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PAPO DE BOLEIRO

Luiz Alves Lopes

ENON GOUVEIA: DELEGADO OU TREINADOR?

Houve tempo em que o Hospital Municipal de Governador Valadares, por longos anos uma obra e esqueleto inacabado, abrigava “secos e molhados”, incluindo escritório da Liga de Futebol Amador e dependências da Polícia Federal.

Quem não se lembra de Custódio de Azevedo BEIRAL, então Delegado de Polícia Federal, posteriormente ocupando a chefia de gabinete de notável Prefeito Municipal? Em espaço acanhado, a “Federal” funcionou lá para as bandas da rua Teófilo Otoni. E a LIGA também.

Raimundo Monteiro Resende – que escreveu seu nome na Constituição de 1988, enquanto Prefeito Municipal desalojou “gente boa e não boa” e fez funcionar o Hospital, que não se sabe se Municipal ou Regional.

A Liga foi funcionar em sala do imóvel de Mendes Barros, na Marechal Floriano, e a Polícia Federal, contemplada, passou a ocupar prédio escolar encostado no Country Club, onde hoje funciona a RISP.

Aposentado o Dr. Beiral, por aqui passou, por curto período, o ex-atleta profissional RAMON, com passagem pelo Inter de Porto Alegre e América do Rio (dos bons tempos) e que se tornara Delegado Federal. Por ser “peladeiro”, tivemos boa convivência (o Lubumba serve como testemunha).

Ficou pouco tempo em Valadares, repita-se.

Aí minha gente, à frente da FEDERAL em Valadares, sisudo e com cara de poucos amigos, aparece um tal de ENON GOUVEIA, tendo a tiracolo Ademir, Serginho, Kleber, senhor Jorge e Ilídio, dentre outros.

Como não se pode mais chamar ninguém de “negão”, o mulatinho ILIDIO, com pouco mais de 120 quilos, nas horas vagas fazia as vezes de comentarista esportivo na rádio Ibituruna. Coisas de Beto Teixeira! Era duro de ouvir, mas…era da Federal, daí outra sorte não nos restava a não ser elogiar e aplaudir.

Serginho era goleiro dos bons e Kléber, extraordinário atleta de basquete. Ademir e seu Jorge, extraordinários profissionais.

E o HOMEM de Niterói-RJ? Foi parar no COOPEVALE. Batia uma bola “descalço”, papo agradável, altamente polido, cativante, interessado, envolvente e participativo. Caiu nas graças da “boleirada”.

Dava treino, viajava, ministrava palestras, orientava e tinha um olhar diferenciado para os mais humildes. Em especial para os integrantes da “seleção do Birila”, tidos como reservas ou aspirantes.

Não discriminava ninguém. 

Alguém se lembra do Bidico? Do Cospe Verde? Do Mauro Lúcio (irmão do Bigorna)?

Doutor ENON GOUVEIA – Delegado Federal. Por aqui militou por mais de 10 (dez) anos. Não adianta procurar na mídia (jornais e TVs) porque nada encontrarão.  Discreto e avesso a badalações. Profissional exemplar. Extremamente humano.

À frente do Coopevale, dentre tantos, dois registros: certa feita, dirigindo o clube contra o INTER, lá no caldeirão, surpreendeu a todos com seus conhecimentos e inovações, fazendo bonito pra chuchu. Era final de campeonato. Precisa dizer quem foi campeão? Desnecessário.

  De outra feita, lá em Manhuaçu, frente ao Fluvasan, em disputa regional, a “coisa” esquentou e ficou preta, e os policiais (em número reduzido) não davam ao trio de arbitragem a cobertura necessária. Diante dos excessos em termos de violência, o treinador tentou intervir.

Os policiais se alteraram e pronunciaram impropérios. ENON exigiu respeito.

Os policiais retrucaram, aumentaram vozes e palavreado e pediram que ele se identificasse. A contragosto acabou fazendo. Quantos constrangimentos!

Nosso personagem se aposentou e por aqui ficou. Adquiriu apartamento nas proximidades do campo do médico Lima Filho, na Ilha dos Araújos. E foi parar em nosso escritório no edifício Fortaleza, levando consigo notável biblioteca e passando a interagir no atendimento a pessoas desvalidas, pobres no sentido legal, na área penal.

Conhecimento e experiência, as tinha de sobra. Como defensor, foi parar na Tribuna do Tribunal do Júri da Comarca. Belas e palpitantes atuações.

Dava gosto vê-lo defendendo fervorosamente suas teses. Voz pausada, sem gritos e ofensas. Sem teatro. Procurando sempre ser coerente. Respeito profundo pelo Conselho de Sentença.

O tempo passou, não importando quanto tempo. Com voz pausada, com relativa emoção, vieram o aviso e a comunicação de que estava de partida, retornando a sua NITERÓI. E fez um registro, quem sabe um desabafo: “A assistência às pessoas simples é gratificante para quem a pratica, porém pouco notada e reconhecida; na maioria das vezes desvalorizada”. Deixou a entender que as próprias autoridades, com raríssimas exceções, não valorizam tal conduta. Sábia observação!

Valadares é uma cidade sem memória. Quantos personagens, quantas coisas, passagens e episódios bons, construtivos e interessantes não foram registrados, sendo levados pelo vento. Uma pena, uma lástima! As coisas e episódios ruins, negativos, receberam e continuam a receber destaques e atenções generalizadas. Estes não podem cair no esquecimento. Este o tempo em que vivemos.

Anualmente se realiza em Valadares o Encontro de ex-atletas e ex-dirigentes esportivos. Afora confraternizações, ações solidárias e parte musical, bate-papos e histórias as mais diversas valorizam o encontro. Em algumas oportunidades o nome de Enon Gouveia é lembrado e reverenciado por suas virtudes e qualidades.

Quem com ele conviveu, em especial os do mundo da bola, guardam lembranças que não são poucas.

Doutor Enon Gouveia: Delegado Federal ou treinador? Tudo isto e muito mais. Gente que é gente. Que por aqui passou e deixou uma saudade danada.

N.B. – Deixou-nos Luiz Bento Macêdo (Marreco). Ex-atleta, ex-dirigente esportivo e advogado. Esteve à frente da Liga de Futebol Amador em inúmeras oportunidades, tendo ainda presidido o Esporte Clube Democrata em momento difícil.

Também partiu “Arrastão”, zagueiro resoluto, com passagens por inúmeros clubes valadarenses.

Verdadeiramente, a vida é um sopro. O mundo esportivo valadarense ficou mais pobre.

  (*) Ex-atleta

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