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Meninos e eleições

por Coronel Celton Godinho (*)

Novamente, estamos passando por um período de eleições em nosso grande e lindo país. Eleições para a escolha de nosso futuro presidente.

São eleições que acontecem de 4 em 4 anos, como as para escolher os prefeitos e vereadores, mas não coincidem com as citadas acima. Estranho, não? Poderiam ser todas de uma vez só, como dizia um antigo amigo do curso primário. Mas vai começar a pensar por que não é assim. Bom, não é o caso do nosso colóquio.

Hoje, vejo como eram divertidos esses períodos eleitorais nas cidades onde morei, sob a minha ótica de menino.

Atualmente, vivemos um grande avanço tecnológico, com utilização até de urnas eletrônicas, que dão resultado numa rapidez frenética. Essas “geringonças” provavelmente deixariam meio abobado um cidadão que iria votar lá na roça, no ano de 1920, por exemplo.

Como eram divertidos esses momentos, mesmo observando que para os adultos já era meio tenso.

Ficava a observar e ouvir meus pais, avós e tios discutindo sobre os candidatos, e cada um defendendo o seu lado. Cada um “puxava a sardinha” para a sua lata! Eu não entendia nada! Os candidatos, principalmente, aos cargos de vereador, montavam os seus comitês em pequenas lojas, davam jogos de camisa de futebol a quem fosse lá para apoiá-los. Eu corria atrás de meu pai, para que ele fosse lá pegar pelo menos dois joguinhos de camisa. Para a minha tristeza, e de todo o time da rua, meu pai nunca foi lá pra pegar. Ele nem gostava de passar perto desses comitês. Dizia que eram chatos demais atrás de votos, prometiam tudo antes, e depois das eleições, não voltavam aos comitês nem para agradecer os votos dos eleitores do bairro. Ele tinha razão, mas, na época, eu não compreendia assim, pois só queria o jogo de camisas. Para gente, não importava se vinha com propaganda do candidato.

Ah! E Tinham os comícios nos bairros. Era uma festança, pois chegavam caminhões cheios de gente nas carrocerias, ônibus daqueles bem derrubados e antigos, igualmente “apinhados” de apoiadores, que se amontoavam em volta de um pequeno palanque de madeira, coberto de lona fina, muitas delas cheias de buracos.  Se fosse um candidato mais rico tinha carrocinha de algodão-doce, pipoca e até improvisavam um churrasquinho na calçada.

Meu pai não ia de maneira alguma aos comícios, pois os detestava. Juntamente com toda a meninada, lá ia eu, e meu irmão mais novo, para desfrutar das guloseimas distribuídas em tais eventos. 

Mas os comícios para nós, meninos, não era um momento somente de distração com comilança, mas de muitas risadas, com os fatos hilários que sempre ocorriam.

Os “discursos”, normalmente muito inflamados nos comícios, eram longos, e pouca gente entendia tudo o que os candidatos diziam. Alguns usavam palavras muito rebuscadas e difíceis, parecendo que foram buscá-las num dicionário. Ah! Mas o povo gostava. Diziam: esse é inteligente! Fez faculdade! Outros respondiam: que nada, esse só tem o ginasial e gosta de aparecer e nem sabe o que diz! Rsrsrs

Certa vez, num desses acontecimentos, o candidato após um longo e chato discurso, convidou um cantor para animar a festa. Até aí, tudo bem! Entra um homem com o violão debaixo do braço, senta num banquinho, e é logo anunciado como cantor revelação da principal rádio da cidade, pelo animador. Eita! Já ia me esquecendo de mencionar que já naquela época, havia os animadores, locutores de comícios.

Voltemos ao cantor! Quando ele começou a cantar a linda canção “Garota de Ipanema”, dedilhando o seu violão, que de tão novo brilhava, a turma foi só risada! Só poderia ser uma piada, mas não era. Começou assim: “Óia ê oisa mai inda, mai eia de aça rsrsrs. Gente, o caboclo, o artista, o cantor, era totalmente fanho. Rsrsrs. Deixaram o rapaz terminar a cantoria só por educação e se via muitos tentando não rir, mas onde já se viu isso…

Depois de um tempo, descobrimos ao ouvi-lo cantar no rádio que ele era fanho sim, mas conseguia cantar e que, naquele dia, em sua primeira apresentação, com aquele “tanto” de pessoas, teria ficado muito nervoso.

Aconteceram outros fatos não menos pitorescos, que certamente daria para escrever um livro!

Antigamente, as eleições eram mais divertidas, e os valores eram outros! Tempo em que existia companheirismo e fidelidade, não somente partidária, mas, principalmente, entre as pessoas envolvidas.

Tempos que não voltam mais!

(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar.
Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro

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