Dileymárcio de Carvalho (*)
Não tem problema nenhum você não ser chamado pelo nome da empresa. Por exemplo, “eu sou o João da Google”. Pelo contrário, é saudável manter a identidade pessoal independente da organização. E essa é uma relação saudável para empresa e colaborador.
Lógico, a atuação de uma pessoa pode ser tão marcante que ela acaba sendo o sobrenome da empresa. A relação trabalho é parte importante da nossa identidade, mas não podemos nos definir pelo trabalho apenas. Numa relação disfuncional, empresas também se aproveitam disso e o fator de vínculo passa ser uma armadilha emocional para seus colabores.
A origem dessa identificação muitas vezes está na falta de uma identidade psicológica saudável em outras áreas que equilibram a vida, como relações familiares, de amizades, práticas esportivas e comunidades de fé.
Com a Psicologia Comportamental, identificamos essa relação como um sintoma: algo precisa ser revisto na estrutura emocional do profissional quando ele se define unicamente por sua atividade e ou a empresa em que trabalha. Estão em jogo valores e relações de “desamor, desvalor e às vezes até desamparo” ao longo da vida ou ainda em construção. Esses pontos do perifl psicológico de uma pessoa são hoje identificados ainda no processo de seleção.
A importância de se trabalhar um diagnóstico psicológico está em trazer para a vida do trabalho pessoas saudáveis emocionalmente. Os chamados “workaholics”, ou “os loucos ou viciados por trabalho” podem parecer, num primeiro momento, estratégicos para a produtividade e lealdade à empresa. Mas as pesquisas sobre saúde emocional no trabalho, mostram que na fila do Burnolt( exaustão mental e adoecimento emocional no trabaho), estão sempre os “workaholics”. E o resultado é prejuízo emocional para todos.
Esse é um ponto importante e que precisa ser trabalhado em nível de maturidade pelas empresas e organizações: “o que eu quero mesmo do meu profissional?Que ele seja ele ou a empresa?” A valorização da identidade pessoal é um marcador emocional positivo para empresas e funcionários.
A relação saudável diz: “eu tenho uma minha vida dinâmica fora do trabalho”. E essa fala precisa ser valorizada pela empresa. O componente “felicidade no trabalho” se faz por várias relações emocionais. Esses são pontos que uma “boa entrevista de seleção” identifica. Organizações saudáveis querem gente saudável e pensar um profissioal como um todo é o primeiro investimento de uma empresa em seu “quadro de gente”.
Um teste simples diz muito o quanto você é mais a identidade da empresa do que a sua: pergunte aquele amigo que não tem ligação nenhuma com seu trabalho sobre o que você fala primeiro com ele. Se for sobre o trabalho, ainda que ele não compreenda o contexto, é um sinal: algo está mais forte que a própria pessoa.
O caminho para não ser definido apenas pelo seu trabalho é o autoconhecimento emocional: o que falta em mim que só é preenchido pelo trabalho? E empresas, não queiram alguém que só se reconhece pela empresa, isso não é legal para ninguém.
(*) DILEYMÁRCIO DE CARVALHO- PSICÓLOGO CLÍNICO COMPORTAMENTAL- CRP: 04/49821
EMAIL: contato@dileymarciodecarvalho.com.br
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