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Biden e o muro do amor

por Ricardo Dias Muniz (*)

A administração Joe Biden reiniciará a construção do muro entre Estados Unidos e México, afirmação veiculada pela rede americana Fox News em 12/05/2021. Não teve jeito… Mesmo com uma campanha dura em torno da obra polêmica, que anteriormente qualificou o ex-presidente Donald Trump como xenófobo, feio, bobo, branquelo, agora virou o “muro do amor” que será construído.

A questão é bem mais profunda que parece. Talvez os latinos gostem, ou precisam de muros. Pra quem já visitou os Estados Unidos, umas das características mais marcantes quando se chega lá é exatamente isso: a falta de muros. É estranho ver as casas separadas com apenas um gramado entre elas. Aquilo dá um ar de liberdade. Contraditoriamente, ao mesmo tempo, uma sensação de invasão de privacidade insuportável, até que o visitante brasileiro se acostuma.

A razão disso é uma característica que está presente no povo brasileiro, e com os demais povos latinos das Américas não deve ser muito diferente, que é a relação de sagrado e profano. Sagrado é: separado, exclusivo, familiar, sobrenatural, protegido. Termo que se opõe a profano, que é: comum, vulgar, prostituído, difuso. Para os brasileiros, o almoço de domingo, a criação dos filhos, a vida em matrimônio, e outros exemplos, são valores sagrados, e por isso precisam ser protegidos do que é profano: a rua, os intrusos, o caos da natureza, os criminosos, as más influências – isso inclui políticos. Essa realidade cultural resulta em uma sociedade de pessoas enclausuradas com muros, cercas, condomínios, “panelinhas” em grupos, ou seja, a intimidade é sagrada, precisa ser protegida. Em contraponto, o público é vulgar e profano. Por isso, se os outros povos latinos compartilham essa mesma característica, então, o muro é uma necessidade. Se não tem uma barreira física, inconscientemente, uma parcela significativa dos latinos acredita que é profano, é comum; sendo assim, não há nenhum problema em profaná-lo, violá-lo, em corrompê-lo.

Os estadunidenses, igualmente, têm suas sacralidades. Lá os valores coletivos de liberdade, propriedade, bem como a pátria e seu território, são sagrados. O fato é que o choque cultural e essas relações entre sagrado e profano pode, por hora, tornar necessário o muro na fronteira sul. Deve ser por isso que todos os últimos presidentes americanos construíram um pouco desse muro. Entretanto, apenas Donald Trump construiu o muro com objetivo de ódio, rancor. Joe Biden será diferente, ele está construindo o mesmo muro, mas agora será o muro do amor. Coitado do Biden, possui a maldição de que tudo que tocar virará, instantaneamente, bom.

(*) Especialista em Gestão Estratégica, Engenheiro de Produção, estuda Direito e Ciências Políticas.
Contato: munizricardodias@gmail.com.
Redes sociais: https://linklist.bio/ric

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