A humanidade está em constantes mudanças, muito impulsionada pela tecnologia, em um ritmo frenético. As relações sociais também sofrem influências de toda maneira. A família tem sofrido muito com essas transformações. O que era já não é mais. Tudo está sendo relativizado e banalizado. A banalização leva o Homem a se procurar, a se situar no tempo e no espaço. A sensibilidade e a capacidade de se indignar ficam cheias de ranhuras, de “trincas” diante de tanto relativismo.
Enfim, o Homo Sapiens está meio que perdido entre tantas incertezas do mundo. Já não procura Deus, o seu criador, com tanta frequência, e muitas vezes nem fala dele.
Há anos que se observa que o ser humano está à procura de si mesmo, e o pior é que está longe de se encontrar.
A vida parece ter ficado mais fácil com tanta tecnologia, mas o fato é que, mesmo com isso, continua angustiado.
O Pai do Existencialismo, o filósofo Soren Kierkegaard, aborda em sua obra O Conceito de Angústia o tema de forma brilhante. Segundo ele, o indivíduo sofre uma atração e uma repulsão. É uma ambiguidade, pois tem interesse a teologia e a filosofia quanto à natureza do pecado. Ainda há a inconsciência do pecado.
Ele definiu a angústia como a “aceitação do Homem em relação à morte, que é a única possibilidade insuperável da existência humana. A angústia não é o medo da morte em si; a angústia é o viver para a morte, compreendendo a impossibilidade da existência”.
Então, o Homem vive na sua angústia durante a sua vida terrena e uma situação de que ele não consegue fugir, mas que lhe propicia liberdade.
É neste diapasão que se vislumbra ao longo dos anos o crescimento em demasia pela satisfação através das coisas oferecidas pelo mundo, com essa liberdade, essa fuga, como se o conforto proporcionado pela tecnologia, pelo “tudo pronto”, fosse acabar com a sua angústia.
Parece que tudo isso tem levado o Homem à solidão, e enchido os consultórios de psiquiatria e psicologia, e as igrejas, e também proporcionado o aparecimento de inúmeros livros de autoajuda, prometendo a cura para todos os males da alma. Longe de criticá-los, é claro, pois têm muitos bons caminhos. Mas serão definitivos?
O ser humano está à procura de si mesmo! Penso que procura a sua essência, talvez por caminhos tortos, mesmo sabendo qual a trajetória mais correta a seguir.
A ansiedade do Homem em alcançar os seus objetivos, a sua independência e a sua liberdade acaba por levá-lo a caminhos mais dolorosos.
Ele se apega à religião para conseguir entender o seu sentimento de estar só, mas se esquece de que existe dentro de si uma força interior e que foi criado por um Deus que cuida dele.
Confunde Deus e crença com religião, e se apropria, monopoliza e padroniza comportamentos em sociedade que o levam ao esquecimento de quem o criou.
As religiões têm o seu papel na vida humana, desde que não mantenham o Homem solitário, fugindo da angústia e nem o escravizem, mas que o deixe ligado ao criador.
Essa procura incessante e perigosa está fazendo com que o ser humano se distancie de sua essência do Bem, em prol de um “conforto” transitório e enganoso do viver em paz, quando o que se vê é exatamente o contrário.
A procura em si mesmo, por trajetos enviesados, levam-no à intolerância e à divisão, quando o que precisa é de união, e procuram traçar e julgar quem é bom ou mal segundo o seu “conforto”, de sua pseudo paz interior.
A intolerância é sem dúvida o maior mal do ser humano hoje.
A desesperança e a falta de fé são suas maiores derivações.
Penso que a angústia atual do Homem está ligada a esses aspectos da vida cotidiana.
Não se pode esperar mais por curas milagrosas da alma e do espírito, livros de autoajuda e religiões como muletas.
A única saída para o ser humano é voltar-se para o seu criador, o ser supremo, com toda a fé e a esperança que o guiaram até agora neste mundo.
A volta é urgente e através de uma introspecção necessária.
Voltar-se para o espírito como prioridade, ao invés de priorizar as “coisas do mundo”.
Enfim, precisamos começar a voltar para nós mesmos, lembrarmo-nos de quem nos criou e o que estamos fazendo aqui, nossos propósitos.
Mas também não nos esquecendo de que nossos propósitos podem ser diferentes dos propósitos de quem nos criou.
Viver com propósito, apesar da angústia!
A esperança e a fé sempre têm de prevalecer.
(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar
Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro
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