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Sonhos desfeitos

Crédulo por natureza, o valadarense é também um eterno sonhador. Confia nas promessas mais mirabolantes e, a partir delas, acalenta sonhos que raramente se concretizam. Em outras palavras, costuma embarcar em canoa furada, para ir em busca de um Príncipe Encantado ou de uma Fada Madrinha.

Na década de 1950, a ilusão girou em torno da Usiminas. Alguém espalhou que a siderúrgica viria para Valadares. A cidade demorou a perceber que, na época, já havia “fake news”.

Em 2008, o blefe ficou por conta da Aracruz Celulose. Tudo pronto para recebê-la, com festas e braços abertos. Na última hora, entretanto, a empresa jogou a toalha, deixando o município a ver navios.

Esses são apenas dois dos casos mais emblemáticos. Mas há aquele varejo que, sob um interminável jogo de empurra, se incorporou ao panorama local, transformando sonhos em pesadelos. Num misto de desalento e resignação, a população acabou se acostumando com a embromação que envolve a revitalização do prédio da Açucareira, a vinda do gasoduto, a duplicação da BR-381 até Valadares, a adequação do Aeroporto Coronel Altino Machado, o término das obras do Hospital Regional, a reforma do Teatro Atiaia, e por aí vai. Metas que não passam de palanques eleitorais, só lembradas na temporada de “caça aos votos”.

A bola da vez é a inclusão de 76 municípios mineiros, entre eles Valadares, e três capixabas, na área de atuação da Sudene. Contemplado pelo Projeto de Lei da Câmara 148/2017, o assunto vem tramitando no Congresso Nacional, onde, mesmo aprovado pela Câmara, foi rejeitado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. Na CCJ, enquanto os senadores mineiros e capixabas eram favoráveis, a bancada nordestina se uniu contra a proposta. Fazendo parte da corrente adversa, os senadores José Pimentel (PT-CE) e Armando Monteiro (PTB-PE) argumentaram que os recursos destinados à Sudene já são escassos para atender às necessidades do Nordeste e de outras áreas que se incluem entre os beneficiários.

Em recente visita a Valadares, o ex-senador e ex-presidente da Sudene Cássio Cunha Lima discutiu o assunto com as principais autoridades e lideranças locais. Admitiu a importância do projeto, prometeu ajudar, mas chegou à original e estimulante conclusão de que o alcance do objetivo pode não ser impossível, mas será difícil.

Assim como a Sudam, na Amazônia, e a Sudeco, no Centro-Oeste, a Sudene foi criada com a missão institucional de “promover o desenvolvimento includente e sustentável de SUA (o destaque é meu) área de atuação e a integração competitiva da base produtiva regional na economia nacional e internacional”. Sua abrangência está, pois, bem delimitada. É compreensível, então, a resistência que se faz em repartir com mais gente um bolo que mal satisfaz quem dele depende. Com certeza, unidos que são, e politicamente bem representados, os legítimos beneficiários não medirão esforços na defesa do que lhes pertence.

Sob essa ótica, talvez fosse melhor que Minas Gerais e Espírito Santo, mediante um projeto bem elaborado, e com o apoio de suas forças político-empresariais, se mobilizassem no sentido de conseguir a criação de uma superintendência de desenvolvimento regional própria, destinada às áreas que consideram merecedoras de incentivo, abandonando a ideia de abocanhar parte de benefícios que já têm donos. Os argumentos seriam os mesmos utilizados para pleitear a inclusão daqueles municípios na área da Sudene, acrescidos dos prejuízos causados pelas recentes tragédias ambientais ocorridas na região e pela recessão econômica que afeta todo o país.

À primeira vista, mesmo que também envolva complexidade, essa seria uma pretensão bem mais razoável e factível, capaz de ser defendida até pelos políticos que representam áreas contempladas com semelhante benefício. Afora isso, é malhar em ferro frio!

por Etelmar Loureiro

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