e adversidades. Heróis anônimos. Não pousam para as fotos.

No mundo selvagem em que vivemos agravam-se demandas e desigualdades. Em sentido inverso, há drástica redução do número daqueles que atendem ao chamamento para se alinhar ao diminuto batalhão de pessoas sensíveis e receptivas ao trabalho voluntário.

Constituição Federal, constituições estaduais, leis orgânicas dos municípios, estatutos os mais diversos e legislação esparsa, estão todos aí a desafiar os agentes políticos, lideranças de todo o tipo, entidades de classe e o cidadão comum. Pouquíssimos sequer conhecem conteúdo e enunciados básicos de tais institutos. Não tiveram e continuam não tendo tempo…

É para ser refletido: “São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo…”(Vocação Pe. Zezinho). Há quem diga que tempo é questão de preferência. Aliás, Geraldo Vandré completa com sabedoria: “…quem sabe faz a hora não espera acontecer”.

Pois é, minha gente do mundo esportivo e de curiosos outros: há coisas e coisas acontecendo em Governador Valadares e coisas e coisas não acontecendo na mesmíssima Governador Valadares.

Como vivemos? Como interagimos? De que participamos? Qual é o nosso olhar para a terra de Serra Lima? Quais, dentre tantas, as maiores demandas e desafios da cidade que já foi Princesa? Conhecemos algum projeto interessante? Estamos envolvidos em algum tipo de ação? Seguimos alguma liderança?

Minha gente, em gestação, ou mais precisamente na incubadora, encontra-se o Projeto Pingo D’Água, voltado para pequenas ações solidárias e que tem como público-alvo, prioritariamente, pessoas do mundo esportivo valadarense em situação adversa.

Ainda carecedor de um formato e propósito definitivos, para se evitar expectativas que poderão se transformar em frustrações. Há muito a ser estudado e refletido. Não tem sido tarefa fácil. Exige-se conhecimento, capacidade, disponibilidade e doação.

Mas algo já acontece, minimamente. Espaço físico bem projetado e construído nas dependências do Coopevale Futebol Clube já vem funcionando. Vale a pena conferir, fazendo uma visita.

Depois de 15 anos de encontros anuais de desportistas, neste ano teremos o XVI Encontro. Ainda que virtual, restou uma certeza: também no mundo esportivo QUASE NINGUÉM TEM TEMPO… Uma pena…. O encontro anual é uma realização do Pingo D’Água e busca, além da confraternização, minimizar o sofrimento de nossa gente.

Valorize sua vida. Desenvolva  um olhar sobre sua cidade, em especial sobre a periferia. Há algo que você pode fazer. Basta querer. Faça sua vida valer a pena. Fortaleça o grupo de gatos pingados e carregadores de piano. Isto lhe fará bem. Os mais letrados têm responsabilidades maiores.

*Ex-atleta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

Conhecendo mais sobre as femtechs

🔊 Clique e ouça a notícia Igor Torrente (*) Por muito tempo, pesquisas e inovações tecnológicas ignoraram as diferenças de gênero, resultando em soluções que não se ajustavam completamente às

Recheio de infância

🔊 Clique e ouça a notícia por ULISSES VASCONCELLOS (*) Casa da avó. Início dos anos 90. Férias de janeiro. Calorzão. Um tanto de primos crianças e pré-adolescentes cheios de

Um olhar para os desiguais

🔊 Clique e ouça a notícia Luiz Alves Lopes (*) Salvo entendimentos outros próprios dos dias atuais, vivemos em um país civilizado em que vigora o Estado Democrático de Direito

Alegria de viver

🔊 Clique e ouça a notícia por Coronel Celton Godinho (*) Vivemos em um mundo emaranhado de conflitos entre nações, entre indivíduos. Já há algum tempo, venho observando as relações