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Histórias do Rio Doce

Prof. Dr. Haruf Salmen Espíndola (*)

Os rios Paraíba do Sul, Doce e São Mateus formam as principais bacias da região hidrográfica do Atlântico Sudeste. A bacia hidrográfica do Rio Doce compreende uma área de 83.400 km², dos quais a maior parte pertence ao estado de Minas Gerais (86%) e o restante ao estado do Espírito Santo. Os cerca de 3,5 milhões de habitantes estão distribuídos em 228 municípios, dos quais a maioria (85%) tem menos de 20 mil habitantes, sendo que a maior parte desses tem menos de 10 mil habitantes. O Rio Doce é formado pelo rio Piranga, que nasce na serra da Mantiqueira, no município de Ressaquinha, a uma altitude de cerca de 1.220 metros; e pelo rio do Carmo, que nasce na serra do Espinhaço, a aproximadamente 1.580 metros de altitude, no município de Ouro Preto. O rio do Carmo ficou muito conhecido recentemente por causa do desastre de 5 de novembro de 2015, provocado pelo rompimento da barragem de Fundão, da empresa Samarco, pertencente a Vale e BHP. Entretanto ele é um dos rios mais importantes para a formação do estado de Minas Gerais, pois nele os bandeirantes encontraram ouro e às suas margens está Mariana, a primeira cidade do Estado. 

Considerando a nascente em Ressaquinha, as águas do Rio Doce percorrem 853 km de extensão, desde a nascente até o oceano Atlântico, no município de Linhares, no estado do Espírito Santo. Apesar dos formadores nascerem nas montanhas de Minas, depois do encontro das águas dos rios Piranga e do Cormo, a partir do município de São José do Goiabal, logo abaixo da represa de Candonga (Usina Hidrelétrica Risoleta Neves), o Rio Doce corre em altitudes muito baixas, inferiores a 378 m, por cerca de 530 km. Isso faz com que o Rio Doce apresente aspecto de rio de planície, com o curso lento, margens baixas e sujeitas às cheias periódicas. O Rio Doce corre numa paisagem dominada por um vale amplo com terraços e planuras aluviais.

O Rio Doce não é navegável por causa das inúmeras corredeiras e quedas d’água, ou por causa dos enormes bancos de areia no baixo rio. O leito do Rio Doce é formado de rochas que são do período geológico Arqueano e do Proterozoico. Isso corresponde aos primeiros tempos da Terra. O período Arqueano ocorreu entre 3,85 bilhões a 2,5 bilhões de anos; o Proterozoico ocorreu entre 2,5 bilhões e 542 milhões de anos. Durante essas centenas de milhões de ano o Rio Doce produziu uma gigantesca erosão que deu à bacia hidrográfica sua forma característica e o fez parecer um rio de planície. As terras do município de Linhares no Espírito Santo praticamente foi formado pelos sedimentos que o Rio Doce depositou nessas centenas de milhões de anos.

Além dos rios Piranga e do Carmo que formam o Rio Doce, existem outros importantes afluentes, tais como os rios da margem direita: Xopotó, Casca, Matipó, Caratinga (Cuieté), Manhuaçu, Guandu, Santa Joana, entre outros; e os da margem esquerda: Piracicaba, Santo Antônio, Corrente, Suaçuí Pequeno, Suaçuí Grande, Pancas e São José, entre outros. Os afluentes têm características diferentes, pois são profundamente encaixados e cortam regiões de relevo alto e acidentado. Os afluentes correm numa paisagem cuja característica é o resultado do prolongamento das serras que contornam a bacia do Rio Doce e a enquadram: zona serrana do Espírito Santo, ao sul de Lajinha; maciço do Caparaó e planalto de Viçosa; deste ao de Barbacena, ao sul; cordilheira do Espinhaço, que delimita o flanco oeste; Serra Negra e pico do Itambé (2.002 metros), a noroeste. As montanhas que circundam a bacia do Rio Doce têm altitudes que variam de 500 a mais de 2.800 metros.

Fora do vale do Rio Doce, propriamente dito, o relevo apresenta confusas formas, ora com alinhamentos ora sem qualquer orientação, com uma diversidade geológica e de altitudes incríveis. Apresenta as formações de pontões (pão de açúcar); áreas de relevos acidentados e picos elevados, de vales profundos, com os rios caindo em sucessão de cachoeiras. As terras do baixo Rio Doce (Espírito Santo) têm as formações de tabuleiros e a planície litorânea, com restingas, pântanos e formações lacustres, correspondendo ao período geológico do Quaternário, ou seja, os 2,6 milhões de anos mais recentes do nosso Planeta. Se observarmos o mapa das altitudes, a partir da foz do Rio Doce, veremos que terras baixas acompanham a calha, penetrando para o interior, até o Parque Estadual do Rio Doce.

O clima é quente, com períodos bem marcados de estiagem (seca), correspondente ao inverno, podendo prolongar até a primeira quinzena de outubro.

Entretanto o relevo influencia diretamente o clima, amenizando a temperatura à medida que aumenta a altitude. Para verificar isso, basta conferir as temperaturas de Governador Valadares (altitude de 180 metros), Caratinga (altitude de 578 metros), Matipó (650 metros) e Guanhães (altitude 778 m). Na bacia do rio Doce, exceto nas terras altas do Oeste (Serra do Espinhaço), chove relativamente pouco, especialmente no médio vale do Rio Doce, propriamente dito. Essa baixa quantidade de chuvas associada às altas temperaturas, produz uma elevada perda da disponibilidade hídrica. A consequência é a falta de água nas épocas de secas prolongadas, como ocorreu na cidade de Itambacuri no ano de 2015.

Nos primeiros séculos, o Rio Doce foi visitado por 26 exploradores ou aventureiros, desde a primeira expedição comandada por Sebastião Fernandes Tourinho, que partiu de Porto Seguro no ano de 1573.

Continuamos na próxima quinzena.

(*) Professor do Curso de Direito da Univale
Professor do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT
Doutor em História pela USP

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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