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O RACISMO, O BOM SENSO E TIMÓTEO…

Luiz Alves Lopes (*)

O confronto entre Clube de Regata do Flamengo e Esporte Clube Bahia, realizado no Maracanã e valendo pelo Campeonato Brasileiro, foi marcado pelo episódio envolvendo o alvinegro Gerson e o defensor baiano Ramirez, com respingo no treinador Mano Menezes. Aventou-se a hipótese de ‘racismo’ de que teria sido vítima o defensor do mengão.

Racismo ou algo parecido vem ocorrendo em percentual altamente elevado em todas as partes do mundo, não importando se em países importantes ou não. O tema é grave, polêmico, preocupante e requer cuidados. Cuidados especiais.

Para os mais novos e afoitos, uma observação e alerta: busquem registros e acontecimentos que marcaram a escravidão, em especial em nosso país. Infinitamente maior e mais dolorosa do que a ofensa, o constrangimento e o sentimento repugnante diante de uma manifestação clara e incontroversa de racismo.

O tema é complexo e sua ‘referência’ neste espaço se faz de forma despretensiosa, limitando-se a alguns registros, citações, colocações e até mesmo questionamentos. Um mero bate-papo com integrantes do mundo esportivo, não se sujeitando a análise e julgamento de quem detém conhecimentos, os doutos e cultos especializados no assunto.

Opinião e posicionamento quase todos têm. Agnaldo Timóteo, com seu temperamento explosivo, sem papa na língua, soltou o verbo ao entendimento de que no caso que supostamente vitimou Gerson está havendo muito barulho por pouca coisa e que nervos exaltados em uma partida de futebol invariavelmente levam a algum excesso aceitável. Falou e disse… inclusive outras coisas.

Já foi dito em inúmeras outras oportunidades que a vida é um dom de Deus, sendo curta nossa passagem neste mundo dos humanos. Orgulhosos que somos, nos metemos sempre em competições de todo o tipo e de toda sorte, atropelando, maltratando, humilhando e depreciando o nosso próximo, seja ele quem for.

Queremos sempre o pódio, o primeiro lugar. Quase sempre ignoramos o ensinamento bíblico de que os últimos serão os primeiros… o preço é alto.

Em 10 de dezembro de 1948, em Paris, alguém escreveu que ” todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade, e em direitos. Dotados de razão e consciência, devem agir uns para com os outros com espírito de fraternidade”. Referimo-nos à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Não é preciso dizer mais nada. Basta seguir, basta cumprir, basta respeitar.

O mundo dos esportes, o do futebol em especial, é cercado de desigualdades, omissões, traições, friezas e indiferenças. Não se constata, não se verifica, não ocorre uma luta de classe. Quem está bem não quer se expor. Exceções são mínimas.

Alguem ainda se lembra do surgimento do movimento intitulado BOM SENSO, que visava a moralização do futebol brasileiro, para dar-lhe um mínimo de respeito no planejamento, calendário e outras coisitas mais? Que fim levou?

Perguntem a Paulo André, ex-atleta do Atlético Clube do Paraná – um dos mentores do movimento e que teve a seu lado, por pouco tempo, uma meia dúzia de outros ex-atletas -, quais as dificuldades e entraves enfrentados. O jogo é bruto. É pesado. É desumano. É podre. É covarde. E falta coragem… para enfrentar os poderosos.

Em relação ao racismo, não é e não será diferente. Não será nos canais de tv, jogando para a platéia, que teremos uma solução. Ela passa pela formação (de atletas também) por uma política educacional e por ações concretas encetadas por quem tem credibilidade. Alguém se habilitará?

Será que nos incomoda saber que o negro Barak Obama presidiu por oito anos a maior potência mundial, acompanhado da esposa negra, advogada e escritora Michelle Obama? Que sete negros mudaram a história do futebol mundial, sendo eles um tal de Édson Arantes do Nascimento, acompanhado de Leônidas da Silva, Euzébio, Obdulio Varela, Garrincha, Justin Fashanu e George Weah? E o que falar do quarteto Dorval, Mengálvio, Coutinho e Pelé?

O Brasil deve se orgulhar de valores negros como Elza Soares, Jair Rodrigues, Agnaldo Timóteo, Carmen Silva, Martinho da Vila, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Bezerra da Silva, Marina Silva, Glória Maria, Daiane dos Santos, da campeoníssima Marta do futebol feminino, de Adhemar Ferreira da Silva, que foi bicampeão olímpico do salto triplo, de João Carlos de Oliveira – o João do Pulo, de Robson de Oliveira e tantos outros.

E o que dizer do mineiro Sebastião Bernardes de Souza Prates, o Grande Otelo; de Machado de Assis, fundador da Academia Brasileira de Letras; de Pixinguinha, um dos maiores flautistas e nossa história; da quarentona Formiga da Seleção Brasileira de Futebol Feminino? Todos negros extraordinários.

Querem continuar, vamos lá: o grande ministro Joaquim Barbosa, que se aposentou no STF fazendo história; do americano pastor negro Martin Luther King Jr.; de Zumbi dos Palmares; de Dandara dos Palmares, os dois últimos negros brasileiros do período colonial.

Vai faltar espaço para continuar: Jesse Owens, atleta negro que conquistou quatro medalhas, para desespero de Hitler, e sequer foi cumprimentado; o extraordinário Nélson Mandela e sua vitoriosa trajetória; tem Michael Jackson, tem Muhammad Ali; há Lewis Hamilton, da Fórmula Um.

Alguém já ouviu falar de Maria Firmina dos Reis, primeira romancista brasileira? E da safra Didi, Djalma Santos, Djalma Dias, Ronaldinho Gaúcho, Paulo César Cajú, Quarentinha, Zozimo, Calazans, Sabará, Adílio, Andrade, Jordan, Mauro Silva, César Sampaio, Vladimir, Zé Carlos e de um mundão de ‘moreninhos’ do futebol brasileiro e mundial?

No Brasil e em qualquer parte do mundo, negros, mulatos, pardos e brancos ocupam posições e cargos de destaque ou não. Todos iguais… inclusive na adversidade.

Muito mais do que “vidas negras importam”, devemos lutar para QUE VIDAS com dignidade e respeito IMPORTEM, todas elas, independentemente da cor, da ideologia e da nacionalidade. Que assim seja!

(*) ex-atleta

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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