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Trabalho infantil, você acha normal?

FOTO:Divulgação

Caro leitor, tenho sido abordado por pais de pacientes, colegas e até por leitores de Adolescer Bem, me cobrando um posicionamento sobre o trabalho infantil. Evidentemente que me alinho à opinião da ONU e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP): SOU CONTRA!!

O assunto voltou à tona depois que o chefe do Executivo declarou que trabalhou desde os dez anos “na roça” e que isso não o prejudicou em nada… Infelizmente, ele estava repetindo um discurso muito comum na nossa sociedade, por isso causou polêmica. Imediatamente, pipocaram na imprensa opiniões contrárias e favoráveis. Para minha alegria, a SBP publicou, quase que imediatamente, um manifesto contra o trabalho infantil. Essa polêmica é velha e equivocada. Ela só existe porque a sociedade é muito mal informada… Então, vamos às informações:

Caro leitor, vamos por partes.

Primeiramente, há muita gente que acha que trabalho infantil é fazer os meninos arrumarem o quarto de brinquedos, ou trabalharem no caixa da loja do pai, ou ajudarem o tio a cortar grama, ou ainda irem ao banco para o papai depois das aulas de inglês… Não, caro leitor! Isso não é trabalho infantil. Isso é integrar os filhos à vida familiar e é muito recomendável. Crianças e adolescentes ajudarem a família é muito saudável e eu sempre aconselho os pais a fazerem isso (assunto já abordado nesta coluna!). Notem, nos exemplos citados acima, que as crianças envolvidas estão estudando, bem alimentadas, têm brinquedos e um teto para morar… Ou seja: têm uma infância digna.

A definição de trabalho infantil (prestem atenção!) é: todo trabalho que priva a criança de sua infância, sua dignidade e de seu potencial, comprometendo o seu desenvolvimento físico, mental, cognitivo e intelectual.

A triste realidade de nosso país é que o trabalho infantil leva milhares de crianças a abandonarem (ou mesmo nunca irem!) a escola. Perdurando um eterno ciclo de pobreza e empregos mal remunerados, aumentando a desigualdade social e a violência. Os números do trabalho infantil são aterradores. Segundo o IBGE (atualmente sob ameaça de censura…), em 2016, havia 2,4 milhões de crianças e adolescentes trabalhando no país (entre 5 e 17 anos). Não é preciso dizer a cor da maioria… Ou se vinham de camadas de baixa renda. Mas é interessante saber que 76,3% trabalhavam em atividades não agrícolas – indústria, comércio e domicílio. Entre 2014 e 2018, o Ministério Público do Trabalho recebeu 21 mil denúncias de trabalho infantil. Muitas delas com trabalho análogo à escravidão. O SINAN (Sistema de informações de agravos e notificações do SUS), entre 2017 e 2018, registrou quase 44 mil acidentes de trabalho envolvendo crianças e adolescentes. Desses, 261 foram fatais.

Existem números difíceis de aferir. Quantos de nossos meninos trabalham para o tráfico de drogas? Quantos são explorados sexualmente em nossas estradas? Números vergonhosos, caro leitor!

A verdadeira cena de trabalho infantil se dá em canaviais, carvoarias, fábricas de roupas, matadouros, fazendas, fabriquetas de farinha, nossas rodovias, etc. São cenários de maus tratos, mutilações, frio, fome e má higiene. Os pequenos trabalhadores não estudam e, frequentemente, são analfabetos. Vários adoecem, morrem em consequência do trabalho e, não é incomum, se suicidam.

O argumento do chefe do Executivo, de que a criança que não trabalha está fumando “um paralelepípedo de crack”, é cínico! Os filhos da classe média estudam e fazem pós-graduação, muitas vezes até os 25-30 anos… E não estão envolvidos com drogas. A crença de que o trabalho os afasta das drogas é absurdamente preconceituosa. O que afasta a juventude das drogas são políticas públicas consistentes para nossos adolescentes, escolas de qualidade (que não sejam excludentes) e que os pais TENHAM EMPREGO PLENO (podendo sustentar a família, enquanto os filhos têm uma infância normal). Parafraseando o jornalista Leonardo Sakamoto: Não é estranho fazer apologia do trabalho infantil, quando temos milhões de adultos sem emprego?

Caro leitor, a questão não tem nada de polêmica. Ela é clara como água.

Coluna Adolescer Bem | Autor: Darlan Corrêa Dias | Essa coluna é quinzenal, se desejar tirar dúvidas ou sugerir assuntos, utilize o e-mail adolescenteconfidente@gmail.com.

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