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Queimando o dólar

por Ricardo Dias Muniz (*)

Uma anedota explica de forma bem prática como funciona um dos complicados mecanismos monetários: o lastro. É mais ou menos assim: diz a lenda que quando estourou a febre do ouro no velho oeste americano, um dos imigrantes pediu a um fazendeiro que guardasse parte do ouro para ele. Como prova do depósito, o fazendeiro daria um papel, demonstrando que o imigrante teria direito à quantidade de ouro descrita no documento. A violência da região motivou muitos imigrantes a fazerem o mesmo. Em pouco tempo, os papéis se tornaram valiosos por si; eram trocados por bens e imóveis. O fazendeiro guardião, percebendo isso, começou a emitir papéis sem limite. Quando os depositantes descobriram que os papéis não mais tinham o lastro correspondente em ouro, perceberam que foram enganados. Moral da história, a economia é feita única e exclusivamente de confiança. O papel chamado de dinheiro, na verdade, é apenas uma reserva dessa confiança, sem a qual não tem valor.

Nessa lógica, o governo norte-americano do democrata Joe Biden está usando exatamente a estratégia de queimar dólar para fazer sua política populista. Importante é saber como isso acontecerá. Como visto na anedota, dinheiro (papel moeda cunhado) não tem valor por si, somente tem valor psicológico porque um governo garante que algo real será trocado pelo papel. O governo dos Estados Unidos é a democracia mais antiga da era moderna. O dólar, por isso, é confiável, devido à estabilidade política e pela capacidade de honrar as dívidas. Com dívidas públicas controladas, a moeda do país é forte; por outro lado, se houver descontrole, o governo terá que fabricar um pouco mais de moeda para pagar essas dívidas. Logo, como na anedota, o valor do dinheiro será cada vez menor, isso é um processo que provoca inflação.

Então, a fornalha do presidente norte-americano está a pleno vapor, abastecida com o que é mais inflamável para as moedas do populismo político. Apenas nos primeiros meses de governo já houve três planos. O Plano de Resgate Americano, que queimou a incrível soma de 1,9 trilhão de dólares, quantia que representa tudo o que o Brasil produz em um ano. Outro plano já foi encaminhado, com a promessa de torrar 2,25 trilhões, para serem gastos em infraestrutura. Pensa que acabou? Não! Ainda existe a tentativa de ampliar a rede de gastos com assistencialismo público, em que serão torrados 1,8 trilhão de dólares.

Como o fazendeiro da história queimou sua reputação e emitiu notas sem valor. Assim também pode ocorrer com governos. Como consequência, a moeda norte-americana já está se desvalorizando no mercado financeiro. Os imigrantes brasileiros no exterior certamente já devem ter notado esse movimento. Essa talvez seja a intenção: queimar o dólar. A questão que fica é: por que um governo deixaria sua própria moeda derreter?


(*)Especialista em Gestão Estratégica, engenheiro de Produção, estuda Direito e Ciências Políticas.
Contato: munizricardodias@gmail.com. Redes sociais: https://linklist.bio/ric

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