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Como esquecer um amor?

Dr. Lucas Nápoli (*)

Roberta e Leandro se conheceram na universidade. Ela fazia Odontologia e ele Direito. Após algumas semanas se conhecendo, o casal decide formalizar um namoro. Nos primeiros três meses de relacionamento, os dois jovens estudantes não se desgrudavam. Como eram provenientes de outra cidade, ambos moravam sozinhos e, com o namoro, passaram a frequentar a casa um do outro diariamente. Com o tempo, a paixão foi dando lugar a um amor mais calmo e rotineiro. Tudo parecia ir muito bem até que, por volta do segundo ano de namoro, Roberta descobriu que Leandro havia ficado com outra garota. Indignada, a moça confrontou o namorado que acabou admitindo a traição. Apesar de Leandro prometer que aquilo nunca mais aconteceria e dizer que havia sido algo insignificante, Roberta não conseguiu continuar no relacionamento e acabou terminando com o rapaz.

Esse episódio aconteceu há exatos três anos. Atualmente, Roberta já é uma odontóloga formada e muito bem-sucedida em seu início de carreira. Todavia, apesar de já ter passado por outros relacionamentos, a jovem não consegue esquecer o antigo namorado da época de universidade. Volta e meia ela se pega acessando o perfil de Leandro no Instagram para ver como anda a vida dele. O rapaz mudou-se para São Paulo, pois fora aprovado em um concurso para o cargo de analista judiciário, e ficou noivo recentemente. Embora acredite ter tomado a decisão certa ao terminar o relacionamento com ele, Roberta não consegue deixar de pensar em como seria se tivessem ficado juntos. Ela se imagina morando com ele em São Paulo, tendo filhos e realizando todos os planos que faziam na época em que estavam juntos. Devido a essa dificuldade de se esquecer do ex-namorado, Roberta tem cogitado procurar a ajuda de um psicólogo, pois percebe que isso tem atrapalhado seu envolvimento com outras pessoas.

Histórias como a de Roberta e Leandro não são nada incomuns. Frequentemente seguidores me interpelam no Instagram com a pergunta: “Como faço para esquecer uma paixão?”. Neste artigo pretendo explicar o que produz essa dificuldade para renunciar a um amor do passado e apresentar algumas estratégias para facilitar esse processo.

Primeiramente, é necessário entender como a nossa mente funciona e como acontece o esquecimento para que possamos identificar os fatores que impedem algumas pessoas de esquecerem amores do passado. Para que uma determinada ideia (referente a um objeto, uma pessoa, um conceito etc.) ocupe espaço em nossa consciência são necessárias duas condições: (1) que essa ideia seja relevante e (2) que ela seja admissível, ou seja, que não entre em choque com nossos parâmetros individuais. Uma ideia que é relevante, mas não é admissível será reprimida para o Inconsciente, ou seja, não será esquecida, mas expulsa “à força” da consciência. Uma ideia que é admissível, mas não é relevante será… esquecida. Sim, ela estará preservada na memória, mas não terá força necessária para penetrar em nossa consciência. O esquecimento, portanto, acontece quando uma determinada ideia perde relevância em nossa mente. Por conseguinte, se uma pessoa tem de dificuldade de esquecer outra, isso significa que a ideia referente a esta continua tendo relevância para a primeira.

Mas o que confere relevância a uma ideia? Dois fatores são responsáveis por isso: o primeiro deles é a frequência de evocação da ideia. Imagine que todas as ideias admissíveis em sua mente são jogadores de futebol em um banco de reservas. A cada vez que uma ideia é lembrada, ou seja, penetra na consciência, é como se ela fosse chamada do banco para entrar em campo. Se uma ideia é chamada a jogar com muita frequência, isso significa que ela é importante, certo? O outro fator que confere relevância a uma ideia é a quantidade de conexões que ela possui com outras ideias. Quanto mais articulações essa ideia possui, mas fácil será evocá-la visto que ela se tornou associada a muitas ideias.

Considerando, portanto, essas informações, podemos deduzir que a ideia do ex-namorado de Roberta só continua frequentando consistentemente a consciência dela porque trata-se de uma ideia relevante para a jovem. Isso significa que ela é evocada com muita frequência pela própria Roberta e possui muitas conexões com outras ideias na mente dela. Mas, Lucas, essa pobre moça não terminou o relacionamento com ele há tanto tempo? Então, como é que a ideia referente a ele continua tão relevante para ela?

É bastante provável que, sem perceber, Roberta esteja contribuindo para isso. Como eu disse anteriormente, ela visita o perfil dele no Instagram com certa regularidade. Isso faz com que a memória de Leandro seja constantemente chamada pela própria Roberta para entrar no campo de sua consciência. Além disso, a jovem odontóloga não só mantém as conexões entre a lembrança de Leandro e outras ideias em sua mente como também cria novas conexões ao ficar imaginando como seria sua vida se eles ainda estivessem juntos. Percebe? É Roberta quem alimenta regularmente a memória do ex impedindo que ela vá gradualmente perdendo relevância em sua vida, como aconteceu com a lembrança dos nomes de todas as Spice Girls (os quais ela sabia de cor quando estava na pré-adolescência).

Portanto, caro leitor, se você deseja esquecer a lembrança de um amor, será preciso obedecer ao ensinamento do célebre adágio “O que os olhos não veem, o coração não sente”. Não fique acompanhando a pessoa nas redes sociais nem revisitando fotos antigas. Não fique também pensando e imaginando situações com a pessoa em questão. Ocupe seus pensamentos com outros conteúdos. Isso não é fuga ou infantilidade. É apenas uma forma de contribuir para que a mente faça o seu trabalho de manter a lembrança eternamente no banco de reservas.


(*) Dr. Lucas Nápoli – Psicólogo/Psicanalista; Doutor em Psicologia Clínica (PUC-RJ); Mestre em Saúde Coletiva (UFRJ); Psicólogo clínico em consultório particular; Psicólogo da UFJF-GV; Professor e Coordenador do Curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras GV e autor do livro “A Doença como Manifestação da Vida” (Appris, 2013).

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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