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MANGA: A CAMINHO DE UM FINAL FELIZ

Luiz Alves Lopes (*)

A ESPN Brasil exibiu recentemente rico e interessante documentário envolvendo um extraordinário atleta do passado cujo nome de guerra era MANGA. Que o digam os botafoguenses dos antigamente e do Inter de Porto Alegre! De quebra, passagens pela Seleção Brasileira (esteve na Copa de 1966) e pelo Nacional do Uruguai, onde ganhou a Libertadores e o Mundial de Clubes.

No clube carioca perfilou ao lado de Nilton Santos, Amarildo, Quarentinha, Mané Garrincha e tantos outros que fizeram do glorioso um clube respeitado. E no Bota teve o entrevero com João Saldanha, lembram-se?

No Inter de Falcão, Carpegiane, Figueroa e outros tantos, foi simplesmente bicampeão brasileiro. Quem se lembra da decisão contra o Cruzeiro de Nelinho, Piaza, Dirceu, Joãozinho e outras feras quando o título foi para os pampas, com um gol isolado de Elias Figueiroa?

O documentário, forte, rico, emocionante e comovente, registra um final feliz, dando conta de que nosso Manga estava residindo no Equador nos últimos 40 anos. Que, diante das dificuldades que tinha pela frente, foi socorrido por torcedores do Nacional do Uruguai, que custearam uma operação de próstata a que teve de se submeter. Foi bem-sucedido.

A chamada última cartada de Manga teria se iniciado em uma entrevista concedida ao sociólogo Paulo Escobar, para o “Museu da Pelada”.

Na entrevista, o ex-goleiro se dirigiu diretamente à torcida do Botafogo, manifestando a vontade, antes de morrer, de fazer uma visita ao Rio de Janeiro e assistir a uma partida do clube de seu coração.

Coube ao repórter Marcelo Gomes se deslocar para os arredores de Quito, no Equador, onde Manga estava residindo com a equatoriana Maria Cecília Cisneiros Castillo, de 74 anos, sua segunda e atual esposa. Em depoimento emocionado, Manga foi muito além e, aos prantos, foi contundente em dizer que sonhava regressar definitivamente para sua pátria para nela viver seus últimos dias.

Hailton Corrêa de Arruda – o Manga -, pernambucano retado, com 83 anos de idade, goleiro dos bons revelado no Sport de Recife e que ganhou o mundo, foi taxativo: ”eu não tenho mais dinheiro, mais familiares e muito menos saúde para continuar vivendo aqui. Meu sonho é voltar ao Brasil para viver com minha esposa Cecília. Quero viver meus últimos dias na minha terra, se possível no Rio de Janeiro, perto do Botafogo e dos torcedores que me amam tanto,” disse.

Atentando-se para o documentário, foi possível constatar seriedade, serenidade e sinceridade no que dizia. Palavras com voz embargada, porém firmes. Não atirou pedras em ninguém. Não culpou ninguém. Não menos verdade, também, que as dificuldades enfrentadas por Manga sintetizam um percentual altíssimo, assombroso, que atinge os personagens do mundo da bola, não importando se famosos ou não. Aqui e agora não importa. Vale o desfecho e final feliz.

De mala, cuia e mulher a tiracolo, Manga, acompanhado do repórter Marcelo Gomes, em plena pandemia, aterrizou no aeroporto do Rio de Janeiro. Seguiu-se uma bela e emocionante visita ao Estádio Nilton Santos (aquele, sabe?), onde foram recebidos pelo gentleman Paulo Autuori, atletas, funcionários e dirigentes. Em especial, um bate-papo com os goleiros do Glorioso, ocasião em que recebeu uma camisa com seu nome. Tudo muito bom.

No final de semana após sua chegada, assistiu à partida do Glorioso frente ao Bangú, pelo Campeonato Carioca. Ponto final. Roteiro praticamente cumprido. Quase…

No mundo dos homens, todos mortais, existem pessoas e pessoas. Havia um sonho em aberto. Uma vontade louca de ficar na terra de Cabral.

E vai que, não sendo todos perfeitos, um tal de Stefan Nercessian, botafoguense roxo e artista famoso que preside o Retiro dos Artistas no Rio de Janeiro, o que vem fazendo nos últimos 20 anos (Zezé Mota é vice-residente), acionado, diligenciou para que uma “casinha” situada no Retiro fosse disponibilizada para que o casal Manga e esposa nela passagem a residir.

Para tal, houve necessidade de uma boa reforma e pintura, o que foi custeado por grupo de pessoas convocadas para tal, dentre elas o tão criticado DUNGA. Da lista de pessoas que contribuíram nota-se a ausência de muita gente do mundo do futebol. Da tal de CBF, silêncio total. Não é novidade.

Chama a atenção a exposição e informações da coordenadora do Retiro em relação a tudo aquilo que é disponibilizado para os moradores do Retiro dos Artistas: assistência médica, psicológica, uma boa piscina e tudo mais que sintetiza dignidade e respeito. Foi clara: o Retiro, para se manter, tem uma despesa mensal na ordem de R$ 140.000, e vive de doações e de eventos. Não tem ajuda do Poder Púbico. Quase sempre está no “vermelho”.

Manga, ao regressar ao Brasil, acabou por encontrar o filho do primeiro casamento. Foi emocionante. Certo é que se mostra feliz e agradecido. Por tudo que fez como atleta e pela sua postura e conduta, de certa forma teve, por parte de alguns, mãos estendidas. No caso presente a mídia foi fundamental.

Artistas, inclusive do mundo da bola, ao envelhecerem, são esquecidos. Em verdade, são eles deletados. Essa tal de CBF, que nada em dinheiro, a exemplo dos “artistas”, marcaria pontos importantes se viesse a edificar uma vila para os “artistas da bola”. É preciso sonhar…

A última cartada de Manga: um final feliz.

(*) ex-atleta

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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