No limiar do presente mês de maio, mais precisamente no dia 4 (quatro), faleceu nas dependências do Hospital Municipal de Governador Valadares, onde estava internado, a pessoa de Otacílio Marques Filho – o OTACILINHO, ex-lateral esquerdo do Esporte Clube Democrata do final da década de 60, companheiro que foi de Bolivar Caio de Magalhães, Valdemar Rodrigues de Melo Filho (Pena), Mauro Magno Vargas e uma plêiade de gente da melhor qualidade, noves fora uns tantos outros.
Cabe aqui o registro que Otacilinho era irmão de uma das maiores estrelas do voleibol valadarense, a consagrada Rosa Olivia Marques de Oliveira, dos bons tempos do Colégio Presbiteriano, tempos de ouro dos doutores Paulo Márcio Cabral e Alcino Heringer de Freitas como líderes esportivos maiores do educandário apontado.
Pouco mais pouco menos de 30 dias do falecimento do ex-atleta referenciado, BOLIVAR aciona alguns ex-boleiros tidos como cabeças pensantes de um tal de “Pingo D’Água”, projeto em fase de gestação e cujo objetivo principal é o de assistir minimamente integrantes do mundo esportivo em situação de vulnerabilidade social.
O Pequeno Polegar deu conta de que Otacilinho estava a perambular pelas ruas da cidade, passando a noite ao relento. Demonstrava profunda tristeza pelo estado do velho companheiro. Clamou por assistência e atenção.
Diligências foram encetadas, socorro foi buscado junto à Secretaria Municipal de Assistência Social e foi possível localizar familiares do ex-atleta, bem como conhecimento parcial da situação por ele vivida, não cabendo aqui registrar a trajetória que vinha sendo por ele vivenciada. De machucar, e muito…
Sem lenço e sem DOCUMENTOS (perdidos ou surrupiados), buscou-se ouvir familiares e profissional da Assistência Social para delinear o que efetivamente ocorreu, plano de ação ou o que fazer para que a assistência mínima lançada na Constituição cidadã se fizesse presente. Pela frente, normal em nosso país, aspectos e procedimentos burocráticos.
Otacilinho acabou sendo internado no Hospital Municipal bastante fragilizado. Paralelamente, outros procedimentos ocorriam, culminando com a obtenção de vaga para seu abrigamento em Instituição de Longa Permanência de Idosos -ILPI, tão logo recebesse alta.
Seu quadro clínico, que já era crítico quando de sua internação, foi se agravando ainda mais a cada dia e culminou com seu falecimento na data acima mencionada.
Os acontecimentos envolvendo o calvário e a morte de Otacilinho, a via crucis de seus familiares e amigos, desnudam uma de nossas maiores dívidas sociais e que diz respeito aos moradores de rua.
A terra de Serra Lima não tem o seu padre Júlio Lanzelotti, famoso pelo trabalho desenvolvido em São Paulo perante a comunidade dos moradores de rua. Sua Maria Goretti Coelho, que se dedicava à causa, recentemente foi chamada pelo Criador, vítima da covid-19.
MORADORES DE RUA: gestores, autoridades dos três poderes, órgãos de classes, segmentos religiosos, familiares, agentes políticos, clubes de serviços, curiosos e anormais. Gente para dar e vender. Para todos os gostos.
Temos uma Constituição Federal para todas as demandas, recepcionada pelas Constituições Estaduais e Leis Orgânicas dos municípios, estatutos, parafernalha de legislação esparsa e conselhos para fazer inveja a seres de outro mundo.
GOVERNADOR VALADARES: qual é a política voltada para os moradores de rua? É sabido que não é tarefa fácil atacar o problema e desafio. Mas qual é a política do município? Quais são os procedimentos? É preciso dar publicidade. Onde, como e a quem recorrer?
Foi louvável o atendimento e orientações recebidos de profissional técnica da SMAS. Também muito bom o acolhimento, atendimento e orientações do pessoal do Hospital Municipal. Mas Otacilinho morreu…
Está no maior de todos os livros: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”(João,13.34). E mais: “não vos conformeis com situações deste mundo” (Romanos,12,2).
No caso de Otacilinho, seus amigos “chegaram” atrasados… Mas ele, disperso, doente e abandonado, estava em pleno centro da cidade. A vida é um dom de Deus. Provavelmente, se acudido e atendido 90 dias antes, teria a chance de estar vivo. Reflitamos todos.
(*) Ex-atleta
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