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Notáveis ocupantes da Kombi “A”

(*) Luiz Alves Lopes

Normalmente se diz que após a tempestade vem a bonança. Pode ser. Entretanto, no final da década de 60 e limiar da de 70, vivenciamos situação oposta na Pantera.

Em 1969 houve de tudo lá pras bandas da Osvaldo Cruz, com empolgação exagerada especialmente por parte do vice-presidente, o saudoso Matosinhos de Castro Pinto, à época também deputado estadual.

Sob a presidência de Ubirajara Pinheiro – leia-se SOPEGA, né Chico Duro? -, qualidade e quantidade foram as premissas que marcaram os trabalhos preparatórios do clube para a disputa do Campeonato Mineiro de 1969.

Nos alojamentos localizados sob as arquibancadas de cimento, às vezes se contavam 60 (sessenta) pseudocraques alojados. Com poucas rodadas do certame e ante resultados negativos iniciais, caiu Randolpho Brandão em pleno carnaval, surgindo Henrique Frade e Tenente Natal.

Arrumada a casa, enxugando-se o plantel, o time correspondeu e fez um bom campeonato. Para os saudosistas, Tonho, Cacau, Mário Brito, Elcy, Juci, Vulmar, Pinduca, Itamar, Alemão, Toninho, Coutinho, Walter Cardoso, Marco Antônio, Crispim, Alfredo Vignate, com os valadarenses Mauro Vargas, Luizinho, Welington, professor Marcelo e alguns outros.

Certame de longa duração (16 clubes em dois turnos corridos) e, após seu encerramento, alguns meses antes do final do ano, como sempre ocorreu, a famosa “barca”. Foi um Deus nos acuda. Para agravar, ocorreu a cassação do mandato de Matosinho de Castro pelo movimento militar e a coisa ficou preta. Quase todos se mandaram. Dívidas foram herdadas e contraídas.

Em barracões localizados no terreno que dá frente para a rua Afonso Pena, por aqui ficaram à espera de acertos, dentre outros, Elcy, Juci, Pinduca, Almiro e Cocó. O departamento de futebol profissional foi desativado. Restou a herança.

Na memória dos mais antigos, a figura folclórica e polêmica do radialista ZÉ DE NÔ, aquele que valorizava o gol. Nascido em Joaíma, apaixonado por futebol, ele se arriscava e se atrevia a promover jogos. Ao lado do também radialista Aylton Dias, promovia jogos interessantes nos finais de ano e no aniversário da cidade. Quem não se lembra de Agnaldo Timóteo, Waldick Soriano e artistas outros cantando nos intervalos de jogos ou após encerramentos, no Mamudão?

Pois é, com o propósito de ajudar a Pantera a arrecadar “algum” para saldar compromissos, ZÉ DE NÔ empresariou excursões do clube a várias cidades do Espírito Santo (Linhares, São Mateus, Ecoporanga etc.) e divisa de Minas com a Bahia (Nanuque, Carlos Chagas, Serra dos Aimorés, etc). Na maioria das vezes, em períodos chuvosos.

A situação era tão calamitosa que sequer ônibus eram fretados para os transportes da delegação. A locomoção se dava através de DUAS KOMBIS. A Kombi de João Nunes ”Cavaleiro Negro”, o JOTA, à época em atividade como goleiro (dos bons), e a outra Kombi pertencente a um sargento do Tiro de Guerra. Maravilha! Poucas não foram as vezes em que as Kombis eram arrastadas por seus ocupantes, em decorrência do barro, buracos e atoleiros. Talvez aí a justificativa e explicação da presença em cada Kombi de uma “garrafinha” de água que passarinho não bebe. Apenas para esquentar…

De maneira discreta, porém notada e percebida, verificou-se que na Kombi do JOTA se acomodavam os notáveis – leia-se Zelito, Bil, Cotinha, Dozinho, Dé, Lubumba, Amarelo, Paulinho Mariante, etc. -, enquanto na Kombi do sargento nos acomodávamos em companhia dos “mulatinhos” e mais simplórios. Detalhe: Paulinho Mariante sempre dizia para o “mano” Mário Roberto: “…vá na Kombi do sargento, você é ainda muito novo; não pode ouvir determinadas conversas…” É, minha gente, o Democrata tem história!

Na juventude, tudo é graça, tudo é festa. Longas viagens em duas Kombis. Grande parte das estradas ainda não asfaltada. Períodos chuvosos. Incertezas de rendas satisfatórias por ocasião dos jogos. Hospedagens nem sempre dignas. Teria valido a pena? Acreditamos que sim.

Olhos fechados, recordando o passado, questionamentos que surgem: sujeitar-se-iam os atletas de hoje a residirem e se concentrarem em alojamentos coletivos, com pouca ventilação, servidos com tradicionais beliches?

Será que se dariam por satisfeitos com o tradicional lanche noturno servido por ZEZÉ e NAIR – Bar Guaxupé – constante de copo duplo de vitamina e um misto quente?

Quanto ao meio de transporte para deslocamentos de delegação futebolística, inimaginável nos dias atuais querer aceitação para que tal ocorra através de utilização de Kombis. Aliás, diga-se de passagem, hoje temos VANS confortáveis.

Mas, no passado, com muito orgulho e galhardia, delegações democratenses o fizeram por inúmeras vezes, demonstrando amor ao clube, embora com inegável processo seletivo dos ocupantes da Kombi A, a Kombi de João Nunes Ferreira – o JOTA, o CAVALEIRO NEGRO. Aquele que fez história no Clube Atlético Pastoril, notabilizou-se no Esporte Clube Democrata e consagrou-se no Coopevale Futebol Clube. Coisas de boleiros.

Recordar é viver, dizia o mestre Tião Nunes.


(*) Ex-atleta

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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