por Dr. Adão Leal (*)
Observa-se o uso de drogas desde os tempos remotos. Os ancestrais dos homens eram herbívoros, as principais fontes de alimentos eram frutas, nozes, raízes e tubérculos. As plantas psicoativas — que têm ação no cérebro — faziam parte da dieta alimentar, aliviavam o mal-estar, o estresse do homem e para diminuir seu cansaço usava folha de coca e tabaco.
No século 4 a.C. Aristóteles já descrevia o mal causado pelo uso imoderado do álcool. Afirmou que para beber a pessoa deveria ter equilíbrio para se manter sóbria, não chegar ao exagero e que seu uso descontrolado seria vício. Considerava que o uso desregrado do álcool era uma escolha de cada um, uma decisão consciente, sendo uma infração e deveria ser punida com castigos sociais. Permaneceu esta concepção aristotélica durante praticamente toda Idade Média (séculos VI a XVI).
No ano 385 a.C. Hipócrates (Pai da Medicina) descreveu a predisposição do abuso do álcool provocar diversas doenças e chegou a relatar, inclusive, o fenômeno do delirium tremens no seu livro abordando as epidemias.
Na idade média o uso excessivo do álcool passou a ser considerado pecado e usar qualquer outra substância que tivesse ação na mente era transgressão. Mais adiante, no século XIII, países como Inglaterra e EUA penalizavam quem se embriagava e perdiam seus limites, e eram colocados dentro de barris, humilhados e maltratados em praça pública.
O álcool não era distribuído em grande escala, pois sua produção era escassa, sendo seu consumo feito somente em rituais religiosos e festivos. Porém com a invenção dos destilados começa o aumento de sua produção e distribuição.
O álcool destilado surgiu em decorrência de melhoras socioeconômicas (tecnologias agrícolas e Grandes Navegações), que deram início às fabricações de bebidas com alto teor alcoólico. Os destilados eram comercializados com muito lucro e deu-se um aumento do consumo, tornando-se intenso e abusivo.
Mais adiante, com a Revolução Industrial (século XVIII) e a Revolução Científica (século XIX) foram isolados princípios ativos de substâncias químicas psicoativas, e as farmácias do mundo todo tiveram em suas prateleiras estimulantes e derivados do ópio para vendê-los livremente.
Com estas substâncias altamente concentradas, em enormes quantidades no mercado, venda livre nas farmácias e relativamente baratas, fez surgir um fenômeno de consumo em massa e em pouco tempo um grande número de dependentes químicos em toda parte mundo despontava.
A partir daí os dependentes químicos foram se proliferando, pois as cidades foram crescendo desordenadamente, as desigualdades sociais aumentavam e cresciam o número de pessoas desempregadas vivendo em situações altamente desfavoráveis, e cada vez mais apareciam pessoas dependentes de álcool, cocaína e opiáceos.
(*) Dr. Adão Leal — Médico Psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria e Psicogeriatra pelo PROTER (Instituto de Psiquiatria da USP).
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