[the_ad id="288653"]

SAUDADES DE DONA MARICOTA

Luiz Alves Lopes (*)

Os sobreviventes da velha guarda, com idade pra lá do mais pra cá, lembram-se de hábitos antigos, rigidez na educação caseira, veneração da primeira professora, medo terrível de assombração, Saci Pererê, Mula Sem Cabeça e outros menos votados. Os de origem ‘roçaliana’ adicionavam inúmeros outros hábitos, crenças e convicções.

Na região da Zona da Mata das Minas Gerais desafiava e continua a desafiar a natureza um lugarejo a que deram o nome de Vermelho Velho (gozam-me dizendo que não está no mapa do Estado), no município de Raul Soares, de onde saiu para o mundo do futebol o nosso Gilberto-Ziquita. Referimo-nos ao Operário Futebol Clube.

Nos bons tempos dos antigamente, a Estrada de Ferro Leopoldina, conhecida como Maria Fumaça, era sólido meio de transporte. Quer nos parecer que o ponto final era a Terra das Palmeiras, que alguns insistem em chamar de Caratinga. A Leopoldina hoje está desativada. Restou a história.

Para os menos avisados, como vermelhense que somos, foi lá que vieram ao mundo os notáveis ALBERGARIAS, que fizeram história (decente) na política valadarense. Lembrando: Raimundo Albergaria (o Morubixaba), Jaeder Albergaria, Jason Albergaria, Alberone Albergaria e Paulo Albergaria, dentre outros.

Antigamente, o que fazia uma criança em lugarejos pequenos? Normalmente jogava bola em qualquer local, não necessariamente em um campo, tomava banho no rio ou riacho, quase sempre escondido dos pais, subtraia frutas do quintal alheio (era mais gostoso da que se tinha no próprio quintal), frequentava obrigatoriamente a igreja, por imposição da mãe, desenvolvia algumas atividades domésticas com a cara amarrada e também, de maneira impositiva, frequentava a escola do lugarejo.

Pois é, na simplória Vermelho Velho, que ainda sobrevive, aonde voltamos depois de 40 anos de ausência ou retirada, na modestíssima casinha em que funcionava a escola local, conhecemos, enfrentamos e nos submetemos às rígidas normas impostas por dona MARICOTA, nossa primeira professora.

Da primeira professora ninguém esquece. Ajoelhar-se sobre o caroço de milho ou de feijão, a título de castigo. Estender as mãos e submeter-se à palmatória. Como canhoto, ter que aprender a escrever com a mão direita como condição para continuar a frequentar a escola. E quantas coisas mais? Inúmeras. E o resultado? Imensurável. Nos antigamente a professora era uma segunda mãe.

Dona Maricota: mãe do senhor LANINHO, que veio para Valadares, quer me parecer. Impregnados em nós ficaram lições, ensinamentos e exemplos que os mestres de hoje estão impossibilitados de transmitir. Mudanças ocorreram. E que mudanças!…

Dá para falar nos dias atuais em pontualidade para chegar à escola? Respeito ao horário de saída? Desenvolvimento dos trabalhos e atividades propostas? Atenção por ocasião das explanações sobre a matéria do dia? Acompanhamento pelos pais da caminhada escolar do filho?

Acabaram com as aulas de OSPB – Organização Social e Política Brasileira. Com as aulas de Moral e Cívica. Com as aulas de trabalhos manuais. Com as encenações através de peças teatrais. Valorização do desfile de Sete de Setembro. Aprender a cantar o Hino Nacional Brasileiro, Hino da Bandeira e outros mais. Por que não o momento reservado para a religião, respeitando-se a de cada aluno? Acabaram com tudo. Esqueceram do ser humano.

Papo de Boleiro: O que tem a ver com o passado, com o saudosismo, coma educação? Se o papo é de boleiro, cabe tudo, comporta tudo, inclusive conversa fiada. Quantas coisas impublicáveis ocorrem nas confrarias do Bolivar e Cleidiomar? Saudosismo é para quem gosta. Alguém já ouviu falar em desopilar o fígado?

Se não todos da velha guarda, grande parte dela também teve a sua dona Maricota. Felizes os que tiveram e souberam aproveitar.

Vivemos no mundo da modernidade. Melhor dizendo, fomos alcançados pela modernidade. Em certos aspectos, chata, inconveniente, intrometida e inoportuna. E o pior é que não fomos consultados. Acabaram com nossa privacidade. Que merda sô!…

Modernidade que não consegue combater ‘uma praga’ denominada FAKE NEWS e que é aproveitada por seres desprezíveis e covardes, que se escondem sob o manto do anonimato para tripudiar, difamar, caluniar e destruir pessoas ou mesmo atacar suas reputações. Não têm coragem de mostrar a ‘cara’, assumindo a responsabilidade de seus atos. Carecemos de uma legislação séria que possa combater tal prática.

Este papo caminha para seu final. Erroneamente, a boleirada não gosta de conversar sobre política, confundindo-a com politicagem. Uma pena! Nossa vida e nosso dia a dia são marcados por ações de cunho político. No trabalho, nas conquistas, nas dificuldades, nos bons e maus momentos, praticamos ou nos envolvemos em ações políticas. A prática de uma religião não deixa de ser uma ação política.

Difamar, caluniar, tentar destruir, constranger alguém, fabricar fatos, publicações incompletas e não esclarecedoras têm marcado atuações de grande parte dos atores políticos e integrantes da vida pública de nossa cidade, nada construindo para seu crescimento e solidificação no contexto do Estado. Uma pena! Assusta a possíveis pretendentes em participar.

O “aventurismo” tem falado mais alto, na ânsia de chegar ao poder. Vale tudo. Falta reflexão e planejamento aos sonhadores e ‘representantes’ escalados. Não é assim que se faz. É preciso passar a sonhar o SONHO POSSÍVEL. Para tanto, certamente que pela frente haverá de chorar, de soar e de derramar algumas lágrimas.

Conhecemos histórias e caminhadas tidas e havidas como impossíveis inicialmente, pouco prováveis mais adiante e que se tornaram realidade. DOM PAULO FERNANDO I E ÚNICO, BARRÃO 70 e FASSARELA, dentre outros, foram persistentes e chegaram ao poder de forma paciente e decente. Dá para copiar? Voltar aos bons tempos éticos de dona Maricota.

(*) Ex-atleta.

N.B.– Muito bom saber que o médico Doutor Altair Vargas – o Tio Tatá – venceu a Covid-19 e já está em casa, junto aos seus. Deve ter muito o que falar.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

Recheio de infância

🔊 Clique e ouça a notícia por ULISSES VASCONCELLOS (*) Casa da avó. Início dos anos 90. Férias de janeiro. Calorzão. Um tanto de primos crianças e pré-adolescentes cheios de

Um olhar para os desiguais

🔊 Clique e ouça a notícia Luiz Alves Lopes (*) Salvo entendimentos outros próprios dos dias atuais, vivemos em um país civilizado em que vigora o Estado Democrático de Direito

Alegria de viver

🔊 Clique e ouça a notícia por Coronel Celton Godinho (*) Vivemos em um mundo emaranhado de conflitos entre nações, entre indivíduos. Já há algum tempo, venho observando as relações

Coluna do seu Luís: o presente chega depois

🔊 Clique e ouça a notícia POLÍTICA E ESPORTE COM CORAGEM PARA DIZER A VERDADE Ricardo Sapia (*) POLÍTICA * O presidente Lula e o Ministério de Minas e Energia