por Coronel Celton Godinho (*)
Quando era ainda pequenino, na cidade onde nasci, gostava de acordar ouvindo o som do canto de passarinhos, soltos pelo céu, a comemorar a liberdade e a natureza. Era como uma orquestra muito bem afinada aos meus sentidos, não somente a audição, mas enviava uma mensagem de paz para a minha alma.
Os pássaros, como todas as criaturas na terra, para mim, são, sem dúvida, uma das maiores provas da existência de Deus. Eles simbolizam a inteligência, a leveza, a alma, o Divino e a liberdade. Por possuírem asas e o poder de voar, em muitos povos e culturas são considerados mensageiros entre o céu e a terra. No mundo espiritual, os pássaros são vistos como símbolos de conexão entre os homens e o Divino.
Há pássaros que cantam e assoviam, mas há os quietos, e os que preferem falar. Particularmente, prefiro aqueles que cantam.
Certa vez, meu pai ganhou uma grande quantidade de pássaros que cantam, de uma família de criadores, todos em gaiolas bem grandes, Eram sanhaços, trinca-ferros, curiós, canarinhos da terra, pássaros pretos, coleirinhos, estrelinhas, cardeais, pintassilgos, canários belgas e sabiás laranjeiras. Colocamos todos na área de serviço, dentro de nossa grande casa. Meu pai designou, para a missão de cuidar dos passarinhos, eu e meu irmão mais novo, no entanto, na prática, quem se incumbia das tarefas era somente eu. Era uma coisa que eu tinha prazer em fazer e parecia que eles conversavam comigo através de seus cantos.
Meu pai não gostava de ver pássaros em gaiolas, mas teve de aceitar, por terem sido de um grande amigo que havia falecido recentemente, e foi-lhe dado como um presente dos seus filhos.
Eu tratava dos bichinhos, mas tinha uma vontade louca de soltar todos. Acordava todas as manhãs com suas sinfonias, mas, na verdade, preferia vê-los cantar em liberdade. Meu pai também tinha o mesmo desejo, mas não podia soltá-los de imediato por causa de ser um presente de um amigo que tinha partido.
Certo dia, após algum tempo, perguntei ao meu pai se podia soltar todos numa mata próxima de nossa casa. Surpreendentemente, ele autorizou. Foi uma festa para mim, e com certeza maior alegria para eles. Após retirar todas as anilhas, já que eram legalizados, fiz a soltura.
Naquele simples ato de soltura, a gente percebe o valor da liberdade, de voar livre e solto no mundo, a cantar para as outras criaturas. Muitos deles voltavam para próximo de nossa casa e cantavam para nós, como a nos homenagear e agradecer.
Devemos ser livres como os pássaros! Liberdade plena!
Anotei o episódio em minhas memórias como uma lição de vida, confirmando que o nosso maior bem, depois de nossas vidas, é a nossa liberdade. Essa liberdade que foi conseguida por muitos povos, incluindo o nosso, às custas de muitas vidas humanas.
O interessante é que, daquele dia em diante, nunca consegui ver um pássaro preso em uma gaiola, seja da nossa fauna ou da exótica.
Nenhum ser vivente, obra de Deus, nasceu para viver preso!
Toda a natureza merece ouvir o canto livre dos pássaros!
(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar. Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro
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