[the_ad id="288653"]

Eu: entre luxo e migalhas

por Ricardo Dias Muniz (*)

O açougueiro irritado com o lixo cheio de restos cortou o nervo da peça de carne recém-vendida. Jogou pela janela que dá para a rua. Imediatamente, altivo, o rei da matilha levantou e saboreou seu espólio de guerra. Era dele, e de mais nenhum outro, o direito de comer primeiro o luxuoso nervo descartado.

Um bom observador consegue extrair de coisas irrelevantes da vida grandes lições. Essa ilustração é um oceano de sabedoria. Ajuda o ser humano a se situar no complexo jogo da vida. Por isso, pode ampliar a motivação e aliviar a ansiedade. Quer ver?

O luxo para uns é o lixo para outros. O fato demonstra que no reino animal, no caso animais de rua de uma cidade do interior de Minas Gerais, os cães se organizam em uma sociedade hierarquizada. A sociedade dos cães é baseada na lei do mais forte. O rei cão de rua precisa proteger sua propriedade: meramente, uma porção de terra próximo a um açougue. Algo muito luxuoso para o cachorro de rua. Veja só que interessante! Ao contrário do que muitos acreditam, existe propriedade privada no reino animal; não existe estado nem leis, mas propriedade privada existe. Isso importa porque provavelmente a Ferrari luxuosa que você vê na rua, e deseja, foi um dia adquirida por alguém que soube defender seu território, que pode ser uma fazenda ou uma empresa. Parece algo absurdo e injusto alguém ter uma Ferrari e outro não. Porém, como os nervos de um boi jogados no chão da rua são limitados, assim também são as Ferraris. Concorda?

Nesse caso, a lição que fica é: o luxo é raro; as migalhas não. Saber isso aumenta a motivação, pois, por mais frustrado que alguém esteja por não dirigir ainda sua Ferrari, dificilmente também não está disputando restos de nervos com os cães de rua. Então, a injustiça de alguém ter uma Ferrari e outro não acaba não sendo tão injusta assim. Pois pode ser que o dono da fazenda que cria os bois abatidos no açougue alimenta com sua habilidade até os cães da rua. E por isso recebe o merecido privilégio: usar o fruto do seu trabalho com o luxo que puder pagar. Até comprando uma Ferrari.


(*) Consultor empresarial, engenheiro de produção, ativista político, colunista de opinião, estuda filosofia e direito.
Contato: munizricardodias@gmail.com.
Redes sociais: https://linklist.bio/ric

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

Cuide do cap table da sua startup

🔊 Clique e ouça a notícia A distribuição de ações em uma startup pode influenciar significativamente seu potencial de investimento e a forma como ela é percebida pelos investidores. Inclusive,

Igreja viva

🔊 Clique e ouça a notícia Caros irmãos e irmãs, desejo que a ternura de Deus venha de encontro às suas fragilidades e os apascente de muito amor, saúde e

Se o esporte é vida e educação…

🔊 Clique e ouça a notícia Luiz Alves Lopes (*) Doutos, cultos e muitos que se dizem entendidos das coisas mundanas, enchem e estufam o peito para dizer que “o