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Lembranças e reflexos de uma grande amizade

Luiz Alves Lopes (*)

Dentre os personagens da tradição folclórica do futebol de Governador Valadares – dos bons tempos, repita-se – aflora uma figura emblemática, combatida, invejada, participativa, de ideias firmes e avançadas e de um caráter exuberante, coisa rara nos dias atuais.

Queremos, aqui e agora, de forma simples e objetiva, porém com entusiasmo, reviver passagens interessantíssimas de um cidadão de cor, que na pia batismal recebeu o nome de JOÃO ROSA e que à frente de seu Esporte Clube do RIO DOCE, não somente fez acontecer, mas, de forma inconteste, desenvolveu todo tipo de atividade educadora em relação aos que com ele conviviam e conviveram, não importando se jovem, adolescente ou pessoa já madura, não se limitando apenas e tão somente a ensinar a prática do futebol.

Com as devidas proporções, nos moldes de Telê Santana, orientava, incentivava e motivava a todos, aos jovens em geral, para que estudassem, que buscassem a profissionalização, valorizando a ética, o respeito e conduta. Muitas vezes incompreendido, passou por chato.

Porém, há uma plêiade de pessoas bem-sucedidas nesta terrinha, que reconhecem e agradecem o tratamento recebido do ‘bom crioulo’. Orgulhosamente deste grupo fazemos parte.

Sonho de garoto de bairro: jogar em campo gramado, murado e iluminado. Se possível, com bola BRANCA (nos tempos em que imperava a vermelhona). No bairro de Lourdes, que deixava de ser campo de aviação, em improvisado campo de areia, formou-se o time do EPAMINONDAS. Estamos falando da década de 60, viu minha gente?

Às terças e quintas, ao escurecer, no estádio dos eucaliptos (pátio da então Companhia Vale do Rio Doce), mister João Rosa ministrava treinamentos semanais para a equipe de INFANTOS de seu Rio Doce (na realidade sua coqueluche e colírio dos olhos), dela figurando, dentre tantos, Valtinho, Valfrido, Lambreta, Brandão, Getúlio, Bilana, Guilherme, Doutor Manoelzinho Gomes Pinto, Noir, Maduro, Robertinho Hastenreiter e gente que não acaba mais.

Detalhe: os jogos e treinos eram à noite, sob as luzes dos refletores, sem dúvida alguma uma atração para aquela época. É bem verdade que a iluminação era simplória, inclusive com a utilização de trilhos, porém tudo sintetizando o prestígio que o senhor João Rosa gozava junto à direção da VALE no Rio de Janeiro e Vitória. Dava uma ciumeira danada em seus desafetos, que não eram poucos.

Para completar, AS BOLAS ERAM BRANCAS. Estavam surgindo as bolas brancas…. Que tentação… Que vontade… Percentual altíssimo de equipes de INFANTOS disputava oportunidades para enfrentar o Rio Doce, ainda que sob o risco de sofrerem goleadas. O importante era jogar à noite, sob as luzes dos refletores e com BOLAS brancas.

Sofrendo goleadas que não foram poucas e trajando o manto do ‘time’ do Epaminondas – camisas confeccionadas de sacos de farinha de trigo, bem alvejadas, tivemos a oportunidade de tomarmos o caminho do estádio dos eucaliptos e de suas dependências, convivendo com a figura ímpar de João Rosa por anos e anos, dele recebendo, além de ensinamentos futebolísticos, muito mais para nossa formação enquanto ser humano.

Um dia tivemos que deixar o RIO DOCE em direção ao Democrata Pantera. Não era nossa vontade, mas aí é outra longa história. Houve outro personagem, também extraordinário, que atendia por Dilermando Rodrigues de Melo. Coisas boas da vida…

Muito choro e muitas lágrimas marcaram nossa saída do Rio Doce. Mas houve compreensão, em especial do ‘Paizão’ João Rosa.

Ao término do Campeonato Mineiro de 1969, em que a Pantera tinha, dentre outros, Tonho, Juci, Elcy, Alemão, Itamar, Pinduca,  Coutinho, Valter Cardoso, Toninho, Marco Antonio, Crispim e outros mais – comando técnico de Henrique Frade e preparação física a cargo do inesquecível Tenente [hoje Coronel] Natal, o Diário do Rio Doce promoveu a escolha do melhor atleta do clube, no campeonato.

Lá para as bandas da VALE – liderança de mister João Rosa – foi um tal de ‘comprar’ o DRD, recortar o impresso, fazer o preenchimento e enviá-lo para o endereço indicado. Ditaram normas e elegeram como ‘craque Cinzano’, aquele que burilaram. No futebol tem coisas… Escolheram o filho da terra.

A trajetória de JOÃO ROSA na Companhia Vale do Rio Doce foi simplesmente exemplar. Em todos os sentidos. Das chefias e de subordinados sempre teve o devido respeito. Como ser humano, difícil de ser retratado. À frente do Esporte Clube do RIO DOCE escreveu uma das páginas mais ricas e gratificantes, ainda que contestado em algumas oportunidades. Alguém já disse e não custa repetir que “a unanimidade é burra”.

Do senhor JOÃO e dona Olívia guardamos os melhores exemplos. O que dele recebemos levaremos para a eternidade. A filha Zulma – residente nos EUA – é sabedora de nosso carinho, respeito e agradecimento. Ah, mister JOÃO! Fazes uma falta danada…

(*) Ex-atleta

N.B.1 – De Paulinho Dutra, residindo na Austrália, e do Doutor Gilberto ‘China’ Boechat, oportunos puxões de orelhas em relação ao texto do último domingo: onde se constou rua Ana Neri, na realidade é rua Francisco Sales. É, tem alguns ‘gatos pingados’ lendo o que escrevemos…

N.B.2 – Na semana que se encerra, partiu para a eternidade o ‘velho Zuza’ – Vicente Jorge Filho, de trajetória exemplar no mundo dos homens. Dentre tantos, pai do engenheiro e ex-atleta Húdson ‘Budim” Duarte. Missão cumprida.

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