Caros leitores, enquanto você lê o jornal, há máquinas escrevendo textos, atendendo clientes e tomando decisões em tempo real. Estamos falando do futuro que chegou. A Inteligência Artificial Generativa está transformando silenciosamente o mercado de trabalho no Brasil, e as consequências disso são muito mais próximas e graves do que se imagina.
Diferente da automação tradicional, que substituiu operários por braços mecânicos, a IA atual é capaz de pensar, escrever, criar imagens, tomar decisões e até simular empatia. Não se trata mais de apertar parafusos. Trata-se de substituir cérebros humanos.
E quais profissões estão desaparecendo? Muitas. Operadores de telemarketing já vêm sendo substituídos por robôs com vozes naturais. Redatores e revisores perdem espaço para softwares que criam textos em segundos. Caixas de supermercado, atendentes de loja e designers gráficos iniciantes estão sendo deixados de lado por soluções automatizadas que fazem mais, em menos tempo e com menor custo.
Em Minas Gerais, essa mudança já pode ser percebida em diferentes regiões. Em cidades como Belo Horizonte, Uberlândia e Governador Valadares, empresas de atendimento ao cliente adotam robôs de voz com inteligência artificial para economizar salários. Escolas da capital já usam IA para corrigir redações e criar avaliações personalizadas. Hospitais experimentam diagnósticos automatizados por IA, reduzindo o tempo dos exames e o número de profissionais envolvidos. No setor industrial, fábricas no Vale do Aço vêm adotando sensores inteligentes e robôs para tarefas antes operadas manualmente. Até no comércio do interior mineiro, pequenos empresários recorrem a chatbots e sistemas de autoatendimento para evitar a contratação de funcionários. É a digitalização econômica batendo à porta da economia tradicional.
Mas será que isso é só ameaça? Nem tanto. Para cada função que desaparece, outras surgem: programadores, analistas de dados, operadores de sistemas de IA, engenheiros de automação, entre outros. O problema é que esses novos empregos exigem alta qualificação técnica e domínio de ferramentas que ainda estão fora do alcance de grande parte da população brasileira, especialmente jovens de baixa renda e trabalhadores com escolaridade limitada.
Essa revolução silenciosa pode aumentar a desigualdade social. Sem políticas públicas urgentes de qualificação profissional e inclusão digital, teremos uma multidão de pessoas descartadas do mercado formal, condenadas à informalidade ou ao desemprego permanente.
É preciso que governos estaduais e municipais ajam rápido. Programas como os oferecidos pelo SENAI e SEBRAE em Minas são valiosos, mas ainda insuficientes diante da velocidade com que o mundo está mudando. É necessário investir em formação tecnológica desde o ensino médio, apoiar iniciativas de requalificação para adultos e criar políticas de transição para quem será substituído.
A inteligência artificial não é uma ficção científica. Ela já está decidindo quem trabalha, quem será promovido e quem será dispensado. O futuro chegou – e ele veio sem aviso.
(*) Jornalista e escritor | Especialista em Ciência Política
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