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A inteligência do Carnaval

FOTO: Freepik
por Bob Villela (*)

Teve Carnaval. Teve festa, teve gente e teve bom! Após o vazio imposto pelo trágico desfile do novo coronavírus, a festa mais brasileira que existe, uma das maiores responsáveis pela admiração que o mundo nutre pelo país — ao lado das sandálias Havaianas, da caipirinha e das nossas riquezas naturais —, enfim aconteceu. O nosso soft power, aquele poder que uma nação tem para influenciar as demais por meio de elementos culturais ou naturais — quando bem geridos e desenvolvidos — só está completo com essa folia que liberta o Brasil de suas mazelas, pelo menos por uns dias.

É verdade que em 2022 as coisas já estavam bem menos complicadas, mas o desfile das escolas de samba do Rio, por exemplo, só rolaram em abril. Agora, não. A festa rolou na data e no horário exatos. E, embora pareça algo prosaico, isso representa muito para um povo que sofreu tantas perdas e privações na pandemia. É mais um sinal de que as coisas estão caminhando para uma normalidade. Tudo bem que o mundo já vive essa normalidade há bastante tempo, inclusive, quando os índices de infecção por covid-19 ainda eram alarmantes. Mas quanto mais notícias boas, melhor. É fato também que a normalidade à qual nós estamos acostumados no Brasil deixa muito a desejar, mas antes ela do que a vivida no terror da pandemia.

Na alegoria de dissabores que compõe a rotina de ser daqui, tivemos os tradicionais acidentes nas estradas, as já familiares tragédias ocasionadas pelas chuvas e os episódios de praxe ocorridos Brasil afora. Pontes caindo, assédios em blocos, golpes e furtos. “Tradicionais”, “familiares”, “de praxe”; observe como a gente banaliza nosso cardápio de momentos lamentáveis. Da mesma maneira que é normal ver alguém fantasiado de seja lá o que for, em um supermercado de BH durante o Carnaval — é isso é lindo —, é “de boas” ver notícias de ilicitudes e tragédias que poderiam ser minoradas com mais ações preventivas — e isso é muito triste.

Na honrosa condição de comunicador e professor, meu mais privilegiado desafio é tirar lição de tudo. E o Carnaval sempre foi uma fonte rica de exemplos para a vida. Apesar dos já mencionados acontecimentos que transcorreram durante o período da folia, a retomada plena da festa parece querer dizer aos brasileiros que é nossa união, nosso bom humor e nossa criatividade que vão nos colocar no topo. Detesto recorrer a essas premissas sobre a gente. Sei o quanto isso cheira a clichê barato. Entretanto é nisso que acredito. O Carnaval grita, desde quando começou, que é pela via das cores, do amor e da alegria que vamos vencer.

Foi usando cores e com alegria que fizemos a Semana de Arte Moderna de 1922. Foi com tons e sorrisos que as Havaianas ganharam o mundo. Natura e Chilli Beans usam os mesmos ingredientes nas receitas de seus segmentos. E a era de ouro da nossa propaganda foi sustentada por essa essência que exalava criatividade, uma espontaneidade calculada e uma ousadia desmedida. Vale lembrar: em nenhum desses exemplos cometeu-se o pecado de fazer nossos atributos soarem como lugar-comum. Essas iniciativas, tal qual o Carnaval, foram e são celebradas por repetirem tudo o que ouvimos e sabemos, mas de uma maneira sempre original.

Nestes tempos em que se fala como nunca de inteligência artificial, pode ser bacana se a gente pegar a contramão para reencontrar nossa inteligência genuína. Assim como na Semana de 1922 ou na Tropicália, não vamos ignorar nada do que está à nossa disposição em termos de ideias e tecnologia. Mas vamos fazer do nosso jeito. Temos a obrigação de sermos assim. Elza Soares, Paulo Mendes da Rocha e Paulo Leminski não podem ter nascido brasileiros por acaso. Enfim, talvez a “festa da carne” sirva também para nos mostrar que o ser humano jamais será apenas um adereço neste mundo.


(*) Bob Villela
Jornalista e publicitário.
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Univale.
Instagram: @bob.villela | Medium: bob-villela.medium.com

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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