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Alfabetismo funcional: uma realidade histórica

FOTO: Freepik
por Carlos Torrente (*)

Todo indivíduo que tem dificuldades para interpretar e aplicar textos e realizar operações matemáticas simples no cotidiano é considerado um analfabeto funcional.

Os dados do Indicador de Alfabetismo Funcional – Inaf de 2018 mostram que três em cada 10 brasileiros na faixa de 15 a 64 anos são considerados analfabetos funcionais – ou seja, apresentam limitações para fazer uso da leitura, da escrita e da matemática em atividades cotidianas, como reconhecer informações em um cartaz ou fazer operações aritméticas simples.

O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) é aplicado pelo Instituto Paulo Montenegro analisando habilidades e práticas de leitura, de escrita e de matemática voltadas ao cotidiano. Por meio de uma prova escrita, aplicada em domicílio, o Inaf avalia quatro habilidades funcionais nos campos do letramento e do numeramento.

O primeiro Inaf foi realizado em 2001. De lá para cá, houve avanços no nível de escolaridade da população. A proporção de brasileiros entre 15 e 64 anos que chegaram ao ensino médio aumentou de 24% para 40%. No caso do ensino superior, o número passou de 8% para 17% e, apesar disso, a taxa de analfabetismo funcional encontra-se estagnada pelo menos desde 2009. Naquele ano, o índice foi de 27% – valor que se repetiu em 2011 e 2015, últimas edições do Inaf antes de 2018, quando a taxa chegou a 29%.

Os analfabetos funcionais reconhecem as letras e os números e não conseguem entender as ideias centrais e explicar o que foi lido, além de não conseguirem realizar operações matemáticas, mesmo as mais simples ou elaboradas.

O analfabetismo funcional não está relacionado com a baixa escolaridade, pois é encontrado em indivíduos que já concluíram os ensinos fundamental e médio. Um dos fatores que influenciam no crescimento das taxas de analfabetismo funcional é a qualidade da educação oferecida aos estudantes e muitos concluem o ensino médio, representando 13% dos analfabetos funcionais, com dificuldades de compreender textos e realizar operações matemáticas. Este percentual vai refletir no ensino superior e, segundo estudos, apenas 34% são considerados proficientes, nível mais elevado da escala de alfabetismo, formados por indivíduos que leem textos complexos, fazem análises das partes do texto com conhecimentos cotidianos ou de maior especificidade, comparam informações vindas de diferentes fontes, distinguem os diferentes tipos de texto e formas de escrita, bem como conseguem diferenciar fatos de opiniões, além de interpretar gráficos e tabelas com duas ou mais variáveis, compreendem escalas e projeções.

Para o responsável pelo Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), Instituto Paulo Montenegro, existem os analfabetos, formados por indivíduos que não conseguem realizar atividades simples que envolvam a leitura de palavras e frases curtas, e os rudimentares, que conseguem captar informações explícitas em textos curtos como bilhetes e breves anotações, ler números simples e usuais e realizar operações matemáticas simples.

Os analfabetos funcionais são muito ativos nas redes sociais. Conforme a pesquisa, 86% estão no WhatsApp, 72% usam Facebook e 31% o Instagram, e com isso ficam expostos num mundo de desinformações. Na maioria das vezes, recebem informação de fontes não confiáveis, não questionam, absorvem como verdade e compartilham livremente. As pessoas acreditam nessas informações porque são passadas por alguém em quem eles confiam.

Uma breve análise dos dados mostra que, embora o número de indivíduos completamente analfabetos tenha diminuído, a parcela da população que ainda enfrenta dificuldades na compreensão de textos e na resolução de problemas matemáticos ainda está em número considerável.

O analfabetismo funcional está diretamente ligado às falhas históricas do sistema educacional. Nesse cenário, além de cobrar por melhorias na qualidade da Educação, cabe à sociedade o importante papel de transformar os espaços e contextos não escolares em ambientes promotores de aprendizagem.

O crescimento aponta que parte dos indivíduos chega ao ensino médio e, até mesmo, ao ensino superior com acúmulo de defasagens e dificuldades educacionais. O investimento em educação de qualidade pode ser uma forma de, no futuro, o país diminuir os índices de analfabetismo funcional.

Os dados nos mostram que o processo de ensino está sendo insuficiente, em muitos casos, para transformar o aprendizado e o conhecimento em ferramentas que permitam viabilizar questões básicas do cotidiano. Para além do preparo desses milhões de crianças e jovens para o ingresso futuro no mercado de trabalho, há outra preocupação: a formação de cidadãos aptos a reconhecer a realidade em que estão inseridos e a buscar os seus direitos.

Essa realidade, que já era crônica antes da pandemia, certamente foi agravada devido às dificuldades de ofertar educação aos estudantes, principalmente os da rede pública, durante o período que os alunos vivenciaram o ensino remoto ou híbrido.

O que esperar de uma geração que vem aí? Só o tempo nos dará uma resposta e tomara que não seja desastrosa.


(*) Carlos Torrente | Mestre em Educação Matemática pela UFOP, especialista em Matemática e Estatística pela UFLA e graduado em Matemática pela FUNEC (Caratinga) | e-mail mg03@obmep.org.br

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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