‘Assumi a presidência da AMGV, justamente no início da pandemia’

FOTO: Fellipe Acypreste

Dra. Rosimara Bonfim conta os desafios e aprendizados que ficaram para os profissionais da Medicina durante o período pandêmico

LUIZ GUSTTAVO

GOVERNADOR VALADARES – Ela é presidente da Associação Médica de Governador Valadares (AMGV), cirurgiã plástica e íntima, mãe, professora do curso de Medicina da Univale e ainda atende no Hospital Municipal. Estamos falando da Dra. Rosimara Bonfim, que em meio a seminários e uma agenda corrida, conseguiu atender a reportagem do DIÁRIO DO RIO DOCE para contar sua trajetória. No bate-papo ela falou sobre sua vida, sua especialização, que é a cirurgia íntima, e sobre Medicina, uma de suas paixões. Confira parte da entrevista nesta edição. Para conferir a entrevista completa, acesse nossos canais no YouTube ou Spotify.

DRD – Quem é Rosimara Bonfim?
ROSIMARA BONFIM
– Nasci e me criei aqui em Governador Valadares. Formei em Medicina na Santa Casa de Vitória. Quando fiz residência de cirurgia-geral, era uma época onde existia uma predominância de homens na área. Era raro ter uma mulher presente nesse meio. Me acostumei em ser a única mulher em um ambiente masculino. Fiz especialização em cirurgia plástica no Hospital Brigadeiro, em São Paulo, e, após isso, tive a oportunidade de fazer um estágio nos Estados Unidos. Após toda essa trajetória, voltei para Governador Valadares. Desde então, trabalho no meu consultório e também no setor de emergência do Hospital Municipal.

DRD – A Medicina te escolheu ou você que a escolheu para a sua vida profissional?
ROSIMARA BONFIM –
Eu escolhi a Medicina, mas carrego um sentimento comigo que a área de cirurgia me escolheu. Faço essa afirmação, pois quando optei em me especializar nesse nicho, era uma época muito complexa para mulheres nessa área e eu adentrei nessa especialidade e não consegui mais sair. É uma grande paixão.

DRD – Você é a segunda mulher presidente da Associação Médica de Governador Valadares (AMGV) e a primeira reeleita. Qual o tamanho desse feito para o livro da sua vida?
ROSIMARA BONFIM –
É uma grande responsabilidade e ao mesmo tempo uma honra. Ser indicada para poder participar e finalmente ser votada pelos meus próprios colegas de profissão é um reconhecimento. Agora, ser novamente solicitada a permanecer em um cargo de tamanha grandeza, significa que estou no caminho certo e que eu tenho feito um bom trabalho.

Assumi a presidência da AMGV, justamente no início do período da pandemia e, consequentemente, foi um período que a atenção voltada para os profissionais de saúde teve que ser redobrada. Foi necessário um cuidado maior com médicos, enfermeiros, enfim, todos os seres humanos que estavam na linha de frente de forma técnica e emocional no combate à covid-19.

DRD – Qual foi a lição que você tirou de todo o período da pandemia?
ROSIMARA BONFIM –
Foi uma vivência muito impactante. Em diversas situações, muitos profissionais foram as últimas pessoas a falar com um paciente, antes de ser entubado e, infelizmente, acompanharam a jornada de quem estava ali acometido pela covid-19 até o óbito. Em contrapartida, vivemos momentos de alegria, quando nos deparamos com pacientes que sobreviveram.


Eu vivi na prática como podemos sair deste ‘plano’ em questão de dias de forma rápida e até mesmo surpreendente. Durante a pandemia, era muito comum ver um paciente que estava de certa forma bem e no outro dia, já se encontrava em estado gravíssimo e, consequentemente, vinha a falecer. Aprendi a dar valor à vida.

DRD – Quais são as funções da Associação Médica de Governador Valadares?
ROSIMARA BONFIM –
A Associação Médica é uma entidade que consegue fazer de forma integral o apoio à profissão médica e também à comunidade que esses profissionais estão inseridos. Enquanto o Conselho Regional de Medicina dita as regras do exercício profissional do médico e o sindicato lida com as questões trabalhistas, a Associação Médica procura estabelecer a convivência social e cultural do profissional de Medicina. É através da Associação Médica Brasileira que as especialidades médicas são organizadas.

