por Luiz Alves Lopes*
“Domingo é dia de pescaria…. domingo é dia de futebol… domingo é dia de matinê à tarde”, não importando o filme, porém de olhos vidrados nos poucos minutos exibidos pelo canal 100, com resumo dos grandes clássicos do futebol brasileiro, quase sempre do futebol carioca. E a musiquinha? Tan, tan, tan, tan, tan…
Assim era, assim foi o vistoso, maravilhoso, espetacular futebol brasileiro dos antigamente, romântico por natureza, de altíssima qualidade técnica e de atração pouco vista. O tempo passou… ficou uma saudade danada.
De um profissionalismo totalmente amador, cheio de paixões, desorganização, de atitudes passionais a todo momento, a beleza de nosso futebol tudo enfrentava, vencia e fazia histórias. E que histórias! Mitos foram criados, ídolos em profusão e autênticos. Cada clube com uma história bonita, tanto quanto a de seus concorrentes.
Tempo do amor à camisa, tempo do torcedor apaixonado que ia ao delírio com as conquistas do clube de seu coração e que chorava copiosamente diante da perda de um jogo decisivo. Mas que sabia entender e respeitar a conquista do outro, de seu oponente, de seu adversário.
Tempo em que torcedores de clubes adversários acomodavam-se nas arquibancadas ou mesmo nas gerais de nossos acanhados estádios, cada um torcendo para o “seu”, respeitando a alegria ou tristeza do oponente. Coisas de um futebol apaixonante que se foi… e provavelmente não volta mais.
Restou-nos o NEGÓCIO. O grande negócio que encampou o futebol em todo o mundo, e por aqui não é diferente. Surgiram as tais “torcidas organizadas”, que de organizadas nada têm; pelo contrário, compostas de altíssimo índice de marginais e vândalos.
O torcedor de verdade está em casa, à frente de um aparelho de tv. A modernidade de nossos estádios, acompanhada dos preços exorbitantes dos ingressos, clima de hostilidade e ausência de segurança, elitizaram o futebol e o torcedor brasileiro.
As organizadas e seus marginais ocuparam os espaços, dão palpites na administração dos clubes, fazem arruaças, invadem centros de treinamentos e vêm no adversário um inimigo. Ao que parece, são financiadas, sintetizando deletérias políticas no seio de nossos clubes. Uma lástima, uma pena!
E como comumente se diz que “desgraça pouca é bobagem”, a triste constatação de que rumos não republicanos estão sendo tomados pelo atleta brasileiro, especialmente o do futebol.
Nossos grandes e verdadeiros ídolos, na quase totalidade, tinham amor à camisa, se imortalizavam nos clubes, respeitavam o torcedor e eram marcados pela simplicidade e humildade, noves fora um ou outro. Como o filósofo disse, “a unanimidade é burra”…
Buscar constituir um bom patrimônio, fazer bons negócios, preparar-se para uma aposentadoria, porque a carreira é curta, não são atitudes proibidas ou repugnantes. Justificam-se e devem ser valorizadas e incentivadas. Inúmeros são os exemplos de grandes craques que estão ao ‘Deus dará”. Boas práticas e bons exemplos merecem aplausos.
Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, percentual altíssimo do atleta de futebol no Brasil, paparicado, bajulado e idolatrado, praticando uma bolinha ‘meia boca’, se comparados aos nossos grandes craques do passado (enumerar aqui seria covardia), passou ao uso de salto alto próprio do sexo frágil, tornando-se figura intocável, marrenta, arrogante, fria, omissa e insensível a tudo que nos cerca. Tornou-se Deus…. de barro.
E como o futebol virou comércio, um grande negócio, a mídia em geral, com seus objetivos totalmente comerciais, vale-se de tudo isso para faturar e faturar, ainda que a bajulação seja uma constante. Vida que segue.
O boleiro bonachão, o atleta de futebol no Brasil, quase sempre despreparado para o sucesso, deslumbrado pelas maravilhas do mundo dos humanos, queda-se à tentação, limitando-se a ser apenas um JOGADOR… às vezes de futebol.
Como dizem que Deus é brasileiro, por justiça o registro de que alguns poucos craques e ex-craques brasileiros, no anonimato, desenvolvem, aqui e acolá, ações e projetos meritórios. Uma minoria. Certamente são pessoas felizes.
(*) Ex-atleta
N.B. – Ao Waldemar ‘Pena’ e Marilene, neste momento de dor, a solidariedade daqueles que os conhecem, admiram e respeitam. O importante é não perder a fé.
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