‘A cidade hoje está com déficit de profissionais contábeis para atuar’

FOTO: Igor França

Reforma Tributária aprovada no fim de 2023 pode ampliar escassez de profissionais da área contábil em Valadares e no Brasil

GOVERNADOR VALADARES – Segundo o coordenador dos cursos de Ciências Contábeis da Univale, professor mestre Mauro Guariente, a procura por profissionais na área já é grande em Valadares e ficará ainda maior com a Reforma Tributária, que começa a vigorar em 2026. Isso porque o Brasil manterá os dois sistemas tributários funcionando paralelamente, até que o novo substitua definitivamente o atual, o que ocorrerá de forma gradativa.

Por isso, pode-se afirmar que serão necessários muitos profissionais na área, que vai muito além da parte tributária e fiscal, como a Declaração do Imposto de Renda. Segundo Guariente, o profissional contábil deve contribuir para a gestão econômica e a organização estrutural da empresa.

Confira a entrevista completa em nosso site ou em nosso canal no YouTube.

FRED SEIXAS – Quando a gente fala de contador, a gente só lembra de imposto de renda.  Mas há mais a fazer na profissão, não há?

MAURO GUARIENTE – Exatamente. Já é difícil a gente desassociar o profissional contábil da parte tributária, principalmente, nesta época do ano, em que a gente vem com uma série de tributos incidindo sobre a vida das pessoas. Tributos de início de ano. Agora começou a fase do imposto de renda, mas a profissão contábil vai muito além da questão tributária. A gente generaliza, inclusive, não como tributo, mas como fiscal. E dentro de fiscal, a gente tem os aspectos tributários, previdenciários e trabalhistas que estão dentro do escopo de atuação do profissional contábil nas organizações. Quando a gente fala sobre o escopo da contabilidade, nós estamos falando de um escopo de gestão econômica das organizações.  Dentro deste escopo, a gente vai encontrar, entre outros elementos, os tributos, as obrigações previdenciárias e trabalhistas que envolvem contratação de pessoas. Mas muitos outros fatores, muitas outras variáveis precisam ser monitoradas e controladas pelo profissional contábil atuando nas organizações. E é por isso que o curso tem três mil horas e dura 4 anos. Porque dentro do conteúdo programático do curso, na sua matriz curricular, o profissional vai ser preparado não só para cuidar das obrigações fiscais da empresa, mas contribuir com o processo decisório desta mesma empresa. Para isso ele tem que ter uma abrangência do todo organizacional, para aí poder desempenhar bem o seu papel.

FRED SEIXAS– O Brasil hoje é conhecido por ser um país que tem uma carga tributária, que eles até mencionam que seja muito alta. Não é a mais alta do mundo. Tem países com cargas tributárias maiores. Como que uma empresa consegue sobreviver sem contar com o profissional contábil? É possível?

MAURO GUARIENTE – Não é possível. É aquilo que eu sempre costumo fazer como uma analogia. A contabilidade seria como se fosse o fígado do corpo humano. Se você tirar o fígado da pessoa, a pessoa acaba morrendo. Porque o fígado tem a função de identificar e filtrar os nutrientes que estão sendo absorvidos pelo corpo humano. Retendo aquilo que é bom e pedindo para o corpo para pôr pra fora o que não é bom. Então a contabilidade, o profissional contábil teria mais ou menos esta conotação na estrutura organizacional, porque ele é capaz de acompanhar, ou deveria acompanhar, todas as operações da empresa, ele consegue identificar o que está sendo bom e ruim, e, a partir disso, passar para os tomadores de decisão, dos gestores de negócios propriamente dito, o que precisa ser mantido ou o que precisa ser eliminado da estrutura organizacional para manter o posicionamento na empresa.

