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História do Rio Doce – VI

Prof. Dr. Haruf Salmen Espindola

Teresa Carlota Mariana Augusta da Baviera nasceu em 1850, na cidade alemã de Munique (na época Reino da Baviera), e faleceu na cidadezinha medieval de Lindau, em setembro de 1925. Era filha do rei

Leopoldo, que governou entre 1886 e 1912, e de Augusta Ferdinand (1825-1864), arquiduquesa da Áustria e princesa da Toscana. Recebendo a melhor educação possível, que incluía os grandes mestres da ciência europeia, a jovem princesa demonstrou desde o início de sua formação enorme paixão por geografia, biologia e cultura. Ela foi uma grande etnóloga, zoóloga e botânica. Suas viagens como naturalista começaram aos 25 anos de idade. Ela sempre viajava com documentos falsos, escondendo sua identidade. Ela iniciou suas aventuras científicas pelo norte da África, Itália, Ilha de Malta, Portugal, Espanha e França. A sua meta, no entanto, era sair do continente europeu. Foram três viagens à América do Sul, incluindo a Amazônia, a Cordilheira dos Andes, deserto do Atacama e os Pampas argentinos. Esteve na América Central e América do Norte, viajou pela Rússia e Oriente Próximo, sem contar os diversos estudos nos mais diversos países europeus. Ela esteve no Brasil no ano de 1888.

Nas suas expedições, ficava alojada em acampamentos preparados com tendas ou em pequenas pensões e albergues, nas condições mais modestas e no mais absoluto segredo sobre sua identidade real. Ela era acompanhada por uma dama da corte, a baronesa Francisca de Lerchenfeld, que também se mantinha completamente discreta. O mordomo encarregado dos seus serviços era também responsável por empalhar e embalsamar os muitos animais raros encontrados (taxidermista). Da sua comitiva fazia parte um alto oficial, o general Maximiliano von Speidel, encarregado de sua segurança e de providenciar e organizar antecipadamente toda a logística das expedições. Teresa da Baviera era uma eximia fotógrafa, contando com o que havia de melhor. Sua viagem ao Brasil, para o Museu de História Natural de Munique, foi preparada meticulosamente, com o primeiro desembarque em 26 de junho de 1888, na cidade de Belém. Ela veio ao Brasil com o nome falso de Condessa Elpen, que figurava em seu passaporte. Ela percorreu diferentes regiões na sua breve estadia no Brasil, destacando-se seu interesse em conhecer o rio Doce.

A princesa Teresa da Baviera partiu do Rio de Janeiro, a bordo do vapor Maria Pia, chegando ao Espírito Santo no sábado, 25 de agosto de 1888, com destino ao rio Doce, onde pretendia colher amostras da fauna e flora, além do interesse particular em conhecer uma tribo de botocudos pertencente ao grupo dos Nak-nanuk. Teresa da Baviera deixou registrada sua viagem na obra “Meine reise in den brasilianischen tropen” (Minha viagem aos trópicos brasileiros). Assim ela se refere, quando se deparou pela primeira vez com o rio Doce, no sábado, 1° de setembro: “saímos da mata virgem, não pudemos esconder certa decepção. Devido à vazante, o rio tinha a aparência de uma simples água insignificante, que mal cobria as rochas de seu leito, arredondadas pela ação da água ao longo do tempo”. Essa decepção é natural, considerando a importância e a fama do rio Doce, motivo inclusive da sua viagem. Era final do período de estiagem e, portanto, como é do regime do rio Doce, seu nível chegava ao ponto mais baixo, quando as rochas que formam seu leito se apresentam em todas suas formas. Pelo relato da princesa naturalista, podemos ter uma ideia de nossa região no ano em que foi abolida a escravidão no Brasil. As palavras que seguem são tiradas do livro de Teresa da Baviera.

 “Grandes trechos da margem esquerda do rio Doce em direção ao território são completamente desconhecidos e nunca foram tocados pelo pé de um homem branco. Contando aproximadamente um dia de viagem a partir do emboque, toda a terra ao norte do rio se encontra de posse incontestada dos selvagens botocudos. Essas relações de propriedade nós encontramos ininterruptamente rio acima até bem longe no interior de Minas Gerais, chegando até o emboque do rio Suaçuí-Grande.” Segue outro trecho.

“Quando já era noite e necessitávamos da água do rio Doce para os serviços da casa, Frank (guia da expedição) se recusou a ir buscá-la para nós, visivelmente amedrontado. Ele alegou que poderia cair no rio, mas eu suponho que ele estava com medo de acabar sendo vítima de alguma vingança na escuridão da noite. Na sua barra, que avançava por um bom trecho rio Doce adentro, nossa canoa tocou o fundo do rio. A visão dali para cima era encantadora. Linhas de montanhas que se estendiam na horizontal, elevações cobertas de mata, provavelmente constituídas de gnaisse, enfileiravam-se ao longe em lindos matizes cinza. Em primeiro plano as margens do rio cobertas de mata elevavam-se das correntezas; ilhas pitorescas quase se ocultavam por debaixo das árvores. Nessa época muitas árvores encontram-se despidas da beleza das folhas e eram principalmente as espécies de figueiras.”

Vejam, portanto, que nossa terra, no passado como hoje, sempre despertou o interesse global. O fato de termos essa notoriedade, positiva ou negativa, não importa, constitui uma oportunidade e, se podemos aproveitar ou não, dependerá de nossa capacidade de formulação de bons projetos.

Professor do Curso de Direito da Univale / Professor do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT / Doutor em História pela USP

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