A chegada dos italianos ao Brasil e ao Vale do Rio Doce

FOTO: Kissyla Pires

Pesquisadora da Univale conta como a migração italiana contribuiu para o povoamento do Leste de Minas

GOVERNADOR VALADARES – O Abre Aspas desta semana é sobre a história da chegada de italianos ao Brasil. Na entrevista abordamos ainda como eles influenciaram a economia e a cultura brasileira.

Quem conta essa história é a professora mestre Sandra Nicoli, que estuda o tema desde sua graduação pela Univale. Natural de Itueta, a historiadora é descendente de italianos e revela que o Brasil acabou criando uma “italianidade”.

Confira a entrevista completa em nosso site, ou em nossos canais no YouTube e Spotify.

FRED SEIXAS – Quando os italianos chegaram ao Brasil?

SANDRA NICOLI – O Brasil sempre teve a presença italiana. Até 1854 essa presença era esporádica. Mas em 17 de fevereiro de 1874 chegam ao Espírito Santo famílias de italianos vindas do Vêneto e do Trentino Alto Ádige. Eles chegam a Vitória, numa grande embarcação conhecida como La Sofia. Ficam por cinco dias em mar e depois começam a desembarcar e ir para as hospedarias. Os que não tinham nenhum sintoma [de problema de saúde] começam a ser encaminhados ao distrito de Santa Cruz, que fica em Aracruz.

FRED SEIXAS – Por que vieram para o Brasil?

SANDRA NICOLI – Pietro Tabacchi, que era um grande empreendedor e fazendeiro italiano, tem toda uma estratégia para trazer essas famílias ao Brasil. Era uma tentativa de trazer famílias italianas ao Brasil, através de uma parceria com os governos, devido a um contexto que a Itália passava, causado pela modernização, que gerava naquele período fome e miséria. O Brasil, no entanto, necessitava de mão de obra. Estrategicamente, os governos brasileiro e italiano auxiliam e chegam 388 famílias a Vitória. Essas famílias vão para a fazenda do Pietro Tabacchi, a Nova Trento. Depois de um tempo que ficam ali eles não concordam com algumas condições subumanas. Alguns retornam para a Itália, outros vão para o Sul do Brasil e outros retornam para Vitória e são direcionados para o Núcleo Colonial Timbuy, que atualmente é a região de Santa Teresa, no Espírito Santo. Essas famílias dão início à grande imigração italiana no Brasil, que neste ano está completando 150 anos.

FRED SEIXAS – E quando eles chegam a Minas Gerais?

SANDRA NICOLI – No território específico que eu trabalho é a partir de 1918. Porque tem uma nova estratégia de ação de governos estaduais. O Espírito Santo começou a ter muitas famílias, o espaço começou a ter muita mão de obra e precisou se espalhar. No início isso acontece no próprio Espírito Santo. E o Vale do Rio Doce tinha a necessidade de povoamento. Não de colonização, mas de povoamento, visto que o Vale do Rio Doce foi a última região de Minas a ser povoada. Isso vai dar um novo direcionamento de divisa de Minas com o Espírito Santo, que sempre foi considerado uma cortina verde, uma barreira para que não escoasse as riquezas de Minas Gerais. E por um tempo essa região não tinha povoamento. A solução, então, foram as famílias de italianos no Espírito Santo se dividirem. Até porque aqui as terras tinham um valor mais em conta do que no Espírito Santo. Se no Espírito Santo você conseguia comprar, por exemplo, quatro alqueires de terra, em Minas dava pra comprar sete, oito. E era uma solução para os próprios governos e para essas famílias. Aí quando eles chegam em Minas, em Santa Rita do Itueto e Itueta, vêm italianos que nasceram na Itália e filhos de italianos que nasceram no Brasil, mas eles continuam dizendo que são italianos. Nessas migrações internas que ocorrem, a italianidade é evidenciada, mas a brasilidade também é. Porque ao mesmo tempo que vão tendo novas gerações, o distanciamento com a terra natal acontece. Somos italianos, há muita cultura, há o sentimento de pertencimento, identidade, memória, mas o que te define como italiano?

FRED SEIXAS – Como era a questão da língua italiana, já havia uma padronização?

SANDRA NICOLI – A Itália tinha muitos dialetos e no século XIX ainda não tinha uma padronização. Eles vêm como trentinos, vênetos, lombardos, toscanos, etc. Mas o próprio registro de entrada os torna italianos e quando chegam aqui precisam construir uma italianidade comum, porque são mais semelhantes do que diferentes dos que viviam aqui. Aí vão construir essa italianidade. Com o tempo esses dialetos foram se perdendo. Também houve um contexto da nacionalização do Brasil, que padronizava a língua portuguesa nas escolas. A criança falava o dialeto em casa, mas na escola aprendia a falar e escrever o português.

FRED SEIXAS – E qual destas comunidades italianas que chegaram a Minas?

SANDRA NICOLI – A que eu trabalho é a comunidade Vêneta, incluindo, ainda, uma comunidade em Divino das Laranjeiras.

FRED SEIXAS – Em que tipo de lavouras eles trabalhavam?

SANDRA NICOLI – Em lavouras de café e de subsistência, como milho, feijão, etc. A política de colonização agrária tinha como objetivo a produção de café, que era uma poupança naquela época. Em Minas, a uva e o vinho são cultivados no Sul, em Andradas. Poços de Caldas também tem outro direcionamento. Nas pesquisas que desenvolvi, por questões climáticas, a predominância é o café conilon.

FRED SEIXAS – Como eles contribuíram para o desenvolvimento econômico de Minas Gerais e do Brasil?

SANDRA NICOLI – Um dos grandes objetivos dessa migração era a modernidade e o desenvolvimento econômico. Quando essas famílias começam a produzir e começa a se vender o café, a se formar novas lavouras, o Brasil começa a desenvolver-se. Até porque quando chegaram, o que havia era apenas mata e floresta.

FRED SEIXAS – O que fez os italianos permanecerem no Brasil?

SANDRA NICOLI – No caso deles, eles eram subsidiados pelo governo para formar a terra e viver naquela terra. Então o objetivo maior era viver aqui. Diferente do que vivemos na região a partir da década de 60, quando pessoas daqui começaram a migrar, mas com objetivo de trabalhar, ganhar dinheiro e depois retornar a viver na origem.

Sandra Nicoli abordou ainda a questão de ser italiano com uma brasilidade aguçada. Ela representa Minas Gerais no Comitê de Italianos no Exterior, que tem representações de italianos natos e reconhecidos oficialmente. Confira a entrevista completa em nosso site ou nos canais do YouTube e Spotify.

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