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Crônicas do cotidiano: as férias na casa da vovó!

por Coronel Celton Godinho (*)

Nos meus tempos de escola primária, ainda criança, quando o ano letivo começava em fevereiro e ia até o último dia de novembro para os que não estivessem em recuperação, tínhamos férias também em todo o mês de julho. Era uma festa! Um mês inteirinho para fazer as nossas traquinagens, jogar bola no campinho, soltar pipa, nadar na cachoeira e na piscina da praça de esportes do batalhão da Polícia Militar, enfim, aproveitávamos o nosso tempo livre.

Quase todos os anos, na primeira quinzena de julho, quando meu pai podia tirar férias do trabalho, ele levava meus irmãos e eu para a cidade de Itapecerica, no centro-oeste de Minas Gerais, para passarmos alguns dias na casa de nossa bisavó e, logicamente, com nossa avó. Minha querida bisavó Dona Maria Cândida, com mais de 80 anos, já se aproximando de 90, morava com minhas duas tias-avós, sendo uma delas inválida, vivendo sempre numa cama de um dos quartos da velha, mas acolhedora casa. Era uma pequena casa, se não me engano, de três quartos, banheiro, sala e cozinha com fogão a lenha. Tinha também um pequeno fogão a gás, mas pouco utilizado. A comida era feita em panelas de ferro no fogão a lenha mesmo. Dentro dele, haviam serpentinas, que serviam para esquentar a água para tomarmos banho no chuveiro.

Quando chegávamos lá, o mais gostoso era a recepção com os quitutes que as minhas tias-avós faziam, como doce de leite em cubos, biscoito de polvilho, bolos, broas de fubá e aquele café produzido no próprio terreiro da casa… e que cafezinho! Ah! O terreiro, como assim chamavam, era enorme, com vários pés de jabuticaba. A gente podia escolher em qual “atacar“. Tinham pés de laranja, laranja lima, limão, cana, e muitos pés de banana, todos com cachos. E, ainda, frutas desconhecidas de muitos, como marmelada de cachorro e ingá, mais ao fundo, ás margens de um pequeno córrego que cortava a propriedade.
Havia criações de galinhas, frangos e alguns patos e gansos, que não podiam ver a gente, que nos davam uma “carreira”.

Ao lado da casa da bisavó, havia outra, do meu tio avô, onde existia também uma carpintaria/marcenaria, em que ele e seus filhos exerciam o ofício. Tudo era interligado num terreiro só. Minha querida avó que, à época, morava com a gente, sempre ia para Itapecerica conosco. Naqueles tempos, também pescávamos num pequeno rio com nossos primos mais velhos e era uma festa.

Á noite todos iam para a praça da matriz “ver o movimento”, como dizia meu tio avô. Na verdade, ficávamos correndo na praça, brincando de polícia e ladrão, ou com as meninas brincando de pêra, uva, maçã ou salada mista. Essa brincadeira era mais interessante, pois era a oportunidade de trocarmos beijinhos com elas. Ah gente! Mas eram beijinhos bem inocentes e um tempo de brincadeiras sem qualquer maldade. Vez ou outra brincávamos de rodar pião e disputávamos quem manejava melhor. Brigar, nem pensar! Ali todos eram amigos ou parentes.

Cada dia a gente inventava uma atividade diferente. Muitas vezes ouvíamos as estórias do nosso tio sobre as coisas da cidade e visitávamos algum parente da família. Esqueci de mencionar que minha família, a dos “Rodrigues Oliveira”, é tradicional e antiga na cidade. A família dos meus bisavôs é originária das cidades de São João Del Rei e Itapecerica. Como era bom passar as férias na casa da Vovó Maria Cândida. Lá, tínhamos tudo de bom. Passamos as nossas meninices com muita saúde, brincadeiras e, sobretudo, muito amor.

Quem não se lembra da casa da vovó?

Das delícias que ela cozinhava, do carinho, do colo, das risadas na sala.

Hoje em dia, vejo que essa geração não está sabendo viver como vivíamos, com aquela inocência de que o mundo consistia somente em brincar e ir para a escola.

Ainda hoje, conservo em minha memória as férias que passamos na casa da vovó. Êta tempo feliz! Só tenho a agradecer a Deus por tudo!

(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar.
Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro

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