Embora nós tenhamos essa ideia de que a carga tributária é o grande vilão da gestão do negócio em nível de desempenho e resultado, quem vai fazer o curso de Ciências Contábeis vai descobrir, até o final do curso, que o grande vilão dos negócios não é a carga tributária, mas sim o custo financeiro das operações. A dependência que as empresas têm do sistema financeiro e de depender de dinheiro de terceiros sendo trazido para a organização gerando um custo, que vai gerar um dispêndio, um gasto para a empresa que não é consequência das operações. A empresa não está tendo que gastar aquele dinheiro porque ela não está tendo um bom desempenho, porque ela está mal posicionada no mercado, é porque ela não está conseguindo controlar economicamente a empresa e, consequentemente, perceber o comportamento financeiro. E a partir desta falta de capacidade de percepção, ela acaba tendo um custo financeiro muito mais alto. Não é porque eu fiz alguma coisa errada, que eu tive que gastar aquilo. Aquilo está vindo do comportamento financeiro das organizações.

FRED SEIXAS – Resumidamente seria tirar o fígado, então?

MAURO GUARIENTE – Se não tiver contabilidade, seria como se fosse isso, você tirar o fígado do corpo humano.

FRED SEIXAS – Não sobrevive.

MAURO GUARIENTE – Não sobrevive. Não tem como!

FRED SEIXAS – Com a Reforma Tributária aprovada no fim de 2023, como fica a profissão? Terá uma demanda maior por profissionais? Como fica o mercado de trabalho?

MAURO GUARIENTE – É muito oportuna essa pergunta, porque vai aumentar a carga de trabalho do profissional contábil. Porque a proposta do governo, na medida em que for implantada, a partir de 2026, não é o que tinha até ali vai deixar de existir e a partir de agora vai ser isso. É um projeto que vai caminhar paralelo ao que já tem. Se nós pegarmos hoje o mercado de Governador Valadares, a cidade hoje está com déficit de profissionais contábeis para atuar nas empresas. Estão precisando de gente e estamos correndo contra o tempo para formar esses profissionais para atender essas demandas. Na medida em que vier a reforma, vai aumentar o serviço, porque além do sistema atual, vai ter um novo sistema tributário. Vai ter uma fase de transição em que os dois sistemas vão caminhar em paralelo. Vai praticamente dobrar a necessidade de serviços contábeis para poder dar conta de tudo isso, até que lá para 2030, 2031, se tudo der certo, o sistema antigo deixe de existir e passe a ser só o sistema novo. Até lá vai ter muito trabalho, muita demanda. Só que não é qualquer um que vai dar conta dessa demanda. Vai ter que ter uma formação contábil. Vai ter que fazer o curso para contribuir com esse processo como um todo, porque o produto deriva das operações da empresa e qual o valor agregado que essa empresa está gerando para a sociedade, na medida em que ela oferece negócios.

FRED SEIXAS – Além de Valadares, há oportunidades de trabalho em outras regiões do Brasil?

MAURO GUARIENTE – Sim. Mas vou me ater ao nosso perímetro. Hoje, como coordenador do curso de Ciências Contábeis, recebo, diariamente, diversas empresas pedindo profissionais já com alguma formação na área contábil para poder ser inserido nas estruturas organizacionais para já contribuir com essa carência que as empresas têm para fazer a gestão econômica da empresa. Mas aí é que está a questão. As empresas exigem gente com qualificação. Tem que ter conhecimento. E aí estamos falando de profissionais que precisam estar da metade do curso para frente para atender a demanda das empresas. E hoje nós estamos com pouco capital humano para isso. E dentro deste trabalho de coordenação do curso, a gente tem também esse problema de visão da profissão. Alguns acham que vão se formar para fazer declaração do imposto de renda, e não é isso. Hoje a pessoa faz a declaração sozinha, se ela quiser. A profissão é muito mais que isso. O mercado precisa do contador para fazer gestão econômica, enxergar o todo e manter essa estrutura organizada para poder ter o melhor desempenho.


Na entrevista, Mauro Guariente falou ainda sobre as diferenças do curso de Ciências Contábeis e Administração e mostrou como a contabilidade pode contribuir para o crescimento das empresas. Confira a entrevista completa em nosso site ou em nossos canais no YouTube e Spotify.

Comments 1

  1. Hilda says:

    E com a média salarial e os poucos (ou nenhum) benefício, povo prefere sair de GV (nem sempre pros USA). É foda ficar 4 anos, no mínimo, estudando pra ganhar mixaria. Melhor ralar no CD.

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