‘As pessoas acham que fazer turismo é viajar e ir para a praia’

FOTO: Kissyla Pires

Diretora de Turismo da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo de Valadares apresenta atrativos de Valadares

Filha do querido Ivaldo Tassis, Betinna Tassis (*) é diretora de Turismo em Valadares. Além da paixão pela cidade, ela conduz um planejamento estratégico que tem atraído diversos turistas à cidade, através das belezas naturais e da vocação que Valadares tem para atividades na natureza e esportes radicais. Uma novidade que ela adiantou na entrevista é que o Município tem dialogado com a Vale para criar uma rota de trem noturno nas férias em 2025. Além disso, há a possibilidade de a Vale criar um bike vagão para quem desejar viajar com bicicleta e participar de competições pela região. Outra estratégia é a criação de atividades no rio Doce.

Confira a entrevista completa em nossos canais no YouTube e Spotify.

FRED SEIXAS – O que Valadares tem de atrativo para o turismo?

BETINNA TASSIS – A nossa cidade é tão rica, que a gente tem a aventura no DNA, em várias modalidades que a gente pode experimentar no ar, na água e na terra. Não é só o voo livre. A cidade é Capital Mundial de Voo Livre, e temos atraído eventos novamente. Como, por exemplo, o Pan-Americano de Voo Livre quando nenhuma outra rampa no mundo estava aberta. Houve investimento e foi criado, inclusive, um decreto que trazia normas e regras para que a gente preservasse a integridade e a saúde tanto dos pilotos, quanto da sociedade.

Estamos com uma rampa nova na Ibituruna e tem também as modalidades na água. Além disso, haverá um torneio de pesca no rio Doce, que vai acontecer do dia 30 de agosto a 14 de setembro. Estamos atraindo pessoas do Brasil inteiro. São aquelas pessoas que vão pescar lá no Amazonas, em Barcelos. A expectativa é que venham pescar aqui no Médio Rio Doce. O dourado, como não pode ser mais consumido – hoje tem lei de proteção, assim como o tucunaré -, eles cresceram e hoje o rio Doce tem peixe de 22 quilos. Já fomos duas vezes na maior feira de pesca do país, que é a Pesca Trade Show, para divulgar o nosso destino turístico, que é o Viva Valadares, e atrair essas pessoas. Aqui tem aeroporto – o pescador desce e em 5 minutos já está no rio pescando. Tem toda infraestrutura de hotelaria, bares e restaurantes dos mais variados gostos.

Além do Paulinho Guido, que dá um show no Surf de Corredeira, que é uma sensação. E agora estamos com uma oferta frequente no serviço de caiaque.

E temos também a bike. Valadares já foi capital brasileira de bikes, pelo número de bicicletas que havia aqui, e o cicloturismo está em evidência em todo o Brasil e Valadares não vai ficar de fora. Já estamos em movimento para trabalhar a sinalização política e buscar os grupos de bikes. Já existem várias rotas, por isso queremos trabalhar a consolidação de algumas, em um momento em que um pedido nosso para a Vale pode se tornar realidade, que é o bike vagão. A pessoa que tem bike não quer viajar longe da bicicleta, porque muitas vezes ela tem o valor de um carro, uma moto. Então é possível que até o final do ano esse pedido seja atendido. O Henrique Lobo [Relações Institucionais da Vale] já trouxe a notícia de que o vagão noturno vai se tornar realidade em 2025 para as férias. Vamos ter trem de passageiros funcionando à noite, tanto de Vitória quanto de BH, e isso vai ser bem legal. Partindo à noite a viagem vai ser bem bucólica e pode atrair mais pessoas. A rota do trem, aliás, já é uma realidade. Como Valadares tem recebido mais pessoas, preparamos um tour. Mapeamos as sete maravilhas da cidade, para que as pessoas conheçam nossos principais atrativos.

FRED SEIXAS – E quais são essas sete maravilhas?