DRD – O que é a cirurgia íntima, que é uma de suas especialidades?
ROSIMARA BONFIM –
São procedimentos cirúrgicos para mulheres. Com o passar do tempo na vida da mulher, ocorrem alterações que afetam a região genital, como por exemplo: desconforto, irritação e infecções nessa área. Muitas mulheres acham que esse tipo de intervenção cirúrgica é sinônimo de ninfoplastia, que consiste em um aumento dos pequenos lábios da vulva, mas existem inúmeros componentes existentes na cirurgia íntima, podendo ser uma ninfoplastia até uma cirurgia plástica dos órgãos genitais feminino.


É uma cirurgia muito válida, pois envolve várias situações. Muitas mulheres às vezes têm vergonha de falar que estão com algum tipo de desconforto na região genital e acabam escondendo das amigas, do namorado ou até mesmo do próprio marido, um problema que pode interferir negativamente na sua sexualidade e, em muitos casos, as mulheres não sabem que essa situação pode ser resolvida através de técnicas, que não necessariamente são ações cirúrgicas, e que podem resolver uma situação que, solucionada, pode melhorar até mesmo a relação sexual de um casal.


Em todo esse período que eu trabalho com cirurgia íntima, já recebi vários relatos de maridos que me agradeceram pela intervenção cirúrgica que foi feita nas suas esposas. Isso mostra o quanto a cirurgia íntima é benéfica para a saúde da mulher.

DRD – Você é médica e também professora no curso de Medicina da Univale. Para o livro da sua lida, o quanto essa função é importante para a sua história profissional?
ROSIMARA BONFIM –
É uma oportunidade de se atualizar e me manter atenta quanto às novidades da área, mas, ao mesmo tempo, é uma forma de retribuir todos os ensinamentos que eu tive enquanto aluna. É uma chance de ensinar as questões técnicas, mas ao mesmo tempo, passo aos alunos a vivência médica.


Eu tive a sorte de ter um mentor de cirurgia que me ensinou a ser médico e a forma ideal de se relacionar com o paciente. Talvez por isso, o destino me fez ser professora da disciplina de Deontologia, que é justamente a matéria que tem como intuito, instruir as relações da profissão médica com outras ocupações e, principalmente, com o enfermo.

A Deontologia é a ética no trabalho, logo, carrego comigo, uma responsabilidade enorme de ensinar ética para o aluno que está no primeiro período do curso de Medicina.

DRD – Qual o perfil do médico recém-formado atualmente?
ROSIMARA BONFIM –
O objetivo do curso é formar médicos generalistas e humanos. Profissionais que não tenham consigo apenas o conhecimento técnico, mas que possam carregar consigo o entendimento da dor que o paciente está passando, o respeito com quem está ali deitado na cama de um hospital com alguma enfermidade, com a família do paciente. São tópicos primordiais na vida de qualquer médico e essa é uma das finalidades do curso de Medicina da Univale. É ter empatia. Saber se colocar no lugar do próximo.

DRD – Quais são as maiores dificuldades existentes para a classe médica?
ROSIMARA BONFIM –
É um problema antigo e que está presente nesse nicho profissional desde quando me formei: o limite na saúde pública quando o assunto é conseguir ofertar o que há de melhor no mercado para ser oferecido em condições igualitárias para todo mundo.


Com o advento da tecnologia, os medicamentos são caros, assim como os exames e equipamentos. O custo da saúde está muito alto e nós profissionais de Medicina entendemos que, às vezes, o poder público não tem condições de oferecer tudo que a gente necessita para facilitar a vida do paciente.


Um outro desafio é fazer com que as Unidades Básicas de Saúde possam realizar da melhor maneira possível o trabalho de prevenção ao paciente e, consequentemente, evitar que o cidadão necessite dos recursos hospitalares.

DRD – O que a Medicina representa para você?
ROSIMARA BONFIM –
Existência.

DRD – Descreva Rosimara Bonfim em uma palavra:
ROSIMARA BONFIM –
Perseverança.

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