Dr. Adão Leal (*)
A esquizofrenia quando se instala na pessoa transforma sua vivência saudável para outra totalmente diferente da normal. Fica marcado pelo sofrimento e terá de se adaptar às modificações da sua personalidade imposta pela doença. Somente o tempo e tratamento específico farão a pessoa conviver melhor com sua existência desfigurada pela doença mental.
Com suas percepções alteradas, passa a atribuir as coisas que acontecem à sua volta ser devido às atitudes dos outros indivíduos e que tudo se associa à sua pessoa. Seus pensamentos se confundem e não entende de forma clara quando uma pessoa lhe dirige a palavra. Sua realidade, suas sensações e seu comportamento ficam estranhos, diferentes da forma que era antes.
Infelizmente há uma desinformação extrema a respeito das doenças mentais, principalmente, da esquizofrenia. As pessoas nunca associam a mudança do comportamento como um transtorno mental e que tem tratamento. O preconceito e o medo dos remédios vão adiando a busca do médico para uma conduta psicofarmacológica adequada.
O episódio psicótico agudo sem tratamento se agrava ainda mais, piorando a vida do indivíduo. Os adoecidos não possuem consciência de estarem doentes (insight). Eles acham que estão normais, não buscam tratamento por si só e cada vez vai ficando mais complicado recuperar sua vida interior. Suas crises são assustadoras, leva muito tempo para serem compreendidas, causam desajuste social e os fazem perder a autoestima.
A mudança interior é tão intensa que sua família não só percebe, mas fica perdida, sem saber o que fazer e o porquê dos intensos conflitos. Os relacionamentos interpessoais se perdem, os familiares notam que eles estão fora da realidade e de controle. Todos ficam desnorteados, mas finalmente procuram um médico de confiança, que os encaminham ao psiquiatra. Respiram aliviados, pois conseguiram um norte, uma possibilidade de ajuda e de recuperação (porém, recuperar totalmente não é fácil, mas é possível), o tratamento é longo, a melhora é rápida, mas a recuperação plena leva tempo.
A esquizofrenia coloca a pessoa em um percurso com enorme dificuldade, impõe sua vida a cruéis diferenças e a envolve totalmente. Quando em surto as outras pessoas passam a chamá-lo de louco, ficam com medo, se afastam, deixando-o cada vez mais isolado na sociedade, o que piora ainda mais sua saúde mental.
O mundo em sua volta passa a ser percebido de forma ainda mais bizarra. Começa a ouvir barulhos estranhos como baterem na janela de sua casa e acha que são de pessoas que querem matá-lo. Essas percepções distorcidas vão se intensificando, modifica todo seu pensamento e sua vida se torna um caos. Geralmente nesta fase que aparecem os piores sintomas da doença: as alucinações.
As alucinações surgem de formas variadas, tais como: alucinação auditiva verbal (ouve vozes que não existem, mas para ele é real e cada vez mais estressante e assustadora); alucinações visuais (em um raio de luz vê bichos, a sombra na árvore do quintal acredita ser de invasores); alucinações gustativas e olfativas (sentem o gosto dos alimentos de forma extremamente desagradáveis, como se estivessem putrefeito).
Sem tratamento sua vida só vai piorando, segue sofrendo e com o fardo de grande risco de suicídio. Contudo com a terapia específica melhoram bastante, sua qualidade de vida evolui, conseguem voltar à sociedade, a trabalhar ou estudar e até constituírem família mediante manutenção de seu tratamento.
(*) Dr. Adão Leal — Médico Psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP-AMB); Certificação de Atuação na Área de Psicoterapia (ABP-AMB); Psicogeriatra pelo PROTER (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo – USP).
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