BETINNA TASSIS – Quando eu lecionava no curso de Turismo da Univale, fizemos uma enquete com a Prefeitura para que a comunidade escolhesse os sete atrativos da cidade. Então foram: a Ibituruna, o rio Doce, a Ilha dos Araújos, que com seu lindo calçadão, praça e festivais é mágica. A Açucareira, a Praça Serra Lima, a Catedral e a Primeira Igreja Presbiteriana, que não é a da Avenida Brasil, mas a da Rua Prudente de Morais. Aquela igreja reproduz exatamente como eram as igrejas no século passado. É bem interessante de se conhecer. E nesse tour a gente conta toda a história da nossa relação com o rio Doce, com os botocudos, os povos originários que aqui habitavam… A Ibituruna é um vulcão que não eclodiu. A rocha dela é vulcânica. Contamos também como era a Ilha dos Araújos, a história do Garfo, que recebeu esse nome por causa dos piqueniques que eram feitos naquela área. Já se pescava naquela área. Aliás, são naquelas corredeiras que estão os dourados, que a gente hoje divulga como atrativo. A gente conta a história de Serra Lima, que teve um parceiro que ajudou a criar aquele piquete para formatar a cidade aos moldes do que era Paris, em formato tabuleiro, com os quarteirões bem delimitados. Lá do Pico à noite a gente consegue ver como a cidade é linda iluminada. E vamos contando o que é que a gente tem aqui, como as nossas rotas gastronômicas, que hoje são nove. Além desse tour nós temos dois outros que são culturais, que é o tour da cerâmica, nós temos ceramistas internacionais aqui, como o Sebastião Pimenta, cujo ateliê recebe grupos para oficinas. Temos outra rota que é a da culinária afetiva, que passa pelo Mercado, pela Fazendinha, pela Prado, com nossa rosca tradicional, vai na Ribeiro Fiorentini, que produz queijos premiados na França, apresenta nossa cachaça Ibituruna, premiada em Nova Iorque. Esse tour valoriza nossos patrimônios e Valadares como um todo. Isso traz pra gente uma sensação de pertencimento, de orgulho de saber que em nossa cidade tem tanta riqueza e que atrai tantos olhares, e, às vezes, a gente não valoriza. As pessoas acham que fazer turismo é viajar e ir para a praia. Não. A gente tem várias referências de turismo local. Só de bares para entretenimento, nós temos mapeado mais de 300, nas rotas que já construímos. E o festival Abrasel, que vai acontecer em agosto deste ano, que é um sucesso, percorre todas as rotas.

Portanto temos todas essas modalidades de aventura que a gente pode viver em Valadares. Isso sem falar nas cachoeiras, no rapel. Temos rapel na cachoeira Véu de Noiva e na Ibituruna. E para que a gente possa ter o que a gente chama de turismo seguro e responsável, a gente tem caminhado para qualificar que as empresas que prestam o serviço garantam vidas humanas preservadas. Tem uma lei e estamos avançando em uma lei municipal, não só federal, para que as regras sejam aplicadas aqui em sistema de gestão de risco e segurança.

FRED SEIXAS – Você mencionou o Festival da Abrasel, mas tem um de vinho também na cidade?

BETINNA TASSIS – Sim. Temos dois, na verdade. Tem o Divino, que acontece agora em junho na Ibituruna, e o Festival de Inverno, em agosto. Temos a Expoagro, que faz parte do nosso calendário e movimenta cerca de 30 mil pessoas por dia em que muitos vêm de fora. E o Natal Iluminado começando a ser planejado, porque é também uma força muito grande. Mas o evento mais próximo agora é a Expoleste, a maior feira comercial que a gente tem aqui no Leste de Minas, e vamos estar lá com o Espaço Comtur (Conselho Municipal de Turismo).

FRED SEIXAS – E que estratégia é essa de atrair pessoas para a cidade para fotografar aves?

BETINNA TASSIS – Solicitamos um inventário de aves, inicialmente da Ibituruna. Mapeamos ali mais de 200 aves que são endêmicas e outras que vêm migrando. Essa modalidade é extremamente sustentável. O impacto na natureza é mínimo. E o Turismo ele tem essa vantagem de trazer um desenvolvimento social, econômico e também ambiental. Nosso sonho é que esse inventário provoque para que as pessoas da própria cidade queiram conhecer essa modalidade de turismo, com monitores da cidade ajudando e orientando. Observação de fauna e flora é uma imersão na natureza. E a gente já fez um mapeamento dos maiores clubes de fotografias de aves dos Estados Unidos. A princípio é atrair esses observadores de aves a virem a Valadares. Com isso eles movimentam toda a cadeia econômica, com transporte, hospedagem, alimentação, etc.

FRED SEIXAS – E se eu não moro em Valadares e desejo conhecer tudo isso que você me contou? Tem algum site que eu possa acessar?

BETINNA TASSIS – Tem. Nosso site é o viva.valadares.mg.gov.br/. É um portal de turismo e lá tem o inventário de tudo, onde ficar, o que fazer e onde comer. Fizemos, inclusive, um levantamento de quais hotéis na cidade recebem pets, quais as clínicas veterinárias 24h e quais são apropriados para nômades digitais. Tem todos os horários de funcionamento dos bares, culinárias predominantes. Temos ainda o GV Night, que tem toda a agenda cultural das atrações de quinta ao fim de semana. A gente precisa compreender que valorizar a própria cidade e conhecer a cidade sob o viés do Turismo é muito importante para que a gente possa divulgar de forma positiva Valadares como destino turístico. E a nossa marca é Viva Valadares, porque aqui tem muita coisa boa para se viver.


(*) Betinna Tassis é formada em Administração, doutora em Economia do Turismo, pós-graduada em Gestão do Território e Patrimônios e pós-graduada em Gestão de Pessoas. Está há 7 anos na gestão pública no Turismo e atua como consultora no setor.

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