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Quer melhorar sua autoestima? Então, repense seus valores

LUCAS NÁPOLI

Autoestima é uma dessas palavras que surgiu no campo da Psicologia como um conceito e foi, pouco a pouco, adentrando o senso comum. Não é raro, hoje em dia, ouvirmos pessoas dizendo que precisam “melhorar” a sua autoestima ou que estão com a autoestima baixa devido a alguma circunstância. Há até aqueles que confundem o prefixo “auto” com seu homônimo “alto”, e acabam soltando uma “baixa estima” por aí… Faz parte!

Para a maioria das pessoas, ter autoestima elevada significa basicamente gostar de si mesmo. Nesse sentido, uma pessoa que tem uma boa autoestima seria aquela que possui uma visão positiva de si. Essas impressões não estão longe da verdade. De fato, do ponto de vista da Psicologia, autoestima é um conceito que se refere a um processo de valoração que, como tal, pode ter como resultado um parecer positivo ou negativo. Trata-se, portanto, da avaliação interna que faço de mim mesmo. Ora, todo processo avaliativo é baseado em critérios, parâmetros, indicadores. E é justamente nesses padrões de referência que encontraremos as razões pelas quais algumas pessoas possuem autoestima elevada e outras sofrem com a autoestima baixa.

Nós, seres humanos, somos os únicos animais que possuem autoestima. Isso porque somente membros da nossa espécie são capazes de tomar a si mesmos como objeto de avaliação. O seu cachorrinho de estimação é capaz, por exemplo, de avaliar os alimentos que você oferece a ele e decidir se irá comê-los ou não. Contudo, seu pet não tem a capacidade de olhar para si mesmo e analisar se tem sido um bom cachorrinho nas últimas semanas. Só nós humanos podemos tomar o próprio eu como um objeto a ser examinado. E a gente faz isso o tempo todo, como se estivéssemos ininterruptamente diante de um espelho interior verificando se estamos indo bem ou mal. O resultado dessa análise constante que fazemos de nós mesmos é o que chamamos de autoestima.

Mas de onde vem os parâmetros que utilizamos para fazer essa análise? Do Outro, isto é, da cultura na qual estamos inseridos, dos ambientes que frequentamos e, principalmente, das pessoas com as quais nos relacionamos, sobretudo, na primeira infância.

Além de sermos os únicos animais que possuem autoestima, somos também membros da única espécie animal que não nasce sabendo viver. Enquanto uma lesma, uma barata, um cavalo ou mesmo um chimpanzé já nascem programados para agirem como lesmas, baratas, cavalos e chimpanzés, nós, seres humanos, não nascemos sabendo funcionar como humanos. A gente aprende a ser gente. E isso acontece justamente por meio do contato com o Outro. É mediante a interação com nossos pais, por exemplo, que aprendemos a nos expressar com a nossa língua materna, que aprendemos a fazer xixi e cocô nos lugares apropriados… E é também por meio desses outros seres humanos que aprendemos a nos avaliar. É na convivência com eles que vamos, pouco a pouco, internalizando os parâmetros e critérios com os quais medimos a nós mesmos.

Por isso, eu costumo dizer que toda autoestima é, no fundo, uma heteroestima, já que, na origem, os óculos psicológicos que utilizamos para enxergar a nós mesmos são aqueles que o Outro nos ofereceu. Um exemplo bem simples: há pessoas cuja baixa autoestima tem a ver com sua aparência física. Por não estarem “em forma”, tais indivíduos se avaliam de modo pejorativo. Isso acontece porque elas usam como parâmetro de valoração de si mesmas o critério “aparência física”. Sem perceber, de modo inconsciente, essas pessoas internalizaram tal critério e agora passam a se medir por ele ao invés de adotarem outros parâmetros como, por exemplo, conduta moral ou competência no trabalho. Para algumas dessas pessoas, isso pode ter acontecido porque seus pais valorizavam muito a aparência física. Em outros casos, o indivíduo pode ter simplesmente se deixado levar pela cultura contemporânea que dá muita importância ao ideal fitness.

Seja como for, os critérios que utilizamos para nos avaliarmos são sempre provenientes do Outro. Por isso, a “melhoria” de nossa autoestima depende necessariamente de uma revisão dos parâmetros que utilizamos para nos analisar. Alguns desses padrões de referência são conscientes, ou seja, conseguimos trazê-los à mente com facilidade e repensá-los. Porém, na maioria das vezes, nós os utilizamos sem perceber, de modo automático. Por isso, eventualmente, é preciso se submeter a uma psicanálise para trazê-los à luz.

Não sabe o que é psicanálise? Então fique ligado porque na próxima coluna este será o nosso assunto.


Dr. Lucas Nápoli – Psicólogo/Psicanalista; Doutor em Psicologia Clínica (PUC-RJ); Mestre em Saúde Coletiva (UFRJ);  Psicólogo clínico em consultório particular;  Psicólogo da UFJF-GV; Professor e Coordenador do Curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras GV e autor do livro “A Doença como Manifestação da Vida” (Appris, 2013).


As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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