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Ferramentas

Marcos Santiago

Não me quero polemizar. Ainda assim, arrisco entre o laço da forca virtual e a guilhotina dos inflamados, certo de que a cura está posta sobre a mesa do diálogo e que fora dela, nos resta a vingança ou a barbárie.

Todos nós desejamos um país forte, bonito e seguro. Uma nação sem pobreza e desenvolvida. Uma comunidade de gente responsável e ética, onde todos sejam reconhecidos como cidadãos, de fato e de direito.

Certo é que uns acreditam que isso tudo somente é possível com a atuação de um ente moderador forte, o Estado. Outros acreditam que cada um é plenamente responsável pela sua existência e desenvolvimento, totalmente livre para se estabelecer. Outros acreditam que é preciso conjugar um Estado apoiador com indivíduos independentes, em equilíbrio.

Todos crêem em algo melhor, a ser construído, mas discordam das ferramentas. As ferramentas.

Por vezes se agridem e se dispersam por discordar da necessidade de um calçado maior ou menor para os pés alheios.

Entre nós há aqueles que têm saudade da vida instintiva de caçador-coletor com suas lanças e flechas de sobrevivência. Há aqueles que vieram de um reino distante, abduzidos pela fauna e flora terrestre, e aqui estão por uma boa ou má intenção. E temos aqueles que caminham sobre um esqueleto ereto, entre os chimpanzés e os extraterrestres. Enfim, no limiar da tarde, essa parece a carapuça que melhor nos serve.

Todos têm fé. Em algo ou em alguém. No que foi escrito, no que foi visto, no que foi falado, no que foi tocado, no que foi experimentado, no que foi frustrado. Fé no divino, no humano, nas leis da física ou no abraço materno. Fé na dúvida de quem é pequeno o bastante para bater asas rumo ao desconhecido e na certeza de quem necessita terra firme para fincar os pés.

Todos queremos respeito. Respeito ao patrimônio, ao nome, à memória, à crença. Respeito ao trabalho bruto e ao esforço intelectual, ao ócio criativo e ao serviço devocional. E respeito aos frutos e resultados que cada um proporciona. Respeito ao universo de possibilidades que nos faz gente e que nos capacita a coexistir.

Somos tão diferentes nas nossas igualdades que a dor do outro parece estar longe. Tão iguais nas nossas diferenças que o sangue que corre em minhas veias parece mais vermelho. O sorriso, a lágrima, a fome, o teto, a frigidez emocional e o cafuné são aparências no espelho. Até o dia em que nos damos conta de que aqueles olhos na fotografia, aquelas mãos da tela, aquele sussurro na esquina, aquela ausência na janela e aquela risada do outro lado da cidade somos nós.

Nós! Esperando pela destreza de nossas ferramentas.

É o emprego de nossas ferramentas que dizem o que somos.


santiagoseven@bol.com.br

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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