Por Marcelle Justo (*)
Há uma década, a vinícola gaúcha Campestre ampliou sua produção e abriu uma segunda filial, na cidade de Vacaria, a 50 km da matriz, em Campestre da Serra. O enólogo-chefe, André Donatti, gosta de contar cada passo do negócio, que faz parte das compras de supermercado do brasileiro. A empresa produz o Pérgola, um dos vinhos de mesa mais consumidos no país.
A trajetória dessa vinícola ilustra um movimento típico da agroindústria na região Sul. Uma família de imigrantes italianos se estabelece ao norte do Rio Grande do Sul, começa a produzir vinhos de mesa para consumo próprio e, ao longo dos anos, o excedente passa a ser vendido, tornando-se meio de vida. Na década passada, com a modernização da vitivinicultura no país, eles abriram uma segunda unidade para fabricar vinhos finos, com uvas europeias. A filial foi construída aproveitando um antigo frigorífico.
De acordo com a Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE, o Rio Grande do Sul vem perdendo ao longo dos anos a sua participação na produção nacional agropecuária. Na última década, passou de 7% em 2010 para 5% em 2020. Os líderes desse ranking são os estados do Mato Grosso e Goiás.
Ao mesmo tempo, sem que uma coisa tenha nada a ver com a outra,
o consumo de vinhos cresceu. Conforme dados da Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura), em 2022, o mercado brasileiro produziu 23 milhões de litros da bebida, um aumento de 11% em comparação com o ano de 2020, abrindo possibilidade para uma expansão no mercado produtor.
A ampliação da vitivinicultura não acontece apenas no Rio Grande do Sul. A Associação Nacional dos Produtores de Vinhos de Inverno (Anprovin), que reúne vinícolas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, soma 318 hectares de plantação de vitis viníferas, o que resulta uma produção de 651 mil garrafas de vinho por ano. O número não altera o PIB dos estados, mas já aponta uma mudança: essas terras anteriormente serviam à lavoura de café.
Será que o vinho é a nova fronteira agrícola brasileira? O paladar agradece!
ENOTURISMO
Em Vacaria, a Campestre fez um museu com as peças e utensílios do frigorífico. Na capital paulista há mais uma filial com bar e venda dos produtos.
Jornalista e sommelière | Especialista em vinhos
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