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“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele.”

Walber Gonçalves de Souza (*)

            Na era da sociedade denominada de modernidade líquida – em que o individualismo se torna a sua principal característica, e que tudo parece se desfazer em uma velocidade alucinante -, praticamente nada permanece por muito tempo, ao contrário, tudo passa muito rápido, como se fosse descartável. Assim, neste contexto que ganhou o codinome de praticidade, pensar no outro é uma prática que a cada dia paulatinamente fica mais distante.

            Somos marcados por um egoísmo sem limites, pela total desconfiança de uns pelos outros – acredito que nem o mito de Narciso, no auge do seu narcisismo, conseguiria expressar, com tamanha fidelidade, o que estampa nossa sociedade. Olhar para o próprio umbigo nunca foi tão significante. Todavia, estamos pagando um alto preço; basta pensarmos sobre as grandes aflições que assolam a humanidade.

            Nesta direção, nada mais oportuno que o tema proposto pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), para a reflexão da Campanha da Fraternidade de 2020, cujo tema é: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele.”

            Um convite singular, que nos provoca a uma autorreflexão: que o outro precisa ser notado, observado, visto, amado e, principalmente, cuidado. Um convite que propõe a ruptura do sentimento de inércia, de indiferença, de isolamento e, até mesmo, de solidão, que, aos poucos, vão ganhando raízes e se aprofundam em cada um de nós, deixando-nos frios, mesquinhos, cegos e descrentes da própria humanidade.

           Perceber o outro, querer bem ao outro, torcer pelo sucesso do outro, acolher o outro, talvez seja um dos nossos maiores desafios. E não basta só ver, saber que existe, é preciso sentir, ter compaixão, e, acima de tudo, agir, cuidar, colaborar para que o outro cresça também, se desenvolva, tendo as oportunidades que lhe são pertinentes.

            Não podemos mais ser indiferentes à pobreza que se mostra no rosto de milhares de pessoas famintas, perpetuando-se na sociedade das desigualdades que mantemos; não podemos mais ser indiferentes às mulheres que sofrem as mais diversas formas de brutalidades, como se o problema fosse só de quem apanha; não podemos mais ser indiferentes em relação aos moradores de rua, as crianças abandonadas, aos dependentes químicos, como se  não tivéssemos nada com isso; não podemos mais ser indiferentes ao outro como se ele simplesmente não existisse.

            Necessitamos cuidar, deixar brotar em nós esse sentimento de perceber o outro em sua totalidade. Mais do que ver o necessitado, é preciso tentar se colocar no lugar da pessoa, pois só assim teremos compaixão e, por consequência, nascerá a coragem que estimulará a busca por mudanças. Lembrando que existem vários tipos de necessidades, como amor, afeto, compreensão, presença, alimento, dignidade… enfim, necessitamos de tudo que nos torna seres melhores. Tenhamos a coragem de ver, perceber e cuidar.

(*) Professor e escritor.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem, necessariamente, a opinião do jornal.

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