[the_ad id="288653"]

Como lidar com pessoas tóxicas – parte 01

Dr. Lucas Nápoli (*)

A maioria das pessoas que procura ajuda psicoterapêutica é constituída por indivíduos que gostariam de poder fazer certas coisas, mas não conseguem ou gostariam de deixar de fazer certas coisas, mas não conseguem. Nesse sentido, podemos dizer que o sofrimento que leva a maior parte das pessoas a recorrer à ajuda de um psicólogo é derivado do seu próprio jeito de ser. O que tais indivíduos buscam, portanto, é um processo de transformação pessoal que os faça se tornarem diferentes do que são.

Por outro lado, em meu trabalho como psicoterapeuta eventualmente sou procurado por pessoas cujo sofrimento não decorre diretamente de seu próprio comportamento, mas da convivência com indivíduos tóxicos. Vou citar três exemplos: jovens que se deprimem em função do excesso de proteção e repressão parentais; mulheres que gradualmente foram perdendo o prazer de viver pelo convívio cotidiano com um marido agressivo e intolerante; estudantes com níveis elevadíssimos de ansiedade resultantes da interação com professores excessivamente exigentes. Enfim, são pessoas cujos adoecimento não tem uma etiologia endógena, mas eminentemente traumática. Em outras palavras, são pessoas que não teriam adoecido se não fosse pela interação frequente com indivíduos adoecedores.

É claro que nenhuma enfermidade emocional é causada exclusivamente pelo modo como outras pessoas se relacionam conosco assim como uma pneumonia não é provocada pela simples entrada de um vírus ou bactéria em nossos pulmões. Todo adoecimento, seja ele físico ou psíquico, só se instala quando o organismo apresenta certas predisposições. No caso da pneumonia, por exemplo, o corpo precisa estar com níveis suficientemente baixos de imunidade para que o agente infeccioso possa produzir seus efeitos. A mesma lógica vale para os processos de adoecimento emocional. A convivência com indivíduos tóxicos só será fonte de enfermidade para uma pessoa se ela não estiver “blindada” por uma imunidade psicológica forte.

Na medida em que ainda não descobrimos uma maneira de extinguir por completo os microrganismos que provocam a pneumonia, as duas melhores formas de prevenir a doença são: (1) evitando a entrada do agente infeccioso no corpo por meio de hábitos de higiene, por exemplo, e (2) tomando vacinas, ou seja, fortalecendo o sistema imunológico para que ele seja capaz de oferecer resistência suficiente aos vírus e bactérias que podem desencadear a patologia. Curiosamente, são medidas análogas as que podemos tomar para evitar um processo de adoecimento emocional provocado por pessoas tóxicas. Veja só:

A maneira mais eficaz de prevenir ou interromper uma doença psicológica resultante da convivência com indivíduos tóxicos é simplesmente não se relacionar com eles. Essa é uma alternativa que está ao alcance de muita gente visto que boa parte das nossas relações interpessoais são escolhidas. Um rapaz, por exemplo, que se sente oprimido por sua namorada pode simplesmente terminar o relacionamento com ela. Eu sei que isso não é fácil, mas é simples, não é? Como dizia um sábio judeu do primeiro século, se uma parte do seu corpo te faz mal, corte-a e jogue-a fora. O problema é que muito provavelmente esse rapaz não tem coragem suficiente para romper o relacionamento. Ele já está doente. Nesse caso, será preciso fortalecer seu Eu para que ele consiga olhar para si mesmo com o devido respeito e não mais deixar-se maltratar. Esse é o objetivo buscado no tratamento de pessoas que procuram terapia por não mais suportarem a convivência voluntariamente escolhida com indivíduos tóxicos.

Por outro lado, há certos casos em que não é possível se afastar de pessoas tóxicas. Afinal, tais pessoas podem ser, por exemplo, familiares com os quais o sujeito reside ou indivíduos com os quais é necessário conviver por motivos acadêmicos ou profissionais. Pense no caso de filhas que sofrem com mães tóxicas ou estudantes oprimidos por professores sádicos. Nesses casos, a alternativa de simplesmente romper o relacionamento com as pessoas tóxicas costuma ser inviável ou muito difícil de ser alcançada. O que fazer, então? Tomar vacina, ora bolas! Como assim? Veja: se eu sou obrigado a habitar um ambiente em que certamente existe a presença de agentes infecciosos, a única possibilidade que tenho de evitar em absoluto o adoecimento é fortalecendo meu sistema imunológico; afinal, estando nesse ambiente, dificilmente não serei infectado. Analogamente, se eu tenho que necessariamente conviver com pessoas tóxicas, precisarei contar com um grau de imunidade psicológica suficientemente forte para impedir que o comportamento dessas pessoas seja capaz de me fazer adoecer. Isso é possível, Lucas? É claro que sim. Se não fosse, todas as pessoas que convivem com indivíduos tóxicos adoeceriam, mas não é isso o que acontece.

Algumas pessoas conseguem ouvir afrontas altamente agressivas e permanecerem psicologicamente de pé sem deixarem que tais ataques comprometam sua autoestima, seu senso de valor próprio e sua alegria de viver. São pessoas emocionalmente vacinadas, que desenvolveram uma atitude perante a vida que as torna praticamente blindadas contra qualquer ameaça psicológica externa. Quer saber como é essa atitude? Então, não perca a próxima coluna.

(*) Dr. Lucas Nápoli – Psicólogo/Psicanalista; Doutor em Psicologia Clínica (PUC-RJ); Mestre em Saúde Coletiva (UFRJ); Psicólogo clínico em consultório particular;  Psicólogo da UFJF-GV; Professor e Coordenador do Curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras GV e autor do livro “A Doença como Manifestação da Vida” (Appris, 2013).

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

Cuide do cap table da sua startup

🔊 Clique e ouça a notícia A distribuição de ações em uma startup pode influenciar significativamente seu potencial de investimento e a forma como ela é percebida pelos investidores. Inclusive,

Igreja viva

🔊 Clique e ouça a notícia Caros irmãos e irmãs, desejo que a ternura de Deus venha de encontro às suas fragilidades e os apascente de muito amor, saúde e

Se o esporte é vida e educação…

🔊 Clique e ouça a notícia Luiz Alves Lopes (*) Doutos, cultos e muitos que se dizem entendidos das coisas mundanas, enchem e estufam o peito para dizer que “o