Dileymárcio de Carvalho (*)
Não perguntei se é possível alguém trabalhar com a vida desorganizada aqui no título. Mas sim, é possível. A grande questão é a custo de quê? De menos tolerância, menos produtividade e uma sensação de incapacidade para gerenciar situações emocionais simples no dia a dia do trabalho. Esse não é um bom caminho.
E em qual área as pessoas estão com a vida mais “bagunçada” fora do trabalho? Quem pensou nas relações afetivas errou. Os profissionais estão com as rotinas bagunçadas ligadas aos afazeres diários. Coisas “simples” como organizar uma mesa. E não tem ligação com o comportamento procrastinador. Aliás, o comportamento procrastinador é uma das consequências reforçadoras da bagunça.
Nesta altura do ano as metas estabelecidas já se perderam e muita gente não se deu conta dos afazeres do dia a dia. E eles são o equilíbrio para o avanço na qualidade das relações na família, com os amigos, e no tempo que investimos na nossa subjetividade, desde assumindo sem culpa uns hobbies e cuidando da saúde emocional com ajuda terapêutica.
Muita gente procura minha ajuda profissional querendo ferramentas, métodos e técnicas para organizar a vida. Elas existem por aí, mas prometem mudanças mirabolantes e estão na boca de “gurus” que leram meia dúzia de livros e que simplesmente estão falando nas mídias com o discurso de autoajuda e do uso da comunicação.
Quando avalio a rotina de alguém fora do trabalho como demanda para alinhar as emoções, uma identificação padrão é como as pessoas complicam suas rotinas. E a grande questão é simplificar. Isso mesmo, simples assim. Mas o efeito emocional da complicação gera um sistema de dependência que é justificado como falta de tempo, ou como desculpas de se ter uma vida profissional que não me permite fazer e dar conta da rotina.
Então temos muita gente cansada não por causa do trabalho. Mas, na verdade, são as demandas da rotina do dia anterior. A ideia é que estamos reféns do tempo. E, por isso, não fazemos aquilo que mais tem sentido em nossa vida. Só que o mesmo tempo de 24 horas de outra pessoa também é o seu.
Dica prática: avalie o que você chama de mais “bagunçado” fora do trabalho, especifique duas emoções que você sente quando vê essas pendências. Essa incapacidade de solução é a própria falta de estratégia. Então, pense como essas emoções mudariam com as pendências em dia.
A rotina que está pendente dos afazeres pode ser organizada em duas ações concretas que só dependam de você. Então, é aqui que você deve agir. Registre duas formas de revolver e a hora em que você vai executar. Essa é uma ação que gera outros comportamentos. Ao longo de três meses, mantenha essa rotina. Por certo, o resultado não será uma bagunça. Ao mesmo tempo, execute essa prática em outras áreas e atividades “bagunçadas”. Seus sentimentos e moções em relação à “bagunça” vão mudar.
(*) Dileymárcio de carvalho – Psicólogo Clínico Comportamental- CRP: 04/49821 E-mail: contato@dileymarciodecarvalho.com.br
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