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E O GÁS ACABOU… (DRD369)

Por Crisolino Filho

Existem certos dias em que o cidadão não deveria sair de casa. Ou melhor, nem deveria levantar da cama, já que tem dias em que o sujeito fica refém de todo tipo de contratempo, quando parece que o mundo está definitivamente contra ele. Certo conhecido nos contou sua história, que justifica porque tem dias que é melhor não arriscar fazer nada. De acordo com ele, era uma quente sexta-feira de verão, daquelas que só o valadarense conhece, coincidentemente, depois de uma semana altamente estressante, pulverizada

pelo pagamento do IPVA, faculdade dos filhos, anuidade profissional, diversas taxas, condomínio, compra mensal no supermercado, multa de trânsito, impostos, pagamento do dentista, plano de saúde, internet, celular, financiamento do imóvel, lâmpada queimada, dispensa de funcionário com o pagamento de encargos trabalhistas e outras contas mais que parecem combinar que vão ser cobradas naquele momento.

Naquela sexta o conhecido levantou cedo, como de costume, e rumou para o centro de GV, quando, no meio do caminho, se deu conta de que havia esquecido em casa a carteira com seus documentos pessoais, os do veículo que dirigia e a CNH. Para sua grata surpresa, notou que carregava em um dos bolsos um cartão de crédito. Como naquela manhã ensolarada compraria apenas um pequeno presente para uma festa de aniversário, resolveu seguir caminho. Pensou em voltar para pegar os documentos esquecidos – o que deveria ter feito, mas desistiu.

O primeiro problema aconteceu quando deu de frente com uma blitz da PM. Gastou um tempo razoável para tentar convencer o guarda de trânsito do que havia acontecido. Nada feito. Teve de deixar o carro estacionado ali na rua por um prazo estipulado, até que fosse em casa buscar os documentos do veículo. Como não tinha dinheiro para tomar um táxi ou ônibus, nem encontrou naquele momento alguém que conhecesse para lhe dar uma carona, optou por ir a pé. Como demorou mais de 30 minutos, quando voltou seu carro já havia sido rebocado, e só conseguiu tomar a direção de novo no final da tarde daquele dia. Ficou humilhado e com a autoestima mais por baixo do que a camada do pré-sal.

Próximo do meio-dia, quando se lembrou do cartão de crédito que portava, rumou para o caixa eletrônico na tentativa de sacar dinheiro para pagar as despesas com o reboque e outras coisas, mas se deu mal. Quando chegou ao Banco 24 horas, teve a insatisfação de saber que o sistema da máquina estava fora do ar. Mais tarde, umas duas horas depois, quando conseguiu sacar o numerário, resolveu então comprar o presente de aniversário. Depois de andar bastante, chegou à única loja que tinha o mimo que o(a) aniversariante desejava, mas, para sua decepção, naquele dia a loja tinha fechado as portas mais cedo.

Já no final da tarde, quando voltava para casa, viu seu mundo cair novamente. Dois carros fortes que estavam estacionados no meio da rua recolhendo malotes das grandes lojas engarrafaram ainda mais o trânsito, que ficou lento, seguido de um buzinaço. Então, o conhecido já p… da vida, e como só acontece num dia de muito azar, fechou o cruzamento e parou em cima da faixa de pedestres, impedindo a circulação das pessoas. Não deu. Assim que cometeu a manobra, apareceu um “verdinho” da prefeitura, que logo lhe aplicou a frase: “O Senhor está infringindo as leis de trânsito”. Tudo isso naquele congestionado mar de veículos que se forma na Israel depois das 18h, e ao som estridente de uma sirene de ambulância que pedia desesperadamente passagem aos motoristas.

Nosso personagem voltou para casa “moído” física e mentalmente, onde e quando encontrou a mulher cuspindo na chapa, já que ele havia se atrasado mais de duas horas para o compromisso que os dois haviam combinado. Mas o pior nesta trágica história aconteceu depois. Quando já sentia o cheirinho da janta que esperava com todo apetite, escutou vindo da cozinha do apartamento um grito de sua mulher que mais parecia um nocaute, lamentando: “Mô, o gás acabou”.

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