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Fome de um futuro melhor

FOTO: Ron Lach/Pexels

por Fred Seixas (*)

Há poucos dias parei o carro em um semáforo no Centro, voltando da Ilha, próximo ao Banco do Brasil. Um garoto se aproximou e me ofereceu doces. Disse que estava vendendo para ajudar a família. Pelo rosto, aparentava ter entre 13 e 15 anos de idade. Pelo corpo e estatura, apenas 10. Magrinho, baixo, de sorriso branco e pele reluzente. Parecia que estava tendo um déjà-vu.

Tinha vivido a mesma cena, com a mesma sensação, há alguns meses, porém, em outro local. Enquanto aguardava a chegada de uma pessoa no Aeroporto Coronel Altino Machado, outro garotinho se aproximou. Devia ter entre 10 e 12 anos. Cabelo encaracolado, olhos negros, grandes, brilhantes. Carregava uma caixa térmica na garupa de sua bicicleta, onde guardava suas guloseimas para vender. Era tão miúdo que a bicicleta, estilo Barra Circular, da Monark, parecia ter uns dois metros de comprimento perto dele. Estava curioso, observava minha máquina fotográfica, já que naquele dia estava a trabalho no local, na cobertura de uma reportagem. Então me ofereceu seus produtos e pediu uma foto sorridente.

Na nossa curta conversa, ficou claro que aquele pequeno homem, que já estava ralando para ajudar em casa, ainda era uma criança inocente. Só queria ver como ele tinha ficado na câmera, enquanto era invisível para muitos que passavam naquela hora pelo local.

“No fundo dos teus olhos”

A cena me fez voltar aos meus 11 anos de idade, quando li o livro “No fundo dos teus olhos”, de Giselda Laporta Nicolelis. Entre vários temas, a obra fala sobre o trabalho infantil e as diferenças socioeconômicas cada vez maiores, que obriga pequenos garotos e garotas a se exporem em busca de dinheiro em uma sociedade cada vez mais cruel, perigosa e predadora. Basta observar o noticiário.

Não sou contra o aprendizado de profissões na adolescência. Acho válido, especialmente se estiver ligado ao ensino. Mas tudo tem a hora certa. Conheço muitos casos positivos de ADOLESCENTES, próximos da fase adulta, que tiveram esta oportunidade como aprendizes e hoje são pessoas bem-sucedidas e responsáveis.

Perspectivas de futuro

Mas fico me questionando quando isso ocorre quando ainda são crianças, em atividades sem supervisão, ao relento e à própria sorte. Tente imaginar por um minuto como deve ser nos bastidores a vida desses pequenos, que, de semáforo em semáforo, oferecem seus doces, balas, sorvetes e água mineral. Imagine o lar onde vivem. Não apenas no sentido físico de ter o que comer, mas no aspecto emocional.

Ainda são tão pequenos, inexperientes, ingênuos e estão aprendendo antes do momento certo, ou melhor, apropriado, que a vida é dura, muitas vezes ingrata e desleal. Que perspectivas de futuro eles imaginam ter? Quais são seus sonhos, medos e angústias?

É duro imaginar que enquanto uns choram pelo time de futebol, outros lutam para ter o básico no período da vida em que deveriam estar livres de ansiedades. Enquanto uns se revoltam por uma derrota política, outros engolem o choro e tentam sorrir para vender seus produtos e conseguirem não apenas alimento, mas manter viva a esperança de um futuro melhor.

Será que conseguirão? Quantos deles? Como e quando conseguirão?


(*) Jornalista formado pela Univale e Editor-Chefe do DIÁRIO DO RIO DOCE

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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