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Pelo segundo ano consecutivo as comemorações religiosas que envolvem a “paixão e morte de Cristo”, culminando com a celebração da Páscoa, foi vivenciado de uma forma atípica.
Geralmente a data fomenta o encontro das famílias e dos amigos para momentos festivos e reflexivos. Para muitos marca o fim do tempo da penitência, do jejum, estimulado pelo período quaresmal.
No domingo de Páscoa é comum grupos se reunirem em torno da mesa, que comumente é preparada pela matriarca, ou ficarem envoltos em uma churrasqueira para festejar. Neste dia, a conversa e/ou os causos são colocados em dia; acontece o encontro de pessoas que comumente no cotidiano da vida nem sempre estão presentes. Mas este também é uma das essências das datas comemorativas: aproximar pessoas.
Mas a covid trouxe a experiência de novos tempos. Fomentou a necessidade de cada um de nós buscarmos, em nosso íntimo, as motivações para continuarmos brindando a vida. Até então era “eu com os outros”e, diga-se de passagem, muitos outros – o maior exemplo seriam a festas de sábado de aleluia, que reuniam centenas de pessoas, e festas por vários pontos das cidades; agora, o tempo é outro: sou “eu comigo mesmo”, ou “eu com meu núcleo familiar”, núcleo este que já não é tão numeroso como em outros tempos.
Mas apesar de tudo que a covid vem nos provocando, o espírito da Páscoa continua presente e, mais do que nunca, nos convocando para que a vida continue vencendo a morte. Vivemos tempos nebulosos, tempos de perdas, tempos de sofrimento, tempos de morte, mas esta é a grande questão que a Páscoa nos remete: acreditar que existem novos tempos.
Se vivemos durante muitos anos as festividades pascais, como já mencionado no início desse texto, agora a humanidade está vivendo a verdadeira essência da Páscoa. Estamos enfrentando o nosso calvário humanitário, com sofrimento e perdas irreparáveis. Mas não podemos sucumbir, temos que encontrar o nosso caminho da ressurreição, que passa pelo enfrentamento da morte, que no nosso caso é essa terrível doença e todas as suas mazelas.
Mesmo oficialmente a Páscoa sendo comemorada no último domingo, provavelmente estejamos vivendo, coletivamente, nossa quaresma, o nosso período de jejuns coletivos: longe de amigos, familiares, festas, encontros. Estamos vivendo nossa “penitência” de forma isolada, ou com poucos, o que faz com que encontremos com nós mesmos.
A vida segue seu fluxo, e os desafios que ela proporciona também. E mesmo sendo uma Páscoa aparentemente diferente, talvez nas últimas décadas ela tenha sido uma das mais verdadeiras, por nos provocar a refletir sobre a sua verdadeira importância. Afinal a vida precisa vencer a morte!
(*) Professor e escritor.
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