‘Estratégias nutricionais poderiam ajudar a população’

FOTO: Kissyla Pires

GOVERNADOR VALADARES – Thalisson Gomides (*), coordenador do curso de Farmácia da Univale, explicou em detalhes a pesquisa feita com crianças de um distrito de Valadares e como o curso tem contribuído para a ciência e melhorias na saúde da região.

Também explicou as áreas de atuação do farmacêutico e as razões de muitos, atualmente, temerem as vacinas.

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FRED SEIXAS – Quais são as pesquisas que vocês desenvolveram recentemente no curso de Farmácia?

THALISSON GOMIDES – O curso de Farmácia ele vem contribuindo não só com o ensino, mas com a pesquisa na Univale e na região há anos. Nós tínhamos o Mestrado em Ciências Biológicas, que infelizmente, hoje não existe mais. Mas desde há 15 anos tem pesquisas de professores que foram nossos orientadores no doutorado. Nossos professores e, nós, como professores, temos estudado doenças que são muito frequentes na nossa região, chamadas de doenças tropicais negligenciadas, como a esquistossomose, leishmaniose, hanseníase, tuberculose…Muitas delas endêmicas na nossa região. Então estudamos algumas dessas doenças, aspectos imunológicos, diagnósticos e tivemos como contribuir com a ciência, de fato, nesses últimos tempos.

FRED SEIXAS – E com a qualidade de vida das pessoas…

THALISSON GOMIDES – Com certeza. Se a gente descobre um jeito de diagnosticar de forma mais precoce, antecipa o tratamento e melhora a vida das pessoas. E a gente tem contribuído nisso.

FRED SEIXAS – Uma dessas pesquisas foi feita com crianças do distrito de Xonin?

THALISSON GOMIDES – Nos últimos meses a gente vem estudando os distritos de Governador Valadares e áreas nesses distritos onde a gente encontra maior vulnerabilidade a infecções, por exemplo, doenças parasitárias em crianças, algo que nos chamou a atenção. Enquanto a gente desenvolve estudo clínico em Xonin de Cima, nossos alunos desenvolveram uma revisão sistemática sobre o efeito de alimentos fortificados na vida, na saúde, especialmente, na nutrição das crianças. Um pouco sobre a quantidade de hemoglobina, hemácias, parâmetros que nós chamamos de hematimétricos, que têm relação com a anemia. Os alunos foram estudando isso na literatura geral e foram produzindo esse artigo, que foi publicado, que fala sobre os benefícios dos alimentos serem fortificados com ferro para, de certa forma, prevenir que essas crianças desenvolvam anemia, mesmo estando em uma área suscetível de infecções parasitárias, por exemplo. Mesmo estando vulnerável a infecções, estratégias nutricionais poderiam ajudar a população.

FRED SEIXAS – O curso de Farmácia, então, não é focado apenas na questão farmacêutica, medicinal, como imagina-se?

THALISSON GOMIDES – O curso de Farmácia, muitas vezes as pessoas que não conhecem, não compreendem a gama de possibilidades que nós temos como profissional. Temos, sim, as áreas dos medicamentos, tanto na dispensação, na venda, como na produção. É uma força exclusiva do nosso curso. Só nós podemos lidar e assinar, resguardando os medicamentos. Mas nós temos uma gama de outras possibilidades, como o controle de qualidade na indústria, que pode ser farmacêutica ou alimentícia, nós temos também as áreas de pesquisas, com mestrados e doutorados. Nós temos o serviço público no setor de gestão. Temos uma gama de outras possibilidades. Não posso esquecer também das análises clínicas. Nós temos uma série de diagnósticos e laboratórios que têm o farmacêutico como sendo aquele centro de referência para aquele serviço. Em Valadares nós podemos citar duas ações farmacêuticas muito importantes: uma delas no tratamento oncológico, no qual precisamos do farmacêutico para a diluição dos medicamentos, para ofertar o medicamento na concentração adequada. E nenhum outro profissional pode fazer isso. Só o farmacêutico. Nós temos agora também em Valadares a Hypofarma, que é uma indústria farmacêutica, produzindo em larga escala. Então não precisamos só de um, mas de vários farmacêuticos. Então são várias possibilidades que nosso curso oferece.

FRED SEIXAS – Então tem uma ampla oferta de trabalho?

THALISSON GOMIDES – Sim. Em ambas subáreas da Farmácia, tem uma escassez de mão de obra, especialmente a qualificada e experiente. Nós temos observado nos últimos anos, os diagnósticos saindo da questão de ser apenas um hemograma, de diagnósticos rápidos, para outros, como foi na covid-19, o raspado no nariz, o swab nasal para uma detecção de DNA. Nós chamamos isso de diagnóstico molecular. E agora outras doenças estão sendo detectadas de forma molecular. Então o farmacêutico pode e está inserido nesses centros que fazem esse tipo de diagnóstico para detecção de DNA e RNA.

FRED SEIXAS – Aproveitando que estamos falando sobre a covid-19. Muitas pessoas hoje estão com medo de se vacinar. Isso tem base?

THALISSON GOMIDES – Bom. O medo é compreendido quando a pessoa não conhece. Todos nós temos medo do desconhecido. E as pessoas não compreendem bem o que é uma vacina e como ela é produzida e desenvolvida. Então eu compreendo o medo. Agora não compreendo de forma alguma a forma como é dito hoje, da certeza de não fazer efeito, de efeitos colaterais absurdos que estão sendo discutidos, os mecanismos para desenvolver o medo nas pessoas. Esses já caíram por terra e não fazem sentido. Mas quando entra na mente de uma pessoa que não tem os conhecimentos básicos, acaba gerando confusão. Para a produção de vacinas são feitas uma diversidade de etapas, ensaios laboratoriais, ensaios clínicos, que vão seguindo outras etapas que levam meses ou anos. A vacina só vai chegar à população se ela for vencendo essas etapas, especialmente [nos quesitos] de segurança. O que é segurança? É garantir que ela não vai causar um efeito colateral significativo, um mal significativo para a pessoa.

FRED SEIXAS – Tipo virar jacaré?

THALISSON GOMIDES – Sim [risos]. E outros como, por exemplo, causar óbito em alguém. E outro quesito é ter eficácia, que é garantir que aquela vacina, de fato, vai proteger, vai gerar anticorpos. Então a vacina para ser distribuída precisa passar por todos esses protocolos, incluindo outros da ANVISA, que é muito séria. Não é de uma hora para outra que ela será aprovada. Então a vacina passa por uma série de etapas. Garantindo a segurança, garantindo a eficácia e depois validada por um órgão, aí, sim, será distribuída.

(*) Thalisson Artur Ribeiro Gomides é Doutor em Ciências Biológicas com Ênfase em Imunologia das Doenças Parasitárias pela Universidade Federal de Ouro Preto (2020), Mestre em Ciências Biológicas pela Universidade Vale do Rio Doce (2014). Graduado em Farmácia pela Universidade Vale do Rio Doce (2011). Atualmente é coordenador do Curso de Farmácia da Univale, onde ministra as disciplinas Imunologia, Fisiologia e Farmacologia. No âmbito da pesquisa, atua na identificação de perfis imunológicos associados à Doenças Tropicais Negligenciadas

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