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Viçosa viçosa

FOTO: Mateus S. Figueiredo/Wikipedia

Você sabe exatamente o que significa “viçoso” ou “viçosa”? Em uma rápida pesquisa pelos dicionários, é possível coletar definições como “coberto de verdura, de vegetação exuberante”, “que está no pleno vigor da sua beleza vegetal” e “cheio de vigor, de força, de mocidade”. Quer dizer então que, em bom português, uma cidade viçosa é um local bonito, certo? Se estivermos falando do mesmo lugar, meu amigo, é muito mais do que isso.

Viçosa é uma cidade que se desenvolve acompanhando avanços acadêmicos. Verdade seja dita: a Universidade Federal de Viçosa, a UFV, geralmente é a última opção de quem quer cursar uma graduação. Muitos chegam pensando em sair, tentar a sorte em uma faculdade de cidade maior. Mal sabem o quanto vão se apaixonar por esse pequeno fim de mundo.

Em Viçosa, aportam pessoas de todos os cantos do universo. E por lá se ouvem todos os sotaques, o que de cara já sugere brincadeiras entre os colegas. Provavelmente, é a primeira experiência de muitos jovens ouvindo ritmos de fala tão diferentes dos seus. Mineiros de diferentes regiões do estado, paulistas, cariocas, baianos, africanos, e assim conhece-se gente de todas as culturas. E faz-se todo tipo de amizades, entre idas e vindas ao PVA e ao PVB, entre horas de estudo (e cochilos) na biblioteca, entre tardes de conversa fiada (e cochilos) no gramado do DCE.

Se você passar um tempo por lá, são esses amigos que estarão ao seu lado nas milhares de festas. São eles os responsáveis por te ajudar a entender as matérias difíceis de entrar na cabeça, colocar seu nome nos trabalhos quando você faltar. Essas pessoas vão rir e cuidar de você nos primeiros porres e te acompanhar ao hospital São Sebastião quando estiver mal de verdade. Vão te ouvir chorar quando terminar um namoro. E vão estar com você em alguma balada no outro dia, levantando seu astral. Serão suas mães, pais e irmãos por alguns anos, e seus melhores amigos pela vida inteira.

Talvez, Viçosa seja o último lugar do mundo sem praia onde as pessoas andam de chinelos pelas ruas. Onde a bicicleta ainda é o meio de transporte mais utilizado. A vida por lá é muito mais simples. As festas ainda custam barato.

E que tal esperar todo o semestre por uma festa na lama? A Cervejada, marca registrada de Viçosa, é provavelmente a coisa mais singular deste lugar único. Uma balada à tarde, em meio ao barro, para a qual se veste cuidadosamente a pior roupa; ela quase nunca vai ser usada de novo. Só quem já foi sabe: a diversão é mais do que certa, mesmo você voltando para casa bonito como um monstro do pântano, carregando mato em todos os cantinhos do seu corpo e com a certeza de achar barro na orelha por pelo menos uma semana. Fora as escoriações pelas pernas e braços. E como vale a pena!

Lá, todo mundo tem um bar favorito. E no Leão não tem como não se sentir em casa. Há malucos nas ruas aos montes, dá para ficar amigo de boa parte deles. Tem uma marcha estudantil que carrega protestos e folia. Que se desdobrou em uma micareta de nível nacional e em uma festa na qual se fica mais louco do que a Liga da Justiça inteira.

A UFV é linda. As quatro pilastras são como um portal para um universo paralelo. A reta arborizada toca de leve a alma de quem caminha até os prédios de estudo. O Recanto das Cigarras é o xodó de todo estudante, onde se levam amigos e parentes de fora para mostrar a maravilha que é a UFV. O RU pode não ter a melhor comida do mundo, mas salva a vida de muita gente por um preço módico. E é um excelente local para se esbarrar com todos da universidade – companhia para almoçar nunca falta. Há um campeonato de futsal entre os cursos que mexe com o coração dos estudantes. E uma lagoa meio poluída – em ocasiões especiais, serve para nadar. Em Viçosa, agroboys, nerds, bichos-grilos e patricinhas convivem pacificamente. Se bobear, até na mesma república.

A foto com os formandos em frente ao Bernardão (para quem consegue acordar cedo no dia, claro) é um espetáculo à parte. Ver seu nome e foto em uma página do livro de biografias com sua história na cidade é muito bacana. E, para coroar a estadia nesta terra encantada, fecha-se o ciclo com o maior baile de formatura do qual se tem notícia nas galáxias. O mais luxuoso, o mais animado, o melhor do mundo! Aquele que, de tão grande, quem foi ainda vai descobrir atrações não vistas no dia anos depois. E cá entre nós: ver a UFV no topo todo ano quando sai o ranking das melhores universidades do Brasil dá um orgulho!

Na despedida de Viçosa, é bem possível você achar que nunca mais vai ser tão feliz como era lá. E você vai estar certo. É que lá tudo é diferente. Serão os melhores anos da sua vida, você vai conhecer as melhores pessoas. Depois, a saudade de tudo vai bater todos os dias, algumas vezes bem forte. Então, só agradeça a Deus, à vida, ao universo ou a quem você acreditar por ter sido escolhido para viver, por um tempinho, no paraíso.

Sempre que puder, volte à cidade “cheia de vigor, de força, de mocidade”. Pelo menos a cada cinco anos, nos bailes de ex-alunos. Por lá, sempre vai ter gente encantadora, e você vai esbarrar com alguns dos companheiros das antigas todas as vezes. Aí é só calçar um par de chinelos, passar pelas quatro pilastras de novo, caminhar devagarzinho pela reta e suspirar enquanto revive suas melhores memórias. Elas virão. Se tiver uma pocinha de lama por perto, melhor ainda.


(*) Mineiro, jornalista e mochileiro.

Já rodou meio mundo e, quando não está vivendo histórias por aí, está contando alguma. Ou imaginando, pelo menos. É um fã da arte de contar histórias: as dele, as dos amigos e as que nem aconteceram, mas poderiam existir.

Acredita no poder que as palavras têm de fazer rir, emocionar e refletir; de arrancar sorrisos, gargalhadas e lágrimas; e de dar vida, outra vez, às melhores memórias. É autor do livro de crônicas “Isso que eu falei” e publica textos no Instagram no @isso.que.eu.falei.

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