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Emoção, cultura e saúde (III)

JOSÉ LUIZ CAZAROTTO (*)

Patrono: Mário de Andrade    Cadeira 13
Academia Valadarense de Letras
Doutor de Psicologia e Membro Ativo da Royal AnthropologicalInstitute (Londres) e do AnthroposInternational (Bonn-Baden-Baden)

As fontes da nossa humanidade nas primeiras relações emocionais.

Não são só os humanos que são seres emocionais. De um modo geral, com maior ou menor capacidade de expressão, todos os mamíferos têm um cérebro emocional, que, de um modo bem amplo e mesmo impreciso, podemos chamar de “sistema límbico”. Joseph Le Doux faz uma afirmação importante para compreendermos o tema que propomos aqui: “nossos cérebros são programados pela evolução para reagir de determinada maneira diante de situações significativas. O significado pode ser sinalizado pelas informações no cérebro, pela evolução ou pelas memórias estabelecidas por experiências passadas”.[1]

Nesta afirmação de Le Doux temos dois elementos a serem considerados. Primeiro, que alguns dos nossos comportamentos vêm como herança neurológica de nossos pais – ancestrais –e são o que Jerry Fodor chama de “módulos”. São estruturas neurológicas que recebemos prontas e que reagem quando estimuladas adequadamente. Será um conceito importante para compreendermos nossas reações emocionais, especialmente as mais primitivas, como o medo, a raiva etc.[2] Mas Le Doux considera uma segunda fonte: as memórias das experiências passadas.

Aqui podemos contar com um elemento importante fornecido por Daniel Stern. Ele é um estudioso das primeiras relações do bebê com a mãe e como essas relações marcam toda a vida do ser humano. “As primeiras influências do ambiente humano às quais o bebê é submetido são constituídas, essencialmente, daquilo que a figura materna realiza com o seu rosto”.[3] Quem é mãe, ou quem observa as relações de uma mãe com o seu bebê, vê com clareza que a díade lida dentro de uma sintonia com elementos que em parte ambos herdaram, mas em parte eles aprendem a construir. A criança “busca” o olhar da mãe, mas não só o olhar, também a expressão facial de alegria, tristeza ou qualquer outro sentimento presente. A criança, como que intuitivamente, “sente” o sentimento da mãe pela sua expressão facial. Aqui temos algo importante: o bebê sente com todo o seu corpo. Se ele sente que a mãe está infeliz, provavelmente, o primeiro órgão a reagir será o seu intestino.

Stern diz mais: “o objetivo imediato da relação face a face é buscar um motivo de diversão, de interesse e de prazer”.[4] Essa relação não tem um objetivo “prático”, mas Stern sustenta que é essa relação que faz com que o bebê se torne um ser humano. É claro que daí decorre, evidentemente, a importância da qualidade dessa relação: mãe feliz e saudável, ser humano feliz e saudável. A psicologia, de um modo geral, ao falar de “mãe”, fala de “função materna” que pode ser efetivada pela mãe biológica mesmo, por outra mulher – tia, avó etc. – e pelo próprio pai, e essa pode ser resumida na palavra “cuidado”.

Mas o que nos interessa aqui é que, nesse momento inicial de nossa vida, interagimos, formamos as nossas primeiras experiências emocionais, que serão sempre “recordadas” e marcarão, eventualmente, toda a nossa vida.


[1] Cf. Joseph Le Doux. O cérebro emocional: os misteriosos alicerces da vida emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998, p. 244.

[2] Cf. J. Fodor. The modularityof Mind. Cambridge: MIT Press, 1983. Para um resumo do seu pensamento, cf. Merlin Donald. Origins of Modern Mind: Three stages in evolution of culture and cognition. Cambridge: Harvard University Press, 1991, p. 50-58.

[3] Cf. Daniel Stern. Le prime relazioni social: Il bambino e la madre. Roma, Sovera, 1989, p. 21.

[4] Idem, p. 107.

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