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Eu amo

por Marcos Santiago

Já faz algum tempo que postagens e mídias dão notícia de um tal prefeito, lá pelas bandas do sudeste brasileiro, que deixa seu gabinete para se dedicar ao trabalho pesado pela cidade afora. Pinta escola, cuida do jardim da praça central, retira lama de inundação e ainda come marmita no intervalo. Confesso que não sei se o admiro por experimentar o labor muscular, debaixo do sol, ou se o censuro pelo uso da imagem para fins eleitorais. Não sei. O povo já não duvida da capacidade maquiavélica de seus políticos. Todavia, não consigo administrar a ideia de que sempre desejamos políticos que pendurem a  gravata, para pegarem no cabo da enxada em prol do Brasil, e quando o temos, agimos com desdém. Preciso amadurecer a questão. É que por vezes imagino a comitiva internacional sentada, com as pernas cruzadas, aguardando um presidente terminar de aguar as plantas, da pracinha do bairro, para, então, vir deliberar sobre as medidas, para conter uma ou outra pandemia global. Também construo, mentalmente, a imagem de um Estado decidindo sobre os rumos do desenvolvimento econômico e social, enquanto o tal governador pinta a importante fachada da escola. Louvado seja, se o fizer fora do expediente. Enquanto milhares de processos se arrastam caquéticos pelas cortes intergalacticas, ministros se ausentarem para deliberar sobre o coffe break não cabe.

– Mister President! O país está sob ataque nuclear, o que fazer? 
– One minute, please! Estou aparando a grama de trás da Casa Branca…

Não pasmem! Não há quase nada de tão errado nisso! É que fica muito mais em conta pagar um pintor, ajudante ou jardineiro. Senão, faríamos eleição municipal para o florista. É que se dissemina a premissa totalitária de que todos fazem de tudo, ao mesmo tempo. Soa como um mantra para o homem moderno, mas é mais precariedade que flexibilidade. Dificilmente iria confiar a cirurgia vascular de um ente querido a um engenheiro civil. Da mesma forma, não contrato o cirurgião para erguer a casa onde meus filhos vão se abrigar. O super-herói pode até dominar, com excelência, ambos os ofícios [algumas mulheres se saem melhores], mas não temos tentáculos. Quem acampa tal multiplicidade e sobreposição tem bateria curta e larga margem de erro. Gente é flex, no processo evolutivo, mas esqueça a ideologia de se transformar em total flex, ou se perderá de si mesmo para se eternizar na lápide de elogios mórbidos.

Na camisa daquele prefeito vem a propaganda: Eu amo a cidade tal. Minha humilde autossugestão é deixar de amar isso ou aquilo restritivamente e apenas amar. Eu amo e ponto. Já é meia galáxia andada. 

(*) santiagoseven@bol.com.br

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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