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Crônicas do cotidiano: o rei da mentira

por Coronel Celton Godinho (*)

Todos nós temos inúmeras estórias de fatos para contar, que vivemos em nossa infância. Acontecimentos alegres e tristes com amigos, colegas de escola, das peladas de futebol nos campinhos de terra, nos jogos de queimada nas ruas, das brincadeiras de pique, pega ladrão, enfim, de nossas aventuras de crianças que deixavam as nossas mães e avós de orelha em pé. Foi um tempo de inocência, de muita felicidade e de risos, uma época em que sentíamos medo de coisas como a mula sem cabeça, o homem do saco, os fantasmas da rua.

Tínhamos um amigo na infância que só sabia falar mentira e ficou conhecido entre nós como o rei da mentira. Mentia de tudo e para todos, inclusive para os pais. A gente achava até engraçado quando ele mentia por coisas simples em que não precisava mentir. Era um hábito, sei lá, uma coisa que ele não deixava de fazer. Era instintivo e já estávamos até acostumados. Ele era bom amigo, mas não se podia confiar no que ele falava. Quem nunca teve um amigo assim?

Ele mentia tanto que, até que num dia, mesmo o fato narrado sendo verdadeiro ninguém acreditou nele.

Etimologicamente, a palavra mentir vem do latim mentiri, remete a mens, que quer dizer mente dizer, inteligência, intenção. Ato de alguém que tem mente, inteligência e intenção de modificar informações para obter algum proveito ou se livrar de alguma situação incômoda. Só o ser humano pode mentir. Alguns estudiosos afirmam que a mentira faz parte do cotidiano e do comportamento humano como uma coisa natural. Por exemplo, acho que toda criança que mente para os pais dizendo que está doente ou com dor, é para chamar a atenção para si. Penso que é até natural e sem maldades ou malícia. Sob esse aspecto, muitos pensam que criança não mente, mas chega a certa idade que entendo que é mentira mesmo. E tem ainda a chamada “mentira social”. Existe isso? Essa é aquela inofensiva, leve, justificada pela necessidade ou pragmatismo. É muito utilizada na sociedade e fácil de ser detectada.

Afinal, o que é a mentira? Para os filósofos, é o ato através do qual o emissor altera ou dissimula deliberadamente aquilo que ele reconhece como verdadeiro, tentando fazer com que o ouvinte aceite ou acredite ser verdadeiro algo que é sabidamente falso. Muito interessante as mentiras sociais, pois são muito usadas para evitar brigas, discussões e confusões. O motivo pode até ser nobre, mas não deixa de ser mentira.

Mentir é um processo psicológico e um meio de manipulação. O mentiroso omite a verdade, esconde os seus sinais de nervosismo e sabe elaborar argumentações alternativas plausíveis para o seu ouvinte. A mentira é um fenômeno central nos relacionamentos sociais, sendo que muitos catedráticos no tema acreditam que não se pode defini-la sempre como prejudicial, ou mesmo anormal.

A mentira pode se tornar uma patologia: a mitomania; ou seja, a compulsão em mentir. Ela pode estar associada a outros quadros de doenças psicológicas, como transtornos de personalidade antissocial.

Para mim, mentira é mentira e verdade é verdade, e não há meio termo.

Hoje utiliza muito o termo “meia verdade”, mas o que é isto, senão uma mentira? Omissão da verdade não é mentira? Quem omite a verdade, diz que não. Vem uma pessoa e diz que não disse toda a verdade. Ela mentiu, então? De certa forma sim, pois a verdade é sempre melhor, mesmo que num primeiro momento ela possa trazer dor e sofrimento. Falar a verdade deve ser um hábito diário e ensinado aos nossos filhos, pois não há verdade que fique eternamente encoberta. Para nós cristãos, a mentira é altamente condenável. A mentira foi usada pelo diabo para enganar Eva. Ela é um dos pecados capitais: “não levantarás falso testemunho contra o teu próximo“. No Antigo Testamento, Deus ordena o seu povo a não mentir (Levítico 19:11): “Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo”. No Novo Testamento, em João 8:4, Jesus diz que “o diabo é o pai da mentira”. “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira”. Em Provérbios 6:16-19, Deus mostra seis coisas que ele odeia e uma que abomina: “Olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos”.

Há maneiras de se detectar o mentiroso e uma delas é observar o seu comportamento, e ver se sempre mente. A frase que mais ouvimos durante a nossa jornada de vida é “a mentira tem pernas curtas”, e o pior é que tem muita gente que a usa como arma. Hoje, como nunca, as mentiras são muito usadas, as chamadas FAKE NEWS. Elas encontram facilidade de serem disseminadas, com alta velocidade na internet através das redes sociais. A mentira neste século se tornou o grande mal imoral, pois se fala o falso, da mesma forma que se fala a verdade. Tomemos cuidado com os mitomaníacos de plantão!

A verdade é sempre melhor do que a mentira, por mais cruel e dolorosa que seja.

Ensinem seus filhos sempre a falarem a verdade. Afinal, no fim das contas, a mentira nunca compensa e o juízo será sempre entre você e Deus.

Ah! E quanto ao rei da mentira, o meu amigo de infância, já deixou de ser há muitos anos. Acordou a tempo. Bom para ele e para nós!

(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar.
Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro

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