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O FINAL QUE NÃO FOI FELIZ

Luiz Alves Lopes (*)

Na vida há pessoas extremamente apegadas às coisas e saudosistas. Outras, ao contrário, totalmente desapegadas, frias, realistas e indiferentes. Filiamo-nos à primeira corrente.

Nos preparativos e programações dos eventos anuais dos boleiros e dirigentes esportivos, no tocante à parte musical, sofremos nas mãos e comentários de alguns, em especial Paulinho dos Tamboretes e seus seguidores, quando insistimos na voz do ANTONIO do Conjunto SIR acompanhado de seu violão, nas músicas PORTO SOLIDÃO (Jessé), PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES (Geraldo Vandré), BALADA SETE (Moacir Franco), SONDA-ME (Padre Antônio Maria), SEGUINDO EM FRENTE (Sérgio Reis), VERDES CAMPOS DE MINHA TERRA (Agnaldo Timóteo) e o PAI-NOSSO (cantado).

Todas elas têm significado profundo e tocam fundo nos corações de muitas pessoas. Em especial a canção de Geraldo Vandré, que nos faz lembrar o querido Padre Teodoro Antônio Araiz e seus quase 50 (cinquenta) anos de vida dedicados ao Colégio Ibituruna e à cidade que um dia foi Princesa. Como ele fez acontecer em Valadares.

Reconhecimento ou não é outra história. Quanto a música de Moacir Franco, referenciando aquele que nos deu duas Copas do Mundo e que veio ao mundo na hoje esquecida Pau Grande, faz sentido e provoca reflexões. Os mais antigos, aqueles que viram Mané jogando, que o digam. As demais, também, se justificam. Basta ser saudosista.

É certo que este ano tudo mudou. Há uma pandemia que impõe mudanças, adoção de medidas draconianas e que implicará certamente em um outro “normal”. Que normal será este? Só o tempo dirá. Uma coisa é certa, a curto prazo: aglomerações, nem pensar!

E assim restará, caminhamos para tal, no dia 19 de dezembro, um encontro diferente através da realização de uma LIVE (parte musical a cargo de Pulica, Iuky e Giacomini) e um bingo eletrônico, cuja programação oficial brevemente será dada a conhecer. Nossa esperança é que pelo menos possamos ouvir “O Escudo”, na voz de Agnaldo Timóteo. Simples, não!?

Justamente sobre o filho ilustre de Pau Grande-RJ, que na pia batismal e em sua certidão de nascimento recebeu o nome de Manoel Francisco dos Santos, e mundialmente conhecido como Mané Garrincha, é que queremos rabiscar algumas linhas. Veio ele ao mundo em 28 de outubro de 1933, falecendo aos 50 (cinquenta) anos de idade.

Felizes fomos, em jogos festivos e de exibições, ter, em 3 (três) oportunidades, enfrentado o Mané. Claro, em final de carreira, porém carismático como poucos. Emoções não faltaram! Há uma foto histórica que corre o mundo ao lado de um cabeludo desconhecido (mas que está na foto, né?).

Sobre Mané Garrincha filmes, documentários, livros, palestras e tudo mais ocorreram. Mas não podemos negar que somos desinteressados, comodistas e avessos à leitura ou mesmo escutas interessantes. Optamos por outras…

A meninada de hoje, sonhando em serem craques do futebol (espelhados, bem ou mal, em Neymar, Messi, Cristiano e outros) desconhecem as mazelas do futebol, seu submundo, suas injustiças e suas ciladas.

Mané, descendente de índios, com hábitos simplórios de um caboclo da roça na desconhecida Pau Grande, tinha prazer de jogar futebol no meio das ruas, descalço e descontraído, apegado ainda a caçar passarinhos e jogar sinuca valendo uma cerveja. Para variar, fazia uso da água que passarinho não bebe.

De tanto insistir, reprovado em algumas peneiras ou testes em determinados clubes do Rio de Janeiro, acabou vingando no “glorioso” da Estrela Solitária onde se consagrou, ao lado de Didi, Nílton Santos, Zagalo, Quarentinha, Manga, Amarildo e tantos outros. Títulos vieram em quantidade e qualidade.

Para variar, chegou à seleção brasileira, encantou o mundo e nos deu dois títulos mundiais, figurando ao lado de Gilmar, Djalma Santos, Nílton Santos, Zito, Pelé, Vavá, Didi, Zagalo e outros fenômenos que praticavam o melhor futebol do mundo.

Mané, no tempo da lei do passe e de pouca valorização da carreira de atleta de futebol profissional, quando atletas desenvolviam toda sua carreira futebolística em um único clube (quase sempre o clube de seu coração), se limitou a jogar, jogar e jogar. Assinava contratos em branco com o clube da Estrela Solitária, desassistido que era e com uma simplicidade inaceitável para os dias atuais. Sua narrativa ao jornalista Flávio Prado é comovente. Difícil até de acreditar.

Mas o mais comovente e traumático de seu depoimento é quando fala das famosas “infiltrações” (injeções) a que se submeteu, pelo menos em 6 (seis) oportunidades, para garantir a cota do “Glorioso” em suas excursões à Europa. Sem Mané em campo, a cota era reduzida em 50%. Conta, sorrindo, que os dirigentes botafoguenses diziam que ele era patrimônio do clube e que ele achava bonito. Simplicidade a toda prova.

Ao ser negociado ao Corinthians, passou a perceber que o mundo dos homens era bem diferente de seu mundo. Fora usado ao máximo e agora, em seu declínio decorrente de contusões sérias, era descartado. Mencionou extraordinária proposta da Juventus da Itália pela qual se interessara, inexplicavelmente rejeitada.

No Corinthians pouco atuou, pouco rendeu e por lá pouco tempo ficou. Ainda passou pouquíssimo tempo no CR Flamengo, encerrando sua carreira no Olaria (na realidade carreira que já estava encerrada, sem que se desse conta.

Com a alvorada, veio o crepúsculo, verdadeiramente uma claridade no céu entre a noite e o nascer do sol ou entre seu ocaso e a noite, devido a dispersão da luz solar na atmosfera e em suas impurezas.

Assim foi com Manoel Francisco dos Santos – o Mané Garrincha, verdadeiramente um craque de outro planeta, inigualável na arte do futebol imprevisível, bonito de se ver.

Em 20 de janeiro de 1983 morre Garrincha, mais uma vítima do álcool. O futebol ficou mais pobre. É bem verdade que o alcoolismo sempre se fez e se faz presente no mundo da bola. Há, inclusive presença de outras drogas. Aqui e agora não interessa. O exemplo maior, do grande ídolo, pode provocar maiores reflexões, em especial por parte de quem cuida de nossos jovens e adolescentes.

Manoel Francisco dos Santos – GARRINCHA: Uma carreira futebolística fantástica, brilhante, rica e extraordinária que não teve um FINAL FELIZ.

N.B.- na última terça-feira (8) faleceu o nosso JOTA, goleiro como poucos na história do futebol valadarense e região. Querendo Deus, sobre ele falaremos no próximo episódio.

(*) Ex-atleta

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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