Caros leitores, vivemos em uma era em que os algoritmos moldam nossas percepções de mundo e em todo lugar. As redes sociais, inicialmente criadas para conectar pessoas, se tornaram verdadeiros palanques digitais, capazes de influenciar decisões eleitorais e alterar a dinâmica da democracia. A formação de opinião política, antes resultado de discussões familiares, debates escolares e noticiários, agora é amplamente determinada pelas bolhas de informação criadas no ambiente virtual. A influência das redes sociais é direta e crescente. Segundo um estudo realizado pelo Pew Research Center em 2022, 48% dos usuários adultos nos Estados Unidos afirmaram obter notícias regularmente através de plataformas como Facebook, Twitter e Instagram, já em 2024 o mesmo instituto divulgou que 21% dos adultos dos EUA se informam sobre notícias em perfis de influencers nas redes sociais. Esses números revelam um fenômeno que ultrapassa o simples compartilhamento de conteúdo: as redes não apenas divulgam ideias, mas as formatam.
Essa capacidade transformadora está intrinsecamente ligada à lógica dos algoritmos. Ferramentas que priorizam o engajamento em detrimento da qualidade do conteúdo, promovendo informações que geram mais reações, sejam elas positivas ou negativas. O resultado é um ambiente digital polarizado, no qual as emoções mais extremas, como a raiva e o medo, tendem a ganhar maior destaque. Isso cria um ciclo vicioso. Quanto mais divisiva for uma ideia, maior é sua propagação. As redes sociais facilitaram a formação de bolhas informacionais. Ao oferecer conteúdo baseado nas preferências do usuário, as plataformas restringem o contato com perspectivas divergentes. Cada indivíduo é envolto em uma narrativa que reforça suas crenças, limitando o debate público e enfraquecendo a diversidade de opiniões. A democracia, que depende do confronto de ideias, é reduzida à repetição de um monólogo. Não podemos ignorar o papel das fake news nesse cenário. A disseminação de notícias falsas nas redes é um problema crônico que subverte o processo de tomada de decisões informado. Um levantamento da FGV apontou que, durante as eleições brasileiras de 2018, a velocidade de propagação de fake news foi 70% maior do que a de notícias verificadas. Isso ocorreu porque mentiras bem elaboradas foram mais atrativas e emocionantes, enquanto a verdade muitas vezes é mais complexa e menos sensacionalista.
Por outro lado, as redes sociais também ampliaram a participação política. Movimentos como o #BlackLivesMatter ganhou força global através das plataformas digitais, mostrando que essas ferramentas também podem ser usadas para mobilizações positivas e transformadoras. É preciso reconhecer que o poder dessas campanhas está sujeito à efemeridade do mundo digital, onde a velocidade do consumo de informação muitas vezes impede reflexões mais profundas. Soluções para mitigar os efeitos nocivos das redes sociais não é simples. Governos e empresas precisam trabalhar juntos para criar mecanismos de regulação que priorizem a transparência e a responsabilidade. É fundamental educar a população para o consumo crítico de informação. O desafio é equilibrar a liberdade de expressão com a necessidade de proteger a sociedade da manipulação digital.
Como disse George Orwell, em 1984: “Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado.” Hoje, poderíamos adaptar sua frase para: quem controla o feed controla a consciência. O debate sobre as redes sociais e sua influência política não pode ser tratado com superficialidade; afinal, a democracia não é apenas um regime de governo, mas um compromisso coletivo com a diversidade de ideias e a verdade. Sejamos, então, vigilantes e críticos, para que as redes não sejam os novos big brothers de nosso tempo.
Thales Aguiar – Jornalista e escritor | Especialista em Ciência Política
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