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Cuidar da saúde mental: três dicas preciosas

Lucas Nápoli (*)

Muitas doenças físicas podem ser prevenidas por meio de práticas simples como lavar as mãos e escovar os dentes regularmente, praticar atividades físicas e ter uma dieta alimentar saudável. Quando se trata de saúde mental a situação é um pouco diferente. Não existem comportamentos, práticas e hábitos que sejam capazes de prevenir em absoluto a ocorrência de adoecimento emocional. Isso acontece porque as enfermidades psíquicas são multifatoriais, ou seja, em sua maioria elas não são causadas por elementos isolados como uma bactéria ou um vírus, mas, sim, por um conjunto de fatores específicos que podem variar de pessoa para pessoa. É por essa razão, por exemplo, que alguns indivíduos desenvolvem depressão após a perda de um familiar querido e outras pessoas, passando pela mesma situação, não são acometidas por nenhuma forma de adoecimento psicológico.

Isso significa, então, que não existe nada que a gente possa fazer para diminuir os riscos de desenvolver um transtorno psicológico? É claro que existe! Em Epidemiologia, além dos fatores de risco, que são aqueles que aumentam a probabilidade de uma pessoa ser acometida por certa doença, existem também os chamados fatores de proteção que são justamente elementos que diminuem a probabilidade de adoecermos. No caso da Saúde Mental, alguns fatores de proteção, como a harmonia familiar, por exemplo, não estão sob nosso controle. Afinal, ninguém escolhe a família em que será criado, não é mesmo?

Contudo, existem diversos outros fatores de proteção que dependem das nossas escolhas. Nesse sentido, podemos tomar certas decisões que diminuirão as chances de desenvolvermos alguma forma de adoecimento emocional. Se eu fosse traçar um panorama geral de todas essas ações protetivas, esse texto se transformaria em um livro. Portanto, vou me limitar aqui a descrever três escolhas que, se você fizer consistentemente, a probabilidade de adoecer emocionalmente será reduzida significativamente.

Escolha 01: Cultive bons vínculos. Um dos fatores que mais contribuem para a manutenção da saúde mental é a existência de suporte social, ou seja, de uma rede de pessoas com as quais o indivíduo pode contar seja para compartilhar alegrias seja para recorrer em caso de necessidade ou fragilidade momentânea. Nós somos seres naturalmente inclinados à formação de laços com outras pessoas. No entanto, é comum que, devido a rotinas de trabalho e outras preocupações pessoais, muitas pessoas negligenciem esse impulso espontâneo para o vínculo. Por isso é importante decidir deliberadamente dar atenção para essa dimensão da vida. Todo o mundo sabe por experiência própria quão gratificante e prazerosa é a experiência de interagir com bons amigos e familiares. Trata-se de uma vivência que aumenta nossa potência de agir e reforça a consciência de que não estamos sozinhos para lidar com os problemas.

Escolha 02: faça as coisas que você costuma evitar pelo medo do desconforto. Muitas pessoas fogem de determinadas situações porque se sentem incomodadas ou ansiosas e, com o passar do tempo, adaptam sua vida a essas fugas, tornando sua existência empobrecida e limitada. Há indivíduos, por exemplo, que sentem muita ansiedade quando precisam fazer perguntas em uma sala de aula. A fim de não experimentarem a sensação desagradável da ansiedade, muitas dessas pessoas simplesmente evitam fazer perguntas, o que lhes faz perder oportunidades preciosíssimas de aprendizado. O problema maior é que os danos desse comportamento evitativo não param por aí: ao evitar fazer algo porque se sente ansioso, você acaba enviando uma mensagem autodestrutiva para si mesmo: a mensagem de que você é fraco e não dá conta de fazer uma simples pergunta. Assim, toda vez que foge de uma situação desconfortável, é uma mensagem como essa que você está enviando para si mesmo. Resultado: sua autoestima vai sendo gradativamente deteriorada, pois você vai paulatinamente deixando de ser uma pessoa admirável aos seus próprios olhos. Por outro lado, se você enfrenta a situação e suporta o desconforto, a mensagem que enviará para si mesmo elevará sua autoestima: você ficará orgulhoso de si mesmo e se verá como forte e corajoso.

Escolha 03: desenvolva um amor pelos problemas. Essa recomendação pode parecer completamente absurda para muitos de vocês, mas fará sentido assim que eu a explicar. Veja: nós não podemos evitar o aparecimento de problemas no nosso dia-a-dia, certo? Em certo sentido, podemos dizer até que viver significa resolver problemas. É claro que seria muito bom se acordássemos em um belo dia e tudo estivesse no seu devido lugar e não houvesse nenhum obstáculo para o alcance dos nossos objetivos, não é mesmo? Contudo, esse belo dia jamais existirá (pelo menos, não nesta vida). Enquanto vivermos, nós sempre estaremos às voltas com problemas. Nesse sentido, quanto mais nos colocarmos numa atitude de oposição a eles, lamentando a sua existência e ansiando por uma vida plenamente harmônica, mais nos sentiremos frustrados e mais enfraquecidos estaremos para enfrentar os problemas. Portanto, decida amar o fato de ter problemas, amar a existência de dificuldades, amar as imperfeições da existência. Só assim você alcançará uma atitude básica de enfrentamento frente às adversidades da vida e não se sentirá inclinado a evitar os problemas, sabotando o seu processo de crescimento. Afinal, você não foge daquilo que ama.

Portanto, se quiser de fato diminuir as chances de adoecer emocionalmente, experimente começa a aplicar hoje mesmo essas três dicas: criar e fortalecer vínculos, não fugir do desconforto e amar os problemas.


Dr. Lucas Nápoli – Psicólogo/Psicanalista; Doutor em Psicologia Clínica (PUC-RJ); Mestre em Saúde Coletiva (UFRJ); Psicólogo clínico em consultório particular;  Psicólogo da UFJF-GV; Professor e Coordenador do Curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras GV e autor do livro “A Doença como Manifestação da Vida” (Appris, 2013).

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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