De repente, mais do que de repente, as grandes potências futebolísticas do universo – leiam-se os grandes da Espanha, Inglaterra, Itália, França e Alemanha – manifestaram-se no sentido de fundar, organizar e fazer funcionar uma SUPERLIGA DE FUTEBOL MUNDIAL, com um calendário de competições que atenda a seus (novos) interesses.
A pretendida superliga comportaria 20 clubes renomados, verdadeiras seleções que se digladiariam com um objetivo maior: faturar, faturar e faturar. O futebol empresa, o futebol das sociedades anônimas, o futebol dos controles acionários por parte de milionários espalhados pelo planeta terra.
Vingando a ideia, dentre outras, as poderosas FIFA e UEFA perderiam prestígio e poder de mando no futebol mundial, Europa em particular. Gritaram e ameaçaram adotar medidas coercitivas que chegariam aos atletas futebolistas, razão maior da existência do esporte rei.
Da Inglaterra, de onde sairiam 6(seis) clubes do pelotão de 20(vinte), surgiu o primeiro grito contrário à ideia e de iniciativa do poderoso Manchester City, no que foi seguido por alguns outros. Aparentemente, a ideia, ou projeto, foi abortada ou pelo menos recolhida, aguardando momento apropriado para voltar à baila.
Importante salientar que o poderoso BAYER de Munick, desde o início, recusou-se a opor sua assinatura e alinhamento ao projeto apresentado, embora figurante ilustre e importante em qualquer listagem das potências futebolísticas mundiais.
A efeméride do momento atual permite raciocínios e reflexões as mais diversas no tocante àquele que já foi o esporte das multidões e que se transformou em um dos mais interessantes e lucrativos negócios da atualidade. O amor à camisa já era… respeito ao torcedor apaixonado, também.
Antigamente, as camisas dos clubes eram maravilhosas, atraentes e padronizadas. Cada clube tinha suas cores, seu uniforme principal e o secundário, para ocasiões especiais.
Hoje, as camisolas dos clubes, como se diz na terra de nossos descobridores, são infestadas por todo tipo de publicidade, incluindo golas, mangas, calções e meiões. Alteraram a legislação para permitir camisas fora dos calções, para ampliação do leque publicitário. O escudo ou distintivo do clube se transformou em mero detalhe. Enfim, parecem mais apropriadas para blocos carnavalescos. Uma pena…
No famigerado futebol – o brasileiro em especial – , com subserviência total à dona FIFA, temos a não menos gulosa CBF (que um dia foi CBD), as federações ESTADUAIS infestadas em grande parte de gulosos e cafajestes, completando-se a farra com as LIGAS REGIONAIS ou MUNICIPAIS.
A iniciativa e propósito da SUPERLIGA por parte dos maiores clubes do planeta terra pode ser revoltante, censurável e mesmo inconsequente, porém, tocou fundo na “ferida” já podre que tomou conta do futebol mundial. É um alerta.
Clubes e atletas são as razões maiores do futebol association. Nossos clubes (grandes, médios e pequenos) estão literalmente quebrados ou à deriva. Os formadores de atletas estão submetidos a uma legislação madrasta, que em pouco ou nada os ampara. Clubes pequenos, clubes amadores, figuram apenas nas estatísticas.
Dona FIFA, Confederações, Federações e Ligas, infestadas de dirigentes nem sempre confiáveis, de um empreguismo aviltante, de um poder abominável, de interesses escusos, de relacionamentos promíscuos, devem passar por profundos processos reformatórios, diminuindo-lhes o poder absoluto que detêm sobre o futebol.
Hoje o futebol virou artigo de luxo. Deixou de ser o esporte das multidões, da massa nos estádios.
Alguém se lembra da limitação, no passado, do número de contratações de estrangeiros por equipes de um mesmo país? Existem clubes, que não são poucos, que são verdadeiras seleções. Onde estão o equilíbrio e a motivação nas competições? Por que não investir e ‘fabricar’ seus próprios craques?
O futebol precisa, sob pena de desaparecer em grande parte, passar por profunda reformulação em todos os sentidos, visando humanizar-se: legislação com responsabilidade civil e penal dos dirigentes, delimitação de faixa salarial humana e decente de todos os envolvidos, delimitar com clareza remunerações e vantagens de empresários e agentes, fixação máxima do número de jogos por temporada e permitir e assegurar, com as cautelas necessárias, o poder decisório dos clubes.
(*) Ex-atleta
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