[the_ad id="288653"]

Vidas importam

Marcos Santiago (*)

A imagem corrente do espancamento (assassinato) de um homem, no espaço aberto de um grande supermercado e centro de comércio e de vida em sociedade, sob holofotes online, é mais profundo que o execrável racismo, que o sexismo, que o elitismo ou qualquer outra fração conceitual. Está na cultura da violência, ou na negação (naturalização) dela. Violência contra o idoso, contra a mulher, contra o índio, contra o pobre e a criança, contra o concorrente, contra o ateu, contra o estrangeiro, ou mesmo contra o abastado (em razão do banditismo social). Violência. A revalorização do instinto, a partir de ícones e líderes da sociedade, do chefe da casa ao chefe da nação. A revitalização de um comportamento que a evolução, por milênios, tenta pacificar, através da coexistência. O simbolismo da violência como exercício das próprias razões, da masculinidade, da prática da própria justiça e da (des)honra  exercida, quase sempre, sobre o mais fraco. A exaltação de símbolos de poder, autoridade e dominação pelo porte ou posse de armas, blindagens, fortificações e títulos, o exercício da comunicação violenta e do poder econômico sobre um sistema de justiça desigual e, por vezes, retardado. Violência estrutural e estruturante. A política do velho oeste americano em terras tupiniquins, a invocação do falo maior, de quem tem o carro SUV,  daquele que grita mais alto com o megafone na mão, seja do telhado do barraco ou da cobertura no Alphaville. A prática do olho por olho na nova velha aliança. Sinais dos tempos em que a agudização da vida (econômica, social, cultural, política) maximiza comportamentos instintivos, próprios do reino animal mais rudimentar. Um soco, um xingamento, um não dito, um esbarrão, uma dívida de dez reais, são passíveis de pena de morte, decretada pelo selvagem que habita em nós. É a desinteligência presente no boletim de ocorrência da nossa existência, capaz de exterminar o outro. O negro é testemunha (viva e morta) de todo esse processo, mas não está sozinho. Resta-nos o vital e indispensável progresso civilizatório. Vidas importam!


(*) Marcos Santiago (santiagoseven@bol.com.br)

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

Conhecendo mais sobre as femtechs

🔊 Clique e ouça a notícia Igor Torrente (*) Por muito tempo, pesquisas e inovações tecnológicas ignoraram as diferenças de gênero, resultando em soluções que não se ajustavam completamente às

Recheio de infância

🔊 Clique e ouça a notícia por ULISSES VASCONCELLOS (*) Casa da avó. Início dos anos 90. Férias de janeiro. Calorzão. Um tanto de primos crianças e pré-adolescentes cheios de

Um olhar para os desiguais

🔊 Clique e ouça a notícia Luiz Alves Lopes (*) Salvo entendimentos outros próprios dos dias atuais, vivemos em um país civilizado em que vigora o Estado Democrático de Direito

Alegria de viver

🔊 Clique e ouça a notícia por Coronel Celton Godinho (*) Vivemos em um mundo emaranhado de conflitos entre nações, entre indivíduos. Já há algum tempo, venho observando as